Na música “Pequenas Alegrias da Vida Adulta”, o cantor Emicida enumera, com humor e leveza, situações que trazem satisfação no mundo adulto e na vivência da maternidade e paternidade: achar um tupperware que a tampa ainda encaixa, o gol da virada que evita um rebaixamento, uma promoção de fraldas na drogaria, um sábado de paz onde se dorme mais. E enfatiza: “Triunfo hoje pra mim é azul no boletim”.
Pois bem: quem é pai, mãe ou responsável por filhos em idade escolar já deve ter experimentado a sensação de satisfação cantada neste verso pelo artista ou o seu oposto: a preocupação com o desempenho escolar do filho quando as coisas não vão muito bem.
A boa notícia, ao começar mais uma etapa do ano letivo, após as férias de julho, é que temos diante de nós um semestre inteiro para recalcular a rota e quanto antes o trabalho for iniciado, melhor.

O primeiro passo nesse sentido é ampliar o olhar e entender que “notas baixas” refletem o resultado de um processo que envolve muitos fatores e exige envolvimento e atitude.
Fazer-se presente e acompanhar de perto a vida escolar do filho é fundamental e isso inclui dialogar com a criança e com a escola, frequentar reuniões de pais e professores, colocar-se próximo e disponível para a escuta, entendendo que nem sempre a dificuldade é resultado do desinteresse ou do descaso do aluno. E que, se assim for, a falta de interesse tende a ter uma razão que também precisa ser compreendida em busca de soluções mais assertivas e de bons resultados.
Vale ressaltar ainda o quanto é importante que a escola adote uma postura aberta ao diálogo e considere o processo educacional como um espaço de construção e parceria com a família. Além disso, instituição e pais de alunos devem entender que o estudante é muito mais do que a nota que ele obteve numa prova ou no boletim.
O aluno é um ser humano em formação que carrega histórias próprias, experiências, competências, habilidades e, eventualmente, dificuldades que fazem dele o ser singular e especial que é.
Essa compreensão é, por si só, capaz de mudar as coisas na medida em que reduz possíveis sentimentos de inadequação, não pertencimento e baixa autoestima, que podem surgir quando alguma coisa não acontece dentro do esperado.
Outro ponto essencial é a mudança de atitude em casa, para estimular a criança a superar as dificuldades que encontrou. Um exemplo é quando o aluno sempre teve boas notas e, de repente, tem queda de rendimento em várias matérias. Nesses casos, é importante ficar atento a situações de conflito, mal-estar ou que tenham causado abalo na autoestima.
Se a dificuldade é em uma matéria ou outra, o reforço escolar na própria escola ou com profissionais bem selecionados e qualificados pode ser um bom caminho.
Ajudar o aluno a criar uma rotina de estudos, organizar seu tempo e cumprir as tarefas escolares são outros pontos importantes. A rotina ajuda a fazer do aprendizado uma construção diária e funciona melhor do que deixar tudo acumulado para a véspera de uma prova. E, dessa forma, o aluno entende que não se trata apenas de tirar uma boa nota, mas sim de aprender e adquirir conhecimento.
Não comparar notas nem com irmãos e nem com colegas é outra postura recomendada para evitar a competitividade tóxica, que pode ter consequências na autoestima da criança e deixá-la desestimulada.
Enfim, é possível inclusive entender uma eventual nota baixa como um lugar de crescimento e aprendizado, de revisão, de diálogo, de superação e, principalmente, de compreensão de que nem sempre, na escola e na vida, as coisas saem como o esperado. Neste caso, valores como persistência, coragem e resiliência, tão importantes para esse indivíduo em formação, ganham reforço.
Fácil, sabemos que não é e ninguém disse que seria. Afinal, educar um ser humano é realmente das missões mais desafiadoras que existem, mas é também das mais bonitas. Se escola e família entenderem a importância dessa parceria, todos têm a ganhar.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.