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Alcolumbre apoia reeleição de Pacheco de olho no comando do Senado em 2025

Alcolumbre apoia reeleição de Pacheco de olho no comando do Senado em 2025

Protagonismo de senador do União Brasil gera incômodo e é atribuído a negociações no governo anterior

Publicado em 31 de janeiro de 2023 às 16:42

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JULIA CHAIB, THAÍSA OLIVEIRA, RANIER BRAGON E DANIELLE BRANTNT

BRASÍLIA - Ex-aliado de Jair Bolsonaro (PL), o senador Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) se tornou uma das principais pontes do PT com o Senado. Ele é um dos responsáveis por afiançar acordos em busca da reeleição de Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência da Casa.

Em diálogo constante com integrantes da gestão Lula, Alcolumbre articula sua permanência no comando da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) — a mais poderosa do Senado —, mas desde já mira no apoio do PT ao seu projeto de concorrer à presidência do Senado em 2025.

Em discurso, à tribuna, senador Davi Alcolumbre (União-AP).
Influência de Alcolumbre virou motivo de ciúmes no PT. (Pedro França/Agência Senado)

Senadores — aliados e adversários de Alcolumbre — reconhecem que ele é individualmente uma das principais lideranças da Casa. A ele são atribuídos adjetivos como "cumpridor" de acordos e bom articulador político.

Além disso, parlamentares apontam que, nos quatro anos de gestão Bolsonaro, Alcolumbre foi um dos principais operadores das emendas de relator no Senado, o que lhe garantiu ascendência sobre os pares.

Mesmo que esse instrumento tenha sido extinto por decisão do STF (Supremo Tribunal Federal), a avaliação no Congresso é a de que a negociação pelo uso dessas verbas deu grande capital político ao senador.

A influência de Alcolumbre virou motivo de ciúmes no PT e, principalmente, na União Brasil. Na montagem do governo, o partido de centro ficou com três ministérios.

Pouco após as nomeações, dirigentes e integrantes da União Brasil reclamaram que a equipe petista conduziu o processo de forma atabalhoada e acabou contemplando principalmente Alcolumbre — na conta de quem são colocadas duas indicações: a dos ministros das Comunicações, Juscelino Filho (União Brasil), e da Integração, Waldez Góes (PDT).

Embora seja do PDT e esteja apenas licenciado do partido, o ex-governador do Amapá Waldez Góes é próximo de Alcolumbre — o senador também articulou a indicação do aliado junto a governadores da região da Amazônia.

A terceira ministra na cota da União Brasil é a deputada eleita Daniela Carneiro, do Rio de Janeiro. Ela foi pivô da primeira crise envolvendo o governo, por causa da ligação de seu grupo político com milicianos.

A argumentação dos críticos de Alcolumbre é que, mesmo com a entrega de três ministérios, nem metade das bancadas da União Brasil na Câmara e no Senado toparia aderir à base de Lula. A legenda se colocou como "independente" em relação ao novo governo.

Diante das reclamações, colegas de partido dizem que o clima é de desconfiança e que o senador está prestes a deixar a sigla. Procurado, Alcolumbre afirmou que vai continuar na União Brasil.

"De zero a dez, a chance de eu deixar a União Brasil é zero", disse o senador nesta segunda-feira (30).

Para apaziguar a situação do partido no Senado, que terá nove integrantes com a saída de Chico Rodrigues (União Brasil-RR), Alcolumbre decidiu abrir espaço para o ex-deputado federal e senador eleito Efraim Filho (União Brasil-PB) assumir o comando da bancada.

O protagonismo de Alcolumbre também virou motivo de reclamação entre apoiadores do principal adversário de Pacheco na disputa pelo comando do Senado, o ex-ministro de Bolsonaro e senador eleito Rogério Marinho (PL-RN).

Parlamentares de PL, PP e Republicanos, partidos que fecharam apoio a Marinho e decidiram formar um bloco, afirmam que é Alcolumbre quem "põe a mão na massa" para eleger Pacheco, e ironizam que ele vai presidir o Senado indiretamente.

A participação de Alcolumbre também irritou senadores do PSD, sigla de Pacheco. Rival político do senador no Amapá, Lucas Barreto (PSD-AP) se queixou aos colegas que a eleição para a presidência da Casa neste ano parece amarrada com a de 2025.

Outros integrantes da bancada também levaram as críticas sobre Alcolumbre ao próprio Pacheco. Senadores reclamaram que ele tem negociado comissões e espaço na Mesa Diretora à revelia dos colegas; e que o Senado virou um jogo de cartas marcadas.

Por outro lado, aliados de Alcolumbre afirmam que ele está apenas repetindo o que fez dois anos atrás, quando trabalhou como uma espécie de "coordenador de campanha" para fazer com que Pacheco o sucedesse na presidência do Senado.

Após a vitória de Lula, Alcolumbre chegou a confidenciar a pessoas próximas que assumiria a liderança do governo se fosse convidado. Após a indicação de ministros de que isso não ocorreria, o senador decidiu perseguir a presidência do Senado mais uma vez.

Petistas argumentam que a opção do governo em contemplar Alcolumbre não visa só a União Brasil, o que é corroborado por parlamentares de outras legendas.

Ex-presidente do Senado e operador do direcionamento das bilionárias verbas das emendas de relator entre os parlamentares, Alcolumbre exerce influência sobre políticos de outros partidos, no Senado e na Câmara.

Petistas dizem que a aposta no senador ocorreu diante de promessas de que ele entregaria cerca de 23 votos só no Senado — ou seja, mais de um quarto da Casa.

Alcolumbre foi um dos grandes responsáveis pela eleição de Pacheco como seu sucessor. Ele também foi fundamental na articulação para a aprovação da PEC (proposta de emenda à Constituição) que deu margem de manobra orçamentária ao novo governo.

O PT chegou a vetar que o deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) fosse alçado a ministro, o que também gerou desgastes na relação do governo com a União Brasil.

Após quase um mês de conversas, porém, o governo tende a ceder a mais pedidos da União Brasil, e o cenário de adesão de votos da sigla a pautas encampadas pelos petistas é hoje melhor do que em dezembro.

Elmar deve manter um indicado no comando da Codevasf (Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba) e busca avançar sobre outros órgãos, como o Dnocs (Departamento Nacional de Obras Contra as Secas).

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