Solução para o crescimento tem remédios fiscais além da Previdência

A falta de uma solução duradoura gerou um componente expectacional que tem comprimido o crescimento econômico

Publicado em 11/07/2019 às 20h05
Atualizado em 30/09/2019 às 05h00

O remédio para solucionar o problema econômico está além da Previdência

Marcos Ferrari*

Como o cerne da atual crise é de origem fiscal, precisamos, portanto, de uma solução fiscal para sair dela. A variável síntese é a dívida bruta, que passou de 51,7% para 76,7% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro.

A solução passa por diversos remédios fiscais e o principal é a reforma da Previdência (57,2% das despesas primárias em 2018). A falta de uma solução duradoura gerou um componente expectacional que tem comprimido o crescimento econômico.

Todos confiam que o acerto das contas da Previdência trará crescimento. A população já compreende que é necessário fazê-la, os parlamentares estão dispostos a avançar e o governo está bem empenhado. Então, por que os indicadores econômicos têm piorado a cada dia? Por três motivos principais.

Primeiro, porque a economia é movida por expectativas e todas as decisões cruciais estão ancoradas na aprovação da reforma. Apesar de a sua tramitação avançar, esse componente expectacional tem paralisado a economia.

Em segundo lugar, porque a reforma não é a única solução para reverter o pífio desempenho da economia desde 2014 (média de -0,6%). Vimos com bons olhos o trabalho do governo em outras medidas para gerar crescimento econômico. Em política econômica, timing é tudo.

No governo anterior, o teto dos gastos permitiu ter um bônus de expectativa, captado pelo descolamento entre o CDS e juros futuro. A liberação das contas inativas do FGTS sustentou a economia durante a tramitação da proposta de reforma.

Em terceiro lugar, os drivers de oferta e de demanda estão comprimidos. Pelo lado da oferta, os investimentos em P&D (1,2% do PIB) e infraestrutura (1,7% do PIB) seguem aquém do necessário. O resultado é que nossa produtividade segue em queda livre.

Pelo lado da demanda, o setor público seguirá com restrição orçamentária por longos anos; o consumo não reage (desemprego alto, 12,3%); o investimento ainda não reagiu (15,8% do PIB) e o setor externo tem um peso pequeno no PIB.

Para voltarmos a crescer, é preciso ter clareza sobre esses pontos e ir além da Previdência.

*O autor é ex-presidente do Conselho Regional de Economia (Corecon-ES)

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.