Publicado em 21 de outubro de 2021 às 10:57
O relatório final da CPI da Covid ainda apresenta pontos criticados por membros do grupo majoritário. Por isso, o texto deve passar por mudanças até a votação. >
Uma das questões a ser resolvida ainda envolve a crise de Manaus, que os senadores do Amazonas julgam ter recebido pouca atenção no documento, além de não responsabilizar nenhum agente local. >
O relatório final deve propor também novos indiciamentos, segundo senadores do grupo majoritário. >
Devem ser incluídos na lista o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Senah (Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários); o secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos Estratégico do Ministério da Saúde, Hélio Angotti Neto; e a servidora Regina Célia Silva de Oliveira, a fiscal de contrato na pasta na compra da vacina indiana Covaxin. >
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O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), apresentou nesta quarta-feira (20), o documento final do colegiado. A previsão é que a votação seja realizada na próxima terça-feira (26). >
Renan propôs o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e de mais 65 pessoas por ações e omissões na pandemia. Duas empresas também poderão ser responsabilizadas, se as recomendações forem aceitas. >
No entanto, ainda durante a sessão, o senador Eduardo Braga (MDB-AM) criticou que nenhum agente do Amazonas foi incluído entre os passíveis de responsabilização. >
A capital do estado sofreu durante a segunda onda da pandemia, no início deste ano, que resultou no colapso do sistema de saúde. Houve desabastecimento de oxigênio e pacientes morreram asfixiados. >
"É inaceitável que o relatório final não peça a punição de nenhum dos responsáveis pelo caos vivido no estado do Amazonas", afirmou Braga durante a sessão desta quarta. >
"Nosso estado foi transformado em um verdadeiro campo de testes, com experimentos com remédios ineficazes, falta de oxigênio, de leitos de internação e até de covas para enterrar os nossos conterrâneos", disse o senador. >
Segundo ele, "não há nenhuma dúvida" de que houve uma série de crimes. De acordo com Braga, criminosos precisam ser punidos. "Por isso, o Amazonas continua se sentindo injustiçado", afirmou. >
O assunto já havia sido objeto de discussão acalorada durante jantar na casa do senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), na noite anterior à apresentação do relatório. Braga defende a responsabilização do governador Wilson Lima (PSC). >
Senadores do grupo majoritário sugerem uma solução intermediária, na qual os nomes de Lima e do ex-secretário de Saúde Marcellus Campêlo sejam mencionados no relatório e que haja um aumento na referência aos eventos ocorridos no Amazonas. >
No entanto, para eles, não se deve propor o indiciamento do governador e do ex-gestor. Os congressistas dizem que a medida seria inócua, uma vez que os dois já são réus em processos. Campêlo, que prestou depoimento na comissão, chegou a ser preso. >
Senadores do grupo majoritário, porém, garantem que serão incluídas novas propostas de indiciamento. Uma delas é o reverendo Amilton Gomes de Paula, que intermediou a negociação de vacinas contra Covid-19. >
O reverendo entrou no radar da comissão pois teria recebido autorização do Ministério da Saúde para negociar a compra de 400 milhões de doses da AstraZeneca, por meio da empresa Davati Medical Supply. >
Essa autorização foi concedida por Laurício Monteiro Cruz, então diretor de Imunização da pasta, que acabou exonerado do cargo. >
Em depoimento à CPI da Covid, o reverendo reconheceu que foi recebido no ministério menos de quatro horas após ter enviado um email solicitando encontro. Disse que não conhecia ninguém na pasta e se recusou a divulgar se tinha contatos políticos que teriam ajudado a abrir as portas. >
Uma nova versão do relatório também deve conter a proposta de indiciamento da servidora Regina Célia, que foi fiscal de contrato da Covaxin, vacina desenvolvida pela indiana Bharat Biotech que o governo assinou contrato para adquirir, em negócio intermediado pela Precisa Medicamentos. >
Em depoimento à CPI, Regina Célia disse que não viu nada atípico no contrato da Covaxin e que não caberia a ela corrigir problemas no invoice do contrato -um dos principais problemas, que levou ao cancelamento do contrato. >
Antes disso, a servidora deu sequência ao contrato mesmo após o surgimento de indícios de irregularidades. >
Outro nome que senadores do grupo majoritário pretendem propor o indiciamento é o médico olavista Hélio Angotti Neto, secretário do Ministério da Saúde. >
Angotti Neto é defensor do uso dos medicamentos do chamado "kit Covid". Ele chegou a mobilizar sua equipe para tentar inserir os medicamentos sem eficácia comprovada no programa Farmácia Popular. >
O secretário também acompanhou comitiva do governo brasileiro a Israel para conhecer o spray nasal contra a Covid, que nunca saiu do papel. Ele também apoiou estudos com proxalutamida -droga testada no combate ao câncer e que pode ter levado pacientes da Covid-19 à morte. >
Angotti Neto e Regina Célia figuravam na lista de investigados formais pela CPI, que Renan afirmou repetidas vezes que se tratava de um bom indicativo para eventuais indiciamentos que seriam propostos. >
Outro nome de investigado que acabou não figurado nas propostas de indiciamento do relatório é o de Marcellus Campêlo, ex-secretário do Amazonas, que chegou a prestar depoimento na comissão. >
O QUE ACONTECE APÓS A VOTAÇÃO DO RELATÓRIO >
A CPI ainda tem algum poder após a apresentação o relatório final? >
Não, pois a aprovação e o encaminhamento do relatório constituem a etapa final da CPI. >
Como estratégia para acompanhar os desdobramentos das investigações da comissão, os senadores Omar Aziz (PSD-AM), que preside a CPI, e o vice-presidente, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), apresentaram a proposta de criação de um grupo permanente, a Frente Parlamentar Observatório da Pandemia. A iniciativa, porém, depende de aprovação no Senado.>
A quem o relatório é enviado? >
Cada uma das conclusões do relatório pode implicar no envio para órgãos distintos. No caso de ilícitos criminais ou civis, por exemplo, a competência para denunciar formalmente os investigados pela CPI ou de requerer mais investigações é do Ministério Público. >
No caso de autoridades com foro, caso do presidente, esse papel é desempenhado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) >
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