Publicado em 2 de abril de 2020 às 18:13
A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) admitiu, em ofício distribuído a universidades, que um erro em relação ao novo modelo de concessão de bolsas determinado pela agência em março, que provocou o corte de cerca de 6.000 bolsas do sistema.>
De acordo com o documento, houve um erro na contabilização de bolsas distribuídas com os novos critérios.>
Benefícios que haviam atingido em fevereiro sua duração máxima de vigência haviam sido classificados no sistema como "empréstimo" --bolsas que seriam transferidas de um programa de pós-graduação para outro assim que as pesquisas em andamento fossem encerradas.>
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A Capes, então, contabilizou equivocadamente o saldo de bolsas.>
"Com a medida de correção, serão restituídas cerca de 6.000 bolsas que poderão ser utilizadas para a inclusão de novos bolsistas pelos programas", diz o ofício que chegou aos pró-reitores de pós-graduação nesta quinta-feira (2).>
Após a admissão do erro, essas bolsas deverão ser reativadas nos programas de pós-graduação no próximo dia 4.>
Pesquisadores já apontavam inconsistências nos quantitativos e denunciavam cortes, o que vinha sendo negado pela Capes e pelo próprio ministro Abraham Weintraub --o órgão é ligada ao MEC (Ministério da Educação).>
O novo modelo de concessão, que levou a críticas de pesquisadores, foi estipulado em portaria de março. Esse ato alterou regras que a própria Capes havia publicado em fevereiro.>
A alteração veio após intervenção de Weintraub para que houvesse impacto negativo maior na área de humanas.>
Na quarta-feira (1º), o ministro afirmou que houve aumento de bolsas. Ele culpou a imprensa e a esquerda por criarem mentiras.>
"No dia da mentira, mídia/esquerda continuam contando mentiras! Não houve corte no total de bolsas ou interrupção nas que estão em andamento", escreveu ele no Twitter.>
"Cursos bem avaliados ganharam bolsas. No total, houve um aumento de 6.000 novas bolsas, sendo 2.600 para estudar epidemias (coronavírus)".>
No dia 27 de março, Weintraub havia publicado vídeo em que se falava em um incremento de 3.386 bolsas.>
Em nota, a Capes informou que constatou uma inconsistência técnica entre o número de bolsas tipo empréstimo e o divulgado.>
"Esta inconsistência impediu o cadastramento de bolsista, tendo sido interpretada como corte de bolsas por alguns programas de pós-graduação", afirmou na nota.>
O órgão afirmou que, com a restituição das cerca de 6.000 bolsas, o saldo total é de aumento do fomento financiado pela agência. Porém, a Capes não informou o panorama geral de concessão.>
Em fevereiro, a Capes havia criado um novo sistema para concessão de bolsas de pesquisa.>
O modelo estipulou critérios que passam pela qualidade dos programas, quantidade de titulados e IDHM (Índice de Desenvolvimento Humano Municipal) do local do curso.>
Havia, no entanto, uma trava para que nenhum programa perdesse mais do que 10% das bolsas. Esse teto foi praticamente eliminado com uma nova portaria, publicada no dia 18 de março, feita a pedido de Weintraub.>
Em linhas gerais, as regras fazem com que programas de pós-graduação com melhor desempenho nesses critérios ganhem bolsas em detrimento de programas com avaliação mais fraca.>
Contudo, o novo modelo havia mantido distorções inclusive em cursos com nota máxima: o programa em Ecologia e Evolução da UFG (Universidade Federal de Goiás), por exemplo, tem nota 7 (máxima) na avaliação da Capes e, ainda assim, perdeu nove bolsas de doutorado.>
A Capes se negou a apresentar o quadro geral de distribuição das bolsas. Pesquisadores e entidades representativas não receberam as informações, bem como a reportagem, que também solicitou os dados.>
Mais de 60 entidades científicas, congressistas e até o MPF (Ministério Público Federal) pediram a revogação da portaria que determinou o novo modelo. A Procuradoria ressalta que o governo "não divulgou o número exato de bolsas canceladas".>
A alteração das regras foi feita sem diálogo com pesquisadores, que também reclamam da falta de transparência com a distribuição atual.>
Como a Capes não informou esse quadro nacional, de quem ganhou e perdeu, não é possível contabilizar os dados com segurança --situação reforçada com a admissão de erro.>
"Tínhamos algumas estimativas sobre a distribuição das bolsas com base no primeiro modelo [estipulado em fevereiro] mas, com a nova portaria, as contas não batem", diz o professor Carlos Henrique de Carvalho, presidente do Foprop (Fórum Nacional de Pró-Reitores de Pesquisa e Pós-Graduação).>
A entidade também tem solicitado à Capes o quadro geral de bolsas.>
"O momento para alterar a regra não poderia ser o mais inadequado, uma vez que tanto refez a divulgação de quantitativos feita no mês anterior, quanto se deu em meio à situação anômala de uma pandemia", disse o presidente da Andifes (entidade que reúne os reitores das universidades federais), João Carlos Salles.>
A ANPG (Associação Nacional de Pós-Graduandos) realizou uma contabilização preliminar sobre as perdas de bolsas que já apontava 3.000 bolsas a menos no sistema.>
Paralelo ao modelo de concessão, a Capes lançou nesta quinta-feira (2) um programa que prevê 2.600 bolsas extras para projetos que lidam direta ou indiretamente com trabalhos envolvendo o estudo da Covid-19.>
A ação, citada pelo ministro nas redes sociais, prevê investimento de R$ 200 milhões nos próximos quatro anos.>
Após o corte de 7.590 bolsas promovido pelo governo Jair Bolsonaro em 2019, a Capes passou a fomentar 84.663 bolsas de pesquisas de mestrado, doutorado e pós-doutorado.>
Após a nova portaria, o governo chegou a divulgar um suposto aumento de 42% nas bolsas, mas não detalhou como chegou a esses números.>
A Capes afirmou que financia neste ano 88.208 bolsas no país. Esses números não encontram confiança entre os pesquisadores e entidades ligada à pós-graduação, uma vez que o órgão não apresenta o quadro geral e o orçamento do órgão em 2020 é menor do que o de 2019.>
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