Publicado em 6 de abril de 2020 às 16:50
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) avalia demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e considera substituí-lo por um nome técnico que seja defensor da utilização da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com coronavírus. >
Nesta segunda-feira (6), o presidente almoçou com os ministros palacianos e com o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), defensor do uso da substância e também cotado para a vaga. Segundo assessores presidenciais, o parlamentar tem ajudado a encontrar um nome para o posto.>
Nos últimos dias, Bolsonaro tem se estranhando com Mandetta e chegou a afirmar que falta humildade ao seu auxiliar e que ele extrapolou.>
O presidente tem divergido, entre outras coisas, das medidas de isolamento social defendidas por Mandetta para combater a pandemia do coronavírus. Bolsonaro adotou um discurso contrário ao fechamento de comércio nos estados, enquanto Mandetta defende que as pessoas fiquem em casa.>
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Após essa declaração, dada na quinta-feira (2), o ministro reagiu em seguida e disse: "Não comento o que o presidente da República fala. Ele tem mandato popular, e quem tem mandato popular fala, e quem não tem, como eu, trabalha".>
Nos bastidores, Mandetta vem dizendo a aliados que não pretende pedir demissão e só sairá do cargo por decisão de Bolsonaro.>
Neste domingo, por exemplo, sem citar nomes, Bolsonaro disse que integrantes de seu governo "viraram estrelas" e que a hora deles vai chegar. Em uma ameaça velada de demiti-los, disse não ter "medo de usar a caneta".>
"[De] algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona", afirmou Bolsonaro.>
"Não tenho medo de usar a caneta, nem pavor. E ela vai ser usada para o bem do Brasil. Não é para o meu bem. Nada pessoal meu", disse o presidente.>
Além de Mandetta, outros ministros têm discordado de Bolsonaro nessa crise. Conforme a Folha de S.Paulo mostrou, Sergio Moro (Justiça) e Paulo Guedes (Economia) uniram-se nos bastidores no apoio ao colega da Saúde e na defesa da manutenção das medidas de distanciamento social e isolamento da população.>
O trio formou uma espécie de bloco antagônico, com o apoio de setores militares, criando um movimento oposto ao comportamento do presidente.>
Segundo pesquisa Datafolha realizada na semana passada, a aprovação da condução da crise do coronavírus pelo Ministério da Saúde disparou e já é mais do que o dobro da registrada por Bolsonaro. Governadores e prefeitos também têm avaliação superior à do presidente.>
Na rodada anterior, feita de 18 a 20 de março, a pasta conduzida por Mandetta tinha uma aprovação de 55%. Agora, o número saltou para 76%, enquanto a reprovação caiu de 12% para 5%. Foi de 31% para 18% o número daqueles que veem um trabalho regular da Saúde.>
Já o presidente viu sua reprovação na emergência sanitária subir de 33% para 39%, crescimento no limite da margem de erro. A aprovação segue estável (33% ante 35%), assim como a avaliação regular (26% para 25%).>
A relação entre o ministro e Bolsonaro vem numa escalada de tensão e subiu no final de março, quando o presidente resolveu dar um passeio pela periferia de Brasília, contrariando todas as orientações do Ministério da Saúde. O giro de Bolsonaro ocorreu um dia após Mandetta ter reforçado a importância do distanciamento social à população nesta etapa da pandemia do coronavírus.>
Neste domingo, Bolsonaro, que já demitiu quatro ministros (Gustavo Bebianno, Ricardo Vélez, Santos Cruz e Osmar Terra) e deslocou outros três (Floriano Peixoto, Gustavo Canuto e Onyx Lorenzoni) desde que assumiu o poder, em 2019, disse ter errado na escolha de alguns deles.>
"Escolhi, critério técnico, errei alguns, alguns já foram embora. Estamos vivendo agora um novo momento. Uma crise, chegou no mundo todo, não deixou o Brasil de fora. O outro problema que vivemos é a questão do desemprego", disse Bolsonaro.>
Henrique Mandetta (Saúde)>
Paulo Guedes (Economia)>
Sergio Moro (Justiça)>
Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia)>
Tereza Cristina (Agricultura)>
Abraham Weitraub (Educação)>
Ricardo Salles (Meio Ambiente)>
Arthur Weintraub (assessor especial da Presidência)>
Onyx Lorenzoni (Cidadania)>
Ernesto Araújo (Relações Exteriores)>
Augusto Heleno (GSI)>
Regina Duarte (Secretária Especial da Cultura)>
Damares Alves (Mulher, Direitos Humanos e Família)>
Jorge Oliveira (Secretaria-Geral)>
Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional)>
André Mendonça (Advocacia-Geral da União)>
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