Autor(a) Convidado(a)
Usiel é administrador e teológico. José é jornalista e geógrafo

O incômodo que causa a expressão "terrivelmente evangélico"

Parece ter se multiplicado a participação de pastores em esferas públicas nas mais diversas instâncias do poder público. "Terrivelmente evangélicos" começaram a surgir. Muitos, que não eram, desejaram ou passaram a ser

  • Usiel Carneiro de Souza e José Caldas da Costa Usiel é administrador e teológico. José é jornalista e geógrafo
Publicado em 23/06/2022 às 15h32
Ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores Arilton Moura (ao fundo) e Gilmar Santos em culto em Goiânia (GO)
O então ministro da Educação, Milton Ribeiro, com os pastores Arilton Moura (ao fundo) e Gilmar Santos em culto em Goiânia (GO). Crédito: Reprodução/ redes sociais

Não há cristão, cujo compromisso espiritual seja maior com o Evangelho e com o Cristo do que com suas próprias tradições, que não tenha se incomodado com o nascimento da expressão "terrivelmente evangélico".

Desde lá, a associação improvável dos termos vem se revelando profética. E, com isso, apenas piorou o que não vinha muito boa - a imagem dos evangélicos, devido, em particular, ao amor e busca pelo dinheiro como base teológica de alguns grupos.

Ao amor e busca pelo dinheiro, associou-se o amor e busca pelo poder. E a política e suas possibilidades tornaram-se lugar acessível no atual governo. Para muitos pastores, bispos e apóstolos evangélicos (estas duas últimas denominações já bastante sintomáticas), as circunstâncias tornaram-se irresistíveis. Com as portas abertas por um governo que declara abertamente sua disposição em levar o país para onde os pastores quiserem, o frisson e celebração apenas cresceram.

Para muitos, talvez, bem intencionados, porém, sem dúvida alguma, mal avisados, a questão alcançou ares apocalípticos. O bem estaria finalmente vencendo o mal. Agora se poderia dizer com segurança “O Brasil é do Senhor Jesus Cristo”.

Parece ter se multiplicado a participação de pastores em esferas públicas nas mais diversas instâncias do poder público. "Terrivelmente evangélicos" começaram a surgir. Muitos, que não eram, desejaram ou passaram a ser. Mostrar-se intolerante passou a ser louvável. Num compasso cada vez mais acelerado, os seguidores de Jesus parecem tê-lo deixado caminhando sozinho "no caminho de Emaús".

Todo esse quadro é apenas um dos aspectos que revelam o que muitos líderes e pensadores cristãos consideram ser sinais de um cristianismo evangélico enfraquecido. Entre outros, acrescentam: distanciamento da vida prática, resistência a mudanças, leitura bíblica pretensamente literalista.

A prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e dois outros pastores, suspeitos de operarem um balcão de negócios no Ministério da Educação, reforça as cores da imagem que pesa contra a comunidade evangélica brasileira. É importante que se lembre que o mundo evangélico não é monolítico. Ao contrário! Mas é também um fato que a lama acaba manchando todo mundo.

Bem, voltando aos termos “terrivelmente" e “evangélico”, que as últimas cenas tenham entristecido terrivelmente os evangélicos. Que não acrescentem aos enganos pesados e recentes o de enganarem a si mesmos. Seria terrível para o futuro dos evangélicos!

Sem saudosismo, mas com uma vontade danada de defender a raiz do evangelho de Cristo, bons tempos aqueles em que a nossa arma era a Palavra, o poder que buscávamos vinha do alto e usávamos a força do argumento para levar as pessoas aos pés da cruz do Calvário e não às benesses do Planalto.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.