Rômulo Penina*
A mídia é eficaz em apresentar um histórico real dos fatos, onde as novas gerações conseguem aprender de tudo um pouco sobre o que aconteceu no país e que nos fez parar no fatídico 1º de abril de 1964. Foi um ano divisor de águas e onde ocorreu um sofrimento coletivo e de difícil esquecimento.
Naquele período conturbado, a vida de milhares de pessoas foram atingidas por meio do AI-5 e da repressão, como foi o caso de Vladimir Herzog, mas também de professores, estudantes, jornalistas (Míriam Leitão)... A joia de nossa música, Caetano Veloso, foi para o exterior.
O ex-reitor da Ufes, Alaor de Queiroz, por pouco também não sofreu represálias. Graças à Marinha, não foi cassado, pois realizou um notável trabalho de desenvolvimento pedagógico e estrutural a ponto de ser enaltecido pelo nosso deputado federal Mário Gurgel. Foi um período de chumbo cujo único remédio era o silêncio constrangedor.
Acho que faltou no Brasil uma espécie de “Muro das Lamentações”, como ocorre em Jerusalém. Para que nunca esquecemos desse período nebuloso em nossa história.
O ministro da deseducação (que já saiu), numa fala desmedida, chegou a anunciar a intenção de modificar os livros didáticos, afirmando que a ditadura militar nunca existiu.
Quem produz os livros são historiadores e pesquisadores. Temos o dever de destacar sempre esses fatos, para o bem ou para o mal, para que a memória não vire espuma e vá embora, mas que fiquem registradas as lutas pela liberdade.
No Estado, Élcio Álvares, Manuel Ceciliano e Alaor de Queiroz lutaram pela manutenção da Autonomia Constitucional e pela libertação de estudantes que eram proibidos de irem a congressos da UNE. Também foram decisivos para a importante reabertura do DCE e outros diretórios que estavam impedidos de existir.
Eis outro fato importante do período: quando atuava na Ufes, enviamos ao Conselho Universitário uma proposta de fechar a Assessoria de Segurança, que foi aprovado por unanimidade. Enviamos à Brasília a decisão do Órgão Superior da Universidade, o que provocou, mesmo sem marcar uma audiência, a vinda de um civil que respondia pela Segurança Nacional no Ministério da Educação.
Ele exigiu que se tornasse sem efeito o referido ato. Mas não concordamos e após uma forte discussão solicitamos a sua saída do campus de Goiabeiras, de imediato. A grande verdade é que durante a ditadura, a Ufes foi nossa “Alma Gêmea”. A universidade do ES foi a primeira instituição a fechar a referida Assessoria de Segurança. Uma vitória inesquecível em meio ao caos daqueles tempos.
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*O autor é ex-reitor da Ufes
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