Publicado em 30 de março de 2022 às 11:15
O ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal), ordenou na tarde desta terça-feira (29) que a polícia fosse à Câmara colocar tornozeleira eletrônica no deputado Daniel Silveira (União Brasil-RJ). Moraes havia determinado que Silveira passasse a usar o dispositivo na última sexta (25), por descumprir medidas cautelares e fazer "repetidas entrevistas nas redes sociais e encontro com os investigados nos inquéritos".>
O deputado bolsonarista, porém, circulou sem tornozeleira eletrônica pela Câmara dos Deputados, disse que não cumpriria decisão "ilegal" do ministro e afirmou que Moraes tinha que ser "impichado e preso".>
Já na noite desta terça, a Polícia Legislativa isolou a área próxima ao gabinete de Silveira, o que impediu a imprensa de se aproximar do local. Momentos depois, o parlamentar saiu, acompanhando de assessores, e se encaminhou para o plenário da Câmara. Segundo a assessoria de Silveira, ele passou a madrugada na Câmara.>
Em sua decisão, Moraes também mandou que Silveira não participasse de "qualquer evento público em todo o território nacional". "A reiteração do descumprimento injustificado de quaisquer dessas medidas acarretará, natural e imediatamente, o restabelecimento da ordem de prisão", disse.>
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Silveira transitou pelo Salão Verde após falar na tribuna do plenário, em discurso no qual chamou o ministro de "sujeito medíocre que desonra o STF".>
Ele foi defendido por aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL), que qualificaram a ordem do ministro do Supremo de "afronta à democracia".>
À noite, em entrevista, Silveira foi questionado sobre a decisão de passar a noite no plenário. Inicialmente, disse que não era relevante. Mas, depois, disse que queria ver "até onde vai a petulância de alguém para de fato romper com os outros dois Poderes, porque aqui o plenário é inviolável".>
"O deputado é soberano no plenário. Eu quero saber até onde ele vai, se ele quer dobrar essa aposta. Se ele quer mesmo, de fato, mostrar que ele manda nos outros Poderes". O deputado afirmou ainda não ter falado com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), sobre o assunto e disse que a conversa aconteceria "quando ele [Lira] achar que é importante entender isso aqui".>
Moraes havia vedado em medida cautelar o contato de Silveira com outros investigados do inquérito do STF sobre milícias digitais.>
Na semana passada, porém, o deputado participou de ato de ativistas conservadores em São Paulo no qual estava o empresário Otávio Fakhoury, presidente do PTB-SP, que também é alvo da investigação. "Passados três dias desde a determinação, não há notícias, da parte da Polícia Federal ou da Seap/RJ [Secretaria de Administração Penitenciária], acerca de seu cumprimento, o que recomenda a adoção de providência que garanta a autoridade da decisão deste Supremo Tribunal Federal", disse o magistrado.>
"Diante do exposto, determino à autoridade policial e à Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Distrito Federal (Seape/DF) que procedam à fixação imediata do equipamento de monitoramento eletrônico do deputado Federal Daniel Silveira, facultado, se o caso, que este procedimento ocorra nas dependências da Câmara dos Deputados, em Brasília/DF, devendo esta corte ser comunicada imediatamente", afirmou.>
Silveira passou sete meses preso no ano passado por ofender integrantes do Supremo em vídeos nas redes sociais.>
Moraes ainda apontou na decisão que o parlamentar descumpriu medida cautelar que havia sido proferida anteriormente ao conceder entrevistas a canais nas redes sociais sem autorização judicial, como havia sido determinado.>
Nesta terça, após o discurso no plenário, o bolsonarista foi questionado por jornalistas se estaria descumprindo a ordem de Moraes. "Quem está descumprindo é o Alexandre, não sou eu não. A decisão dele não quer dizer nada. Para ele tomar uma decisão, o juiz tem um qualificativo da inércia e da imparcialidade. Ele é suspeito na causa. Deveria ter se declarado suspeito. Quando ele continua, ele é a vítima, ele é o acusador, ele é o julgador. Isso faz sentido juridicamente para você?", criticou.>
