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Comissão da Câmara aprova convite para que Moro explique mensagens

Comissão da Câmara aprova convite para que Moro explique mensagens

O requerimento foi apresentado por Darcísio Perondi (MDB-RS), com caráter de formalidade - para evitar que fosse votado um requerimento da oposição, que poderia levar a uma convocação

Publicado em 26 de junho de 2019 às 21:03

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Darcísio Perondi, deputado federal. (Valter Campanato/Agência Brasil)

A Comissão de Constituição e Justiça da Câmara aprovou nesta quarta-feira (26) um convite para o ministro da Justiça, Sergio Moro, comparecer ao colegiado. Assim como aconteceu no Senado na semana passada, a ideia é que Moro dê explicações sobre as mensagens trocadas entre ele e procuradores da Lava Jato, reveladas pelo site The Intercept Brasil.

O requerimento foi apresentado por um governista, Darcísio Perondi (MDB-RS), com caráter de formalidade – para evitar que fosse votado um requerimento da oposição, que poderia levar a uma convocação.

O presidente da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), já havia combinado com a equipe de Moro que a audiência pública seria realizada na próxima terça-feira (02). Antes, estava combinado que o ministro iria a uma sessão conjunta de diversas comissões da Casa nesta quarta-feira (26). Ele, no entanto, desmarcou o compromisso em razão de uma viagem aos Estados Unidos.

Moro esteve no Senado no dia 19 de junho. O ambiente é considerado mais controlado que a Câmara, onde há mais oposicionistas na comissão e o clima costuma ser mais hostil.

Aos senadores, o ministro afirmou que não pode atestar a veracidade das mensagens por não ter mais os arquivos salvos, mas não chegou a negar que as tenha enviado. Também disse que sempre agiu de acordo com as regras, refutou a possibilidade de ter feito conluio com o Ministério Público e colocou-se como alvo de ataque hacker de um grupo criminoso organizado.

Nas conversas publicadas pelo site Intercept, Moro sugere ao Ministério Público Federal trocar a ordem de fases da Lava Jato, cobra a realização de novas operações, dá conselhos e pistas, antecipa ao menos uma decisão judicial e propõe aos procuradores uma ação contra o que chamou de "showzinho" da defesa do ex-presidente Lula.

Segundo a legislação, é papel do juiz se manter imparcial diante da acusação e da defesa. Juízes que estão de alguma forma comprometidos com uma das partes devem se considerar suspeitos e, portanto, impedidos de julgar a ação. Quando isso acontece, o caso é enviado para outro magistrado.

Após ser anunciado como um dos principais nomes do novo governo, o ex-juiz acumulou derrotas em menos de seis meses mandato. Sob desgaste devido à divulgação de mensagens do período da Lava Jato, ainda teve que aguardar a cautela de Bolsonaro em defendê-lo abertamente.

O presidente chegou a manter silêncio por três dias e, no último sábado (15), embora tenha defendido o legado de Moro, afirmou que não existe confiança 100%. "Meu pai dizia para mim: Confie 100% só em mim e minha mãe", disse Bolsonaro.

Filho mais velho do presidente, o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) afirmou na audiência no Senado que o governo "nunca cogitou" tirar Moro do cargo. "Isso só passa na cabeça de quem não tem nada na cabeça", disse à reportagem.

Na sessão, Moro citou como exemplo de apoio do presidente uma medalha concedida a ele na semana passada e um convite para ir a um jogo do Flamengo, em Brasília.

Sobre a declaração de Bolsonaro de que não há confiança 100%, Moro disse que esta é uma forma normal de se expressar. "Não vejo nada problemático neste tipo de afirmação", disse Moro.

CASO LULA

A Segunda Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) decidiu nesta terça-feira (25) negar o pedido de soltura do ex-presidente Lula, 73, preso desde abril de 2018 após ser condenado por corrupção e lavagem de dinheiro no caso do tríplex de Guarujá (SP).

O colegiado também adiou a discussão sobre a alegada suspeição de Sergio Moro, reforçada pela defesa do petista após a divulgação das mensagens entre o ex-juiz e autoridades da Operação Lava Jato.

Por 3 votos a 2, uma proposta apresentada pelo ministro Gilmar Mendes no início da sessão, de soltar o ex-presidente imediatamente, foi derrotada. O Supremo deve voltar a analisar o caso no segundo semestre.

Os ministros Edson Fachin, Celso de Mello e Cármen Lúcia votaram contra a soltura imediata de Lula. Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski votaram a favor.

Os magistrados discutiram um pedido de habeas corpus formulado pela defesa de Lula, no qual se alega a falta de imparcialidade de Moro na condução do processo do tríplex.

O julgamento deve ser retomado no segundo semestre deste ano.

RESUMO DOS VAZAMENTOS EM 3 PONTOS

1. Mensagens reveladas pelo site The Intercept Brasil indicam troca de colaboração entre Moro, então juiz, e Deltan, procurador e coordenador da força-tarefa da Lava Jato;

2. Segundo a lei, o juiz não pode auxiliar ou aconselhar nenhuma das partes do processo;

3. Vazamento pode levar à anulação de condenações proferidas por Moro, caso haja entendimento que ele era suspeito (comprometido com uma das partes). Isso inclui o julgamento do ex-presidente Lula.

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