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Bolsonaro diz que Alemanha cancelou lockdown, mas distorce motivo

Bolsonaro diz que Alemanha cancelou lockdown, mas distorce motivo

A líder alemã, Angela Merkel recuou por falta de planejamento para fechamento durante a Semana Santa; presidente alega que ela citou ônus da medida

Publicado em 25 de março de 2021 às 17:16- Atualizado há 3 anos

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O presidente Jair Bolsonaro após reunião com governadores e chefes dos poderes
O presidente Jair Bolsonaro após reunião com governadores e chefes dos poderes. (Marcos Corrêa/PR)

Um dia depois de ter sido cobrado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por uma correção de rumo no combate à pandemia, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) comentou a decisão do governo alemão de cancelar uma paralisação rígida do país durante a Semana Santa.

O presidente, no entanto, omitiu o motivo do recuo do governo alemão: o aviso sumário não dava tempo para o cancelamento de planos da população, e por isso foi revisto. Em vez disso, ele alegou que a mudança ocorreu porque os efeitos do confinamento seriam mais graves do que as consequências do vírus -algo que não foi dito pela chanceler (equivalente a primeira-ministra) do país.

"A Angela Merkel ia ter um lockdown rigoroso lá e ela cancelou, pediu desculpas. Ela falou lá, segundo a imprensa, que os efeitos do fechar tudo são muito mais graves do que os efeitos do vírus, palavras delas, não é minha não", disse Bolsonaro, em conversa com apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada.

A declaração de Bolsonaro foi transmitida por um site simpático ao presidente.

O presidente se referiu ao anúncio feito por Merkel na quarta-feira (24), quando ela recuou dos planos de promover um confinamento total durante o feriado de Páscoa, anunciados um dia antes.

A líder alemã afirmou que a decisão de elevar as restrições fazia sentido, "porque é absolutamente necessário desacelerar e reverter a terceira onda da pandemia", mas não houve planejamento prévio suficiente.

Com o número de novos casos em alta há quatro semanas consecutivas, o governo havia decretado que todas as lojas ficariam fechadas de 1º a 5 de abril, com exceção de mercados no sábado, dia 3, e as cerimônias religiosas presenciais, suspensas.

Mas as medidas foram questionadas por epidemiologistas, políticos e empresários, por motivos diferentes, levando Merkel a recuar. "A ideia teve bons motivos, mas não conseguiu concretizar-se bem no curto espaço de tempo disponível", disse ela.

Apesar do recuou de Merkel, a Alemanha conta com outras políticas de distanciamento social ainda em vigor.

O país europeu apresenta números de infecções e de mortes inferiores aos do Brasil, hoje considerado o epicentro da Covid-19 no mundo, inclusive com a circulação de uma variante mais transmissível.

Com cerca de 38% da população brasileira, a Alemanha registrou em 13 meses de pandemia pouco mais de 75 mil mortes decorrentes da Covid, 25% dos 301 mil mortos registrados no Brasil no mesmo período.

Bolsonaro é contrário às ações de distanciamento social adotadas por governadores. O presidente frequentemente ataca os gestores locais por essas medidas que, segundo ele, afetam a economia do país.

A fala de Bolsonaro contra a política de lockdown -confinamento rígido de cidadãos para evitar a disseminação do vírus- ocorre um dia depois de uma reunião entre os chefes dos três poderes para tentar esboçar uma reação diante do momento mais crítico da pandemia no Brasil.

Nos últimos dias, o país tem contabilizado recordes diários no número de mortos pela doença, com os sistemas hospitalares nos estados à beira do colapso.

Na reunião no Palácio da Alvorada, com a presença dos presidentes da Câmara, Arthur Lira, do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), e de um grupo de governadores, Bolsonaro anunciou a criação de um comitê para coordenar as ações de enfrentamento à pandemia.

O encontro foi pensado pelo Palácio do Planalto como uma forma de mostrar reação do governo na crise sanitária, uma vez que o aumento das mortes e a postura negacionista de Bolsonaro têm afetado a popularidade do presidente.

"A vida em primeiro lugar. Resolvemos entre outras coisas, que será criado uma coordenação junto aos governadores com o sr. presidente do Senado Federal", disse o presidente na ocasião.

Mas no final da tarde de quarta Lira decidiu subir o tom contra o governo.

Ele afirmou que, se não houver correção de rumo, a crise pode resultar em "remédios políticos amargos" a serem usados pelo Congresso, alguns deles fatais.

É a primeira vez que Lira faz menção, mesmo que indireta e sem especificar, à ameaça de CPIs e de impeachment contra o presidente da República, em um momento em que Bolsonaro tenta atrair Legislativo e Judiciário para a coordenação da pandemia.

"Estou apertando hoje um sinal amarelo para quem quiser enxergar", disse Lira, afirmando que o caos na saúde gerado pela crise de Covid-19 precisa ser um fator de conscientização das autoridades envolvidas no sentido de "que o momento é grave" e que "tudo tem limite".​

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