Publicado em 30 de novembro de 2020 às 11:00
A estreia da cota racial nas eleições, aliadas à já existente cota de gênero, não conseguiu mudar de forma significativa o cenário nas grandes cidades brasileiras: prevaleceu a eleição de homens brancos para os 94 municípios com mais de 200 mil habitantes, incluídos aí 24 capitais. >
Os resultados do segundo turno, divulgados na noite deste domingo (29), mostram que só dois candidatos que se declararam pretos e 15 que se declararam pardos foram eleitos prefeitos nesses grandes centros urbanos, o que representa 20% do total.>
A relação é praticamente a mesma se comparada com as eleições de 2016 - 18 negros e 76 brancos. Não há como comparar com outras eleições porque a Justiça Eleitoral passou a perguntar a cor e raça do candidato a partir das eleições de 2014.>
Os dois únicos candidatos autodeclarados pretos a vencerem em grandes cidades em 2020 foram Professor Lupércio (Solidariedade), em Olinda (PE), ainda no primeiro turno, e Suellen Rosim (Patriota), em Bauru (SP), no segundo turno.>
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Pretos e pardos somam 56% da população brasileira.>
Por determinação do Supremo Tribunal Federal, as atuais eleições foram as primeiras em que vigorou a exigência de que partidos distribuam a verba de campanha de forma proporcional aos candidatos negros e brancos que lançarem. A exigência relativa às mulheres já existe desde 2018.>
Na divisão por gênero, a única prefeita de capital eleita foi Citnhia Ribeiro (PSDB), em Palmas. A capital do Tocantins, porém, tem menos de 200 mil eleitores e não figura na lista das maiores cidades do país, aquelas em que há possibilidade de segundo turno.>
Ou seja, na lista das 94 maiores cidades - em decorrência do apagão, Macapá terá eleição apenas em dezembro -, nenhuma mulher foi eleita.>
Entre as derrotadas neste domingo estão Manuela D'Ávila (PC do B), em Porto Alegre, e Marília Arraes (PSB), no Recife.>
Se levado em conta as 94 grandes cidades, houve um leve aumento: oito mulheres foram eleitas neste ano, contra 86 homens. Em 2016, apenas 3 mulheres haviam conseguido a vitória nessas grandes cidades.>
Entre as mulheres vitoriosas em 2020 estão duas candidatas do PT que conseguiram se eleger neste domingo, Margarida Salomão em Juiz de Fora e Marília em Contagem, ambas em Minas Gerais.>
As mulheres também são maioria na população brasileira, com 52%.>
Apesar de ter havido um crescimento no número de mulheres candidatas e os negros representarem, pela primeira vez, a maioria dos concorrentes, os partidos não vinham cumprindo a determinação de distribuição equânime do dinheiro até a reta final do primeiro turno. O Fundo Eleitoral reservou, neste ano, R$ 2,035 bilhões para as legendas distribuírem aos seus candidatos. Cabe às cúpulas partidárias definirem os critérios dessa distribuição, obedecida a regra de proporcionalidade entre homens e mulheres lançados (nunca inferior a 30%) e brancos e negros, sem piso estabelecido.>
Vários estudos apontam a discriminação no recebimento de verbas como um dos principais motivos para mulheres e negros terem menos sucesso nas urnas em comparação com homens e brancos.>
Quando se leva em conta a lista dos quase 60 mil vereadores eleitos em todo o país, assim como no caso dos candidatos a prefeito em geral, de grandes médias e pequenas cidades, observa-se que diminuiu o fosso que separa negros de brancos, mulheres de homens.>
No caso das mulheres, porém, a distância a ser percorrida para que se chegue a uma situação de igualdade ainda é longa.>
Os números mostram que o total de vereadores negros (pretos e pardos) eleitos subiu de 42% em 2016, ano das últimas eleições municipais, para 45% agora. Brancos caíram de 57% para 53,5%.>
A divisão ainda não reflete à da população, na qual pretos e pardos somam 56%, mas está mais próxima da de candidatos lançados pelos partidos em 2020 - 50% negros, contra 48% brancos.>
No caso das mulheres, também houve melhora, mas a diferença que as separa das vagas ocupadas pelos homens ainda é gigantesca. Neste ano elas conquistaram 16% das cadeiras nas Câmaras Municipais do país, contra 84% obtidas pelos candidatos.>
Em 2016 eram 13,5% de mulheres e 86,5% de homens.>
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