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Bolsonaro perde visto de chefe de estado e poderá ser deportado dos EUA

Bolsonaro perde visto de chefe de estado e poderá ser deportado dos EUA

Ex-presidente está na Flórida, onde foi internado nesta segunda. Sem visto válido, ganha força a ideia de deputados americanos que pretendem pedir a deportação de Bolsonaro após os ataques terroristas ocorridos em Brasília no domingo (8)

Publicado em 9 de janeiro de 2023 às 17:55- Atualizado há um ano

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Presidente Jair Bolsonaro
O ex-presidente Jair Bolsonaro. (Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil)

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que está na Flórida desde dezembro, não pode permanecer nos Estados Unidos com o visto de chefe de Estado que usou para entrar no país. Se não procurar o governo americano em até 30 dias para mudar a categoria do visto que o autoriza permanecer em solo americano, como um visto de turista, fica em situação irregular e pode ser até deportado para o Brasil.

A informação é do porta-voz do Departamento de Estado (responsável pela diplomacia no governo americano), Ned Price, que fez a ressalva de que não poderia falar especificamente do caso de Bolsonaro, uma vez que a situação dos vistos de indivíduos é uma informação confidencial. Bolsonaro foi para o país de férias e, desde a tarde desta segunda, está internado em um hospital na Flórida.

Com a perda da visto, ganha força a ideia de deputados americanos que pretendem se reunir nesta semana para discutir um pedido de deportação do ex-presidente brasileiro. O democrata Raúl Grijalva afirmou à Folha de S.Paulo que boa parte da bancada do partido apoia a ideia de tirar o líder de extrema direita do país para que ele possa ser investigado e eventualmente julgado por seu papel nos ataques contra a democracia no Brasil.

"De forma geral, se alguém entra nos EUA com um visto A, que é essencialmente um visto diplomático para diplomatas estrangeiros ou chefes de Estado, se um portador de um visto A não está mais envolvido em assuntos oficiais relacionados aos seus governos, cabe ao portador do visto sair dos EUA ou pedir uma mudança de outro tipo de autorização migratória em até 30 dias", disse.

"Se não tem motivo para estar nos Estados Unidos, qualquer indivíduo está sujeito a ser retirado pelo Departamento de Segurança Interna."

A presença de Bolsonaro no país se tornou alvo de pressão de parlamentares democratas devido ao ataque à democracia empreendido por apoiadores em Brasília neste domingo (8). Deputados pretendem se reunir nesta semana para discutir um pedido de deportação do ex-presidente.

Bolsonaro foi internado nesta segunda-feira (9) em Orlando, após sentir dores abdominais, segundo aliados. A ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro confirmou a hospitalização do ex-presidente nas redes sociais e pediu orações. Procurado, o hospital ainda não informou qual a situação de saúde do ex-mandatário.

O assessor de Segurança Nacional dos Estados Unidos, Jake Sullivan, afirmou nesta segunda que a Casa Branca não recebeu nenhuma solicitação formal do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acerca do ex-presidente. O assessor também negou qualquer contato entre Casa Branca e Bolsonaro, que foi para os EUA às vésperas do fim de seu mandato. Ele reiterou a confiança nas instituições do Brasil.

"Acreditamos que as instituições democráticas do Brasil manterão a vontade do povo, o líder eleito de forma livre no Brasil vai governar o Brasil e não será dissuadido pelas ações dessas pessoas que agrediram as sedes de governo em Brasília", disse Sullivan.

Segundo ele, Biden e Lula devem se falar por telefone em breve. O presidente brasileiro também deve viajar a Washington ainda no começo deste ano.

Uma solicitação formal do governo brasileiro seria o primeiro passo para uma possível extradição de Bolsonaro, segundo especialistas ouvidos pela Folha de S.Paulo. O pedido precisaria ser feito pelo Judiciário e, então, encaminhado ao governo americano - que poderia ou não aceitá-lo.

Segundo o deputado democrata Raúl Grijalva, a  ideia é pedir à Casa Branca que inicie o processo de deportação. "É preciso tirar Bolsonaro dos EUA para que enfrente no Brasil as consequências de ter instigado os ataques à democracia no Brasil, de forma semelhante ao que o ex-presidente Donald Trump fez nos EUA e que culminou [na insurreição] no Capitólio", disse Grijalva. "Os brasileiros e a democracia do país têm o direito de julgar a responsabilidade de Bolsonaro."

Outros dois congressistas pediram publicamente a deportação de Bolsonaro -Joaquín Castro, que representa a minoria democrata no Comitê de Hemisfério ocidental, e Alexandria Ocasio Cortez (AOC). À CNN Castro afirmou que "os EUA não deveriam ser um refúgio para o autoritário que inspirou terrorismo doméstico no Brasil". Já AOC, no Twitter, afirmou: "Os EUA precisam deixar de dar guarida a Bolsonaro".

De acordo com Grijalva, basta uma decisão da Casa Branca e do Departamento de Segurança Doméstica, órgão que, para o democrata, decide "deportar inúmeras pessoas todos os dias, inclusive brasileiros pedindo refúgio com motivos legítimos para tal, mas que estão encurralados na fronteira com o México".

"O ex-presidente do Brasil não deveria ter o luxo de estar de férias nos EUA, tirando fotos da Flórida e fingindo que não está envolvido nos ataques à democracia. Ele precisa ser responsabilizado", disse. "Devemos fazer com ele o que o governo Trump sempre fazia com migrantes -removê-lo do país."

O democrata afirma que essa seria uma oportunidade para o presidente Joe Biden provar que sua defesa da democracia é consistente. O presidente americano realizará a segunda edição da Cúpula para a Democracia, nos EUA, no final de março. "O que aconteceu no dia 6 de janeiro de 2021 nos EUA está sendo exportado, e o Brasil é o exemplo mais gritante; Biden deveria enviar a mensagem de que estamos comprometidos com a defesa da democracia não apenas no nosso país."

Para o congressista, as ligações entre as duas insurreições são inegáveis - elas compartilham a mesma narrativa de eleição roubada e fomentam ressentimentos políticos e culturais, além de mentiras que "criaram o que vimos neste domingo em Brasília e o que vimos no 6 de Janeiro dois anos atrás".

"Os esforços para responsabilizar Trump no sistema judicial dos EUA por seu papel nos ataques contra o Capitólio continuam. Até agora, ele conseguiu evitar a responsabilização", disse.

Grijalva afirmou ainda que a extradição também seria uma opção, caso o governo brasileiro faça um pedido. "O Brasil tem uma democracia que merece ser defendida, e estamos prontos para ajudar."

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