Obras públicas faraônicas são um desperdício e afrontam a sociedade

Nas esferas públicas há uma afinidade com o luxo, especialmente quando se trata da construção de prédios

Publicado em 04/07/2019 às 19h55
Atualizado em 30/09/2019 às 07h17

Construção da futura sede do TRT na Enseada do Suá

Luiz Carlos Menezes*

No Brasil, vigora a cultura do luxo. O famoso carnavalesco Joãozinho Trinta expressou isso numa frase que se tornou conhecida: “O povo gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”.

Nas esferas governamentais do nosso país há também afinidade com o luxo, especialmente quando se trata da construção de prédios públicos. Segundo os historiadores, o apreço por edificações suntuosas é um legado cultural que herdamos da nossa colonização portuguesa. E está ainda muito vivo na administração pública brasileira. A denominação de palácios, adotada em inúmeros edifícios institucionais, evidencia isso.

Brasília, construída segundo uma concepção urbanística e arquitetônica das mais ousadas, é o nosso mais expressivo exemplo do apreço dos nossos governantes por obras faraônicas. Até as denominações adotadas - eixo monumental, superquadras e palácios para os principais edifícios públicos - mostram isso. E são muitos palácios: da Alvorada, do Planalto, do Jaburu, Itamaraty, da Justiça, do Congresso Nacional, do Buriti, do Catetinho e do Supremo Tribunal Federal.

Mas este culto a obras suntuosas não está limitado à Brasília. Está presente em todo o território nacional. Podemos ver isso nos imponentes edifícios dos tribunais regionais (TRFs, TRTs, TREs), nas luxuosas sedes das estatais, nos Tribunais de Conta e numa infinidade de edifícios públicos.

Aqui mesmo na nossa Capital vemos este desperdício de dinheiro do contribuinte na suntuosa sede da Petrobras (com vidros importados da Bélgica), como também na gigantesca e luxuosa sede do TRT, em final de construção na Enseada do Suá, com 15 elevadores.

Neste mundo globalizado, onde estão à mostra os exemplos de países desenvolvidos, como o poderoso Estados Unidos, onde se vê a predominância da simplicidade e da funcionalidade nos prédios públicos (escolas com paredes em blocos de cimento), repartições oficiais simples, aeroportos sem luxo etc., fica difícil entender como o nosso pobre Brasil emprega tão mal os seus parcos recursos públicos. Um contrassenso.

Ao vermos gente morrendo nos corredores de hospitais sucateados, falta de recursos para a educação e segurança e cadeias superlotadas, é inadmissível e desumano este mau emprego do dinheiro público. Que estas lamentáveis mazelas, agravadas com a crise econômica, sirvam para sensibilizar nossos governantes para a necessidade de mudanças institucionais que coloquem um freio nesta gastança incompatível com a nossa realidade. Obras faraônicas afrontam à sociedade.

*O autor é engenheiro civil, empresário e conselheiro da Ademi-ES e do PDU de Vitória

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