
Antônio Carlos de Medeiros*
Há um Brasil em busca do centro do espectro político. É a metade do eleitorado que não está nem com o bolsonarismo nem com o lulopetismo. Uma opção pela moderação, com bandeiras liberais, progressistas e humanistas. Estado forte, mas não grande. Sociedade forte, livre iniciativa, direitos com responsabilidades.
Esta opção é resultante do mal-estar com o populismo nacionalista que grassa pelo mundo na última década. E que aportou no Brasil com o bolsonarismo. Vai de Trump à Bolsonaro, passando por Boris Johnson, Putin, Orbán e outros.
O “The Economist” ressaltou outro dia que as democracias ocidentais deixaram de ter movimentos pendulares entre esquerda e direita e assumiram o formato “helter skelter”: confusão e desordem, no sobe e desce de um tobogã. Nesta desordem, o cinismo dá a tônica das narrativas destes populistas do século XXI, diz o jornal.
Aqui, lideranças relevantes tentam construir este espaço político do centro. O mote é a constatação de que a polarização atual alimenta a luta pelo poder entre o bolsonarismo e o lulopetismo, mas dificulta a costura do consenso, da governabilidade e da estabilidade econômica. A polarização tornou-se disfuncional e disruptiva. Aqui, ela está condenando o país ao baixo crescimento, à desesperança e à marginalização de 25 milhões de brasileiros. Lá na Europa, ela, exemplo, aponta para a decadência britânica.
O dilema brasileiro é: como sair desta sinuca de bico? Como limpar o horizonte político e poder ter um futuro? Rubens Ricupero sugere uma “aliança entre o centro socialmente progressista e a esquerda democraticamente renovada”, com o foco na inclusão dos marginalizados – que ele chama de “novo ator”.
Mas a “pajelança liberal progressista” ainda é rudimentar. Ainda está circunscrita às elites e não se espraia pelas veias abertas da sociedade. É preciso encontrar o tom de uma narrativa que fale com o Brasil profundo. FHC falou de estabilidade. Lula de inclusão. Bolsonaro de corrupção e costumes. E agora, o que vai ser? Não basta construir uma liderança. Seja Huck, Sergio Moro, Doria ou (?). É essencial encontrar a ideia força e a narrativa. Será o combate à pobreza e às desigualdades?
Mas tem mais. O Brasil vive os paradoxos do baixo crescimento e da ingovernabilidade. A permanente incapacidade de formação de maiorias estáveis de governo e de solucionar crises sem o extremo do impeachment. A chave parece estar na adoção do semipresidencialismo para 2022.
O modelo português é boa referência. Com o presidente sendo o chefe de Estado e Poder Moderador, símbolo supremo da unidade nacional. E o primeiro-ministro como chefe de governo. A caminhada é longa e complexa: construção de lideranças populares; amálgama da narrativa; moldura da mudança das regras institucionais.
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*O autor é pós-doutor em Ciência Política pela The London School of Economics and Political Science
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