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Bretas, juiz afastado da Lava Jato, agora tenta ser coach jurídico nas redes

Bretas, juiz afastado da Lava Jato, agora tenta ser coach jurídico nas redes

Marcelo Bretas mira reposicionamento de imagem como palestrante e professor de curso ainda não lançado sobre prática jurídica

Publicado em 2 de janeiro de 2024 às 14:47

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SÃO PAULO - Conhecido por sua atuação na Operação Lava Jato, Marcelo Bretas, juiz titular da 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro, tem apostado na carreira de coach jurídico depois de ser afastado do cargo sob suspeita de conduta irregular.

O magistrado mira um reposicionamento de imagem como professor e palestrante. Um site em seu nome divulga um curso sobre prática jurídica com previsão de lançamento em março. No Instagram, ele apresenta vídeos sobre liderança e direito, além de abordar assuntos relacionados a "Deus e Família".

O juiz afastado Marcelo Bretas, em foto publicada em rede social
O juiz afastado Marcelo Bretas, em foto publicada em rede social. (Marcelo Bretas no Instagram)

No site, Bretas destaca sua atuação como professor, palestrante, juiz federal e escritor — ele é autor do livro "A privacidade e o poder investigatório", sobre proteção do direito à privacidade em comunicações telefônicas ou dados telemáticos.

Bretas ressalta sua formação cristã, diz que é "baterista de uma igreja evangélica na zona sul da cidade do Rio de Janeiro" e que é conhecido por "citar trechos bíblicos históricos em algumas de suas sentenças".

Apesar de destacar a atuação como professor, não há menção a nenhum vínculo atual com instituições de ensino, mas referências a participações em palestras, simpósios e conferências.

Segundo o site, o magistrado vai lançar em breve um curso sobre prática jurídica para estudantes de direito ou advogados recém-formados. O curso promete abordar "desde os fundamentos da prática jurídica até habilidades avançadas de comunicação e oratória no tribunal".

A conta de Bretas no Instagram, com mais de 95 mil seguidores, teve mudança no conteúdo das postagens após o afastamento do magistrado pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) no ano passado. Ele foi afastado até o fim das investigações de três reclamações públicas, que tramitam em sigilo.

Duas delas têm como origem a delação premiada de advogados que citam negociações irregulares do magistrado na condução de processos. A terceira tem a ver com uma queixa do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes (PSD), sobre atuação política de Bretas, que teria favorecido o governador cassado do Estado Wilson Witzel na eleição de 2018.

As postagens em estilo coach tratam de temas ligados a liderança, direito e religião.

Há publicações com "dicas para ter um pensamento analítico e reflexivo" e como "aprimorar suas habilidades de liderança". Aparecem também reflexões bíblicas, a exemplo de Tiago 1:5, que o magistrado cita para tratar da importância de "buscar sabedoria".

Postagens mais recentes no perfil têm comentários de pessoas que pedem Bretas no Senado ou no STF (Supremo Tribunal Federal).

Em uma publicação do dia 14 de dezembro sobre a formação de líderes, um seguidor critica a atuação do senador e ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro (União Brasil-PR) na sabatina em que Flávio Dino, atual ministro da Justiça, foi aprovado para integrar o STF. Sem citá-lo, o seguidor chama Moro de "verdadeiro Judas" e se refere a Dino como "Capeta Comunista".

No dia da sabatina, Moro foi alvo de críticas ao ser fotografado abraçando Dino, visto como opositor de bolsonaristas e de aliados do ex-juiz. Na mesma ocasião, vazaram imagens de uma troca de mensagens entre Moro e um advogado, nas quais se lê que Deltan Dallagnol, ex-procurador da Lava Jato, estaria desesperado. A reação de Deltan seria devido à incerteza quanto ao posicionamento do ex-juiz, que não declarou se votaria a favor da nomeação de Dino para o STF.

Assim como Bretas, tanto Moro quanto Deltan se destacaram no noticiário pela participação na Lava Jato e depois tiveram a atuação contestada. A operação teve início em março de 2014. Ela investigou esquemas de lavagem e desvio de dinheiro envolvendo empreiteiras, políticos e a Petrobras.

Bretas já foi conhecido como "Moro do Rio". Ele começou a atuar na Lava Jato em 2015, quando parte da Operação foi para a 7ª Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Sua atuação como magistrado foi marcada pela influência religiosa, assim como por contestações quanto a essa interferência nos julgamentos.

Um exemplo é a sentença que decretou a prisão preventiva do ex-governador Sérgio Cabral, na qual se lê o trecho bíblico: "'Por que será que as pessoas cometem crimes com tanta facilidade? É porque os criminosos não são castigados logo'" (Eclesiastes 8:11).

Na época, a defesa de Cabral solicitou o afastamento de Bretas pela conduta. O pedido foi negado. Em março de 2023, a defesa pediu a suspeição do magistrado e a anulação das condenações, alegando imparcialidade. Em julho, a 1ª Turma Especializada do Tribunal Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES) negou pedidos de suspeição do juiz no caso.

Procurado pela reportagem para falar sobre seu reposicionamento de imagem como palestrante e professor, Marcelo Bretas afirmou acreditar "que compartilhar experiências e conhecimentos é uma forma de contribuir para o debate público e para o amadurecimento da sociedade".

Ele também afirmou que se dedica às atividades de professor e palestrante enquanto aguarda, "com serenidade, a finalização dos procedimentos administrativos em curso no CNJ".

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