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O hábito de olhar para o retrovisor

Anistiar aqueles que cometeram faltas graves durante a paralisação só perpetua esse método ilegal, que atenta contra a segurança da sociedade, de buscar reajustes salariais

  • Regis Mattos
Publicado em 04/03/2020 às 06h00
Atualizado em 04/03/2020 às 06h00
Greve da PM, em 2017. Crédito: Arquivo/Gazeta Online
Greve da PM, em 2017. Crédito: Arquivo/Gazeta Online

Vivemos tempos difíceis, no Brasil e no mundo. Os valores democráticos e republicanos estão sendo atacados, e esse ataque independe da bandeira política. A conquista da democracia em nosso país foi resultado de um processo doloroso, que custou muito a tantos brasileiros.

Quando um jornalista é atacado por emitir sua opinião sobre os fatos, opinião inclusive partilhada por analistas em todo país, um pilar da democracia também é atacado. Por isso, minha primeira palavra é no sentido de me solidarizar com o senhor José Carlos Correia, que tem uma longa história a favor do Espírito Santo. E reiterar que anistiar aqueles que cometeram faltas graves durante a paralisação só perpetua este método ilegal, que atenta contra a segurança da sociedade, de buscar reajustes salariais.

Tive a honra de servir ao povo do Espírito Santo como secretário de Economia e Planejamento entre 2015 e 2018 e sabemos que uma boa gestão pública deve ser baseada em fatos e evidências concretas, não em suposições ou narrativas fantasiosas, como observamos em artigo recente de representante do atual governo.

Entre as inverdades relatadas no artigo, no afã de atacar a gestão do ex-governador Paulo Hartung, está a afirmação de que retomaram “o investimento em segurança pública”. Uma simples consulta ao portal de Transparência do próprio governo, permite constatar que o investimento em segurança pública alcançou R$ 115 milhões em 2018, último ano de nossa gestão, e caiu para R$ 60 milhões em 2019, primeiro ano do atual governo.

Como se vê, ocorreu exatamente o contrário do que afirmado no artigo. O que os números mostram é que, em seu primeiro ano, o atual governo reduziu, e não aumentou, os gastos com segurança pública.

Já em nosso governo, o investimento em segurança pública contemplou também ações preventivas. Por exemplo, em 2015 implantamos o programa ocupação social, com oportunidades de estudo, capacitação, esporte, cultura e empreendedorismo para jovens de áreas vulneráveis, com objetivo de quebrar o ciclo que reproduz a violência. Com o programa, o índice de homicídios de jovens de 15 a 24 anos caiu 55% nos bairros periféricos.

Em outra passagem do texto, distorce fatos remotos para justificar ações equivocadas. No último dia do governo José Ignácio, em dezembro de 2002, uma parte dos policiais, notadamente na Grande Vitória, não saiu às ruas em protesto contra atrasos de salário. No seu primeiro dia de governo, em janeiro de 2003, Paulo Hartung assumiu o compromisso de colocar em dia os salários, e os policiais prontamente atenderam ao chamado do governador para voltar às ruas. Ainda no primeiro ano de governo, o compromisso foi cumprido e não só os policiais, mas todos os servidores estavam com os salários em dia.

Na gestão 2015-2018, enfrentamos a maior crise econômica da história do Brasil. Foi com um trabalho planejado, organizado e disciplinado que nossa gestão se tornou reconhecida em todo o país. Alcançamos resultados notáveis - como o primeiro lugar no IDEB do Ensino Médio, o menor índice de homicídios desde a década de 90 e avanços importantes na saúde. E, em 2018, o Espírito Santo foi o único Estado do país com nota A em contas públicas, segundo o tesouro nacional. O equilíbrio fiscal é a base sólida para que se possa realizar investimentos e entregar melhores serviços para a sociedade. Por essas razões, nos tornamos um exemplo de eficiência, como reportou a revista ‘The Economist’.

No Brasil e no mundo, incertezas críticas se avolumam, daí emergindo desafios complexos que requerem diagnóstico preciso e ações adequadas. Não é olhando para o retrovisor que isso será feito. Governar olhando para o presente e o futuro dos 4 milhões de capixabas exige tomar decisões difíceis, para as quais nem sempre o reconhecimento vem de imediato.

Fazer o contrário, ou seja, tomar decisões fáceis que agradam grupos ou corporações pode trazer aplausos no curto prazo, mas não atende aos interesses da coletividade, que logo reclamam seu preço. Aliás, quando um governo é cobrado por suas promessas e na impossibilidade de cumpri-las tem o hábito de olhar para o retrovisor, corremos o risco de rumar para o abismo.

O autor é ex-secretário de Economia e Planejamento do Espírito Santo (2015-2018)

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