Ele defendeu ainda a inviolabilidade de deputados e senadores prevista na Constituição. "Nós temos tripartição dos Poderes. Se eu tiver que falar isso para o Alexandre de Moraes, que está na Suprema Corte, pode apagar a luz do Congresso, tirar todos os deputados e senadores que o Legislativo são eles. O juiz não está aqui para preencher lacuna legal não. Ele está para cumprir o que existe", ressaltou.>
O bolsonarista afirmou que ficaria na Câmara até que os deputados derrubassem a medida cautelar, "que está ilegal, em desconformidade com a Constituição".>
Silveira foi preso em 16 de fevereiro do ano passado por ordem de Moraes por ter publicado na internet um vídeo com ataques a ministros da corte - Moraes, por exemplo, foi chamado por ele de "Xandão do PCC". Três dias depois, a Câmara ratificou a decisão do STF por 364 votos a 130. A Constituição prevê que, caso um deputado seja preso, caberá à Câmara a palavra final sobre a manutenção da medida. Silveira foi solto após ordem de Moraes em novembro de 2021.>
Nesta terça, Silveira acusou o STF de dar continuidade a um inquérito de forma irregular. "Eles estão legislando em lacunas que não existem. Estão tomando o Poder Legislativo de assalto através de uma pessoa, Alexandre de Moraes, que tem que ser impichado e preso. Com toda certeza. Isso é crime contra a nação", afirmou.>
Na avaliação do deputado, o ministro manipula as leis. "Olha o que ele fez contra o Telegram. Você acha isso certo? Um único sujeito está provocando um colapso no Brasil. Autoritário ao extremo. Que não consegue debater sem o teleprompter na frente. Eu estou falando do ministro Alexandre de Moraes", afirma.>
Silveira afirmou ainda ter havido lobby de ministro do STF contra a PEC (proposta de emenda à Constituição) do voto impresso, derrotada pelo plenário da Câmara no ano passado. Além disso, acusou Lira de fazer parte de um suposto acordo para manter a ordem inicial de prisão de Moraes, de fevereiro do ano passado. "Todos que fizeram o acordo tinham acordo para me soltar no dia seguinte. Aí eu fiquei 11 meses atrás das grades. E quem paga essa porcaria?", disse, irritado.>
Ele defendeu que a Câmara vote a medida cautelar de Moraes que determinou o uso da tornozeleira eletrônica. "A lei diz: tem que obrigatoriamente passar pela Casa legislativa em votação nominal e aberta", afirmou. "Se a Casa decidir: não, quero a tornozeleira no Daniel, vamos transformar ele num vereador de Petrópolis (RJ) e Brasília. Pau que dá em Chico dá em Francisco. E a gente está em ano eleitoral, e o povo não está dormindo não, está vendo quem está de fato preservando a liberdade individual.">
Silveira afirma que usou metáforas para criticar Moraes e nega ter ameaçado o magistrado. "Surra de gato morto é figura de linguagem muito utilizada no Sul. Eu falo isso para minha filha de cinco anos e ela sai rindo", disse. O parlamentar também critica a forma como foi instaurada a investigação em que foi determinada sua prisão. "Desde o princípio o inquérito é inconstitucional. Sabe como nasce esse inquérito? Juiz pode abrir inquérito de ofício?", disse, em relação ao fato de o STF ter aberto a apuração sem ter sido provocado pela PGR (Procuradoria-Geral da República).>
A mesa diretora da Câmara segura há oito meses a recomendações do Conselho de Ética para suspensão do mandato do bolsonarista. São duas as punições decididas pelo colegiado, mas elas dependem do aval do plenário para serem aplicadas. A maior, de suspensão de seis meses do mandato, foi deliberada justamente pelos vídeos com xingamentos a ministros do STF.>
Há ainda outra suspensão de dois meses que tem como origem a gravação clandestina, pelo bolsonarista, de uma reunião interna do PSL durante a crise que rachou o partido no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro.>
Em outubro de 2019, o ex-PM divulgou o encontro, durante o qual o deputado Delegado Waldir (PSL-GO), então líder do partido na Câmara, chamou o presidente Jair Bolsonaro de "vagabundo".>
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