Publicado em 22 de junho de 2020 às 06:51
O advogado Frederick Wassef anunciou na noite deste domingo (21) que deixará a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) e pediu desculpas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se causou "algum dano de imagem".>
"No dia de hoje [domingo], eu tomei a decisão, liguei para o senador Flávio Bolsonaro e falei: 'Flávio, eu não vou mais continuar no caso, eu vou sair do seu processo, no PIC [procedimento investigatório criminal] e vou substabelecer para outro advogado sem reservas iguais", disse o advogado em entrevista à CNN Brasil.>
"O senador Flávio Bolsonaro não quis aceitar, pediu que eu ficasse, pediu, relutou e eu falei: 'Flávio, eu não vou me permitir ser usado para prejudicar o seu pai, presidente do Brasil, e te prejudicar.">
Wassef disse que divulgará nesta segunda-feira (22) quem será o novo advogado de Flávio Bolsonaro.>
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No último dia 18, o ex-assessor de Flávio e amigo da família Bolsonaro Fabrício Queiroz foi preso em um sítio de Wassef, que advoga para o senador e também para o presidente, em Atibaia (SP).>
Queiroz é investigado por participar de um suposto esquema de rachadinha no gabinete do filho do ex-presidente, quando Flávio era deputado estadual na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.>
Em rede social, Flávio Bolsonaro afirmou que Wassef não é mais seu advogado no caso das rachadinhas investigadas na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro.>
Flávio fez o anúncio logo após o advogar afirmar à CNN que saía do caso.>
"A lealdade e a competência do advogado Frederick Wassef são ímpares e insubstituíveis", escreveu o senador. As rachadinhas são investigadas em relação ao período em que o filho do presidente Jair Bolsonaro era deputado estadual.>
"Contudo, por decisão dele e contra a minha vontade, acreditando que está sendo usado para prejudicar a mim e ao Presidente Bolsonaro, deixa a causa mesmo ciente de que nada fez de errado.">
À Folha de S.Paulo, neste sábado (20), Wassef disse que foi vítima de uma armação para incriminar o presidente Jair Bolsonaro, de quem é amigo. "Não sou o Anjo", afirmou ao jornal, referindo-se ao apelido dado a ele pela família do presidente e que deu nome à operação desta semana do Ministério Público do Rio de Janeiro.>
Foi a primeira manifestação de Wassef desde a prisão de Queiroz. Ele negou que tenha abrigado Queiroz e que tenha mantido contatos com sua família.>
"Nunca telefonei para Queiroz, nunca troquei mensagem com Queiroz nem com ninguém de sua família. Isso é uma armação para incriminar o presidente.">
O mandado de prisão contra Queiroz foi expedido pela Justiça do Rio de Janeiro --ele não era considerado foragido. O ex-assessor, que é policial militar aposentado, estava em um imóvel de Wassef, figura constante no Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência, e em eventos no Palácio do Planalto.>
Wassef não tem dito por que Queiroz estava em seu imóvel. >
Em nota, o Ministério Público de São Paulo, que prendeu Queiroz em operação conjunta com a Polícia Civil paulista, afirmou que a operação da última quinta-feira "transcorreu nos estritos limites da lei. Filmada, a ação dos promotores e dos policiais contou com o acompanhamento de três representantes da Ordem dos Advogados do Brasil, observando-se, assim, todas as formalidades legais".>
A Secretaria de Segurança Pública também afirmou em nota que a atuação do Departamento de Operações Policiais Estratégicas, em apoio à operação desencadeada por agentes do Ministério Público, foi acompanhada por membros da OAB, "garantindo todas as formalidades legais".>
Wassef tem pelo menos nove procurações para advogar em nome do clã Bolsonaro. São três de Bolsonaro, três de Flávio e outras três assinadas pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ).>
Sua relação com os Bolsonaros extrapola, porém, o campo jurídico. Amigo do presidente há seis anos, Wassef deixa marca de sua influência até na estrutura do governo, já que foi ele quem apresentou o secretário-executivo do Ministério das Comunicações, Fábio Wajngarten, ao então deputado Jair Bolsonaro.>
Wassef orgulha-se de ter sido, em sua versão, o primeiro a incentivar a candidatura de Bolsonaro à Presidência. O criminalista, que tomou a iniciativa de se aproximar de Bolsonaro em 2014, declara amor ao presidente --segundo ele, um homem puro, até ingênuo.>
Internado para o tratamento de um câncer, o advogado assistiu a um vídeo de Bolsonaro em favor do controle da natalidade e decidiu telefonar para o gabinete do deputado. À secretária insistiu para que fosse atendido. Os dois marcaram um encontro que aconteceria meses depois.>
O advogado é, por exemplo, apontado como o responsável pela opção de Bolsonaro pelo Hospital Albert Eistein quando o então candidato à Presidência foi esfaqueado em atividade de campanha em Juiz de Fora (MG), rejeitando oferta para que fosse transferido para o Hospital Sírio-Libanês.>
Foi ele também quem ditou a estratégia jurídica de Flávio, vencendo uma queda de braço com o então presidente do PSL e também advogado Gustavo Bebianno, morto em março de 2020.>
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