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É jornalista e historiador

Não se pode chamar de "guerra" o genocídio dos palestinos por Israel

Não se pode nomear assim a luta entre o elefante e a formiga, ou mesmo um punhado delas; a desproporção entre as forças é absurda

  • Alexandre Caetano É jornalista e historiador
Publicado em 16/05/2021 às 10h01
Faixa de Gaza
Vista do prédio de 11 andares que abriga o escritório da AP e outros meios de comunicação que foi destruído na cidade de Gaza, neste sábado (15). Crédito: Hatem Moussa/AP/Estadão Conteúdo

As atenções do mundo se voltam novamente para a região da Palestina e o conflito entre o Estado de Israel e os palestinos, que lutam pelo reconhecimento de seu próprio Estado. Dessa vez, o estopim foi a expulsão de famílias palestinas de Sheik Jarrah para atender as demandas dos colonos judeus, que consideram ter um direito eterno de propriedade sobre as casas da localidade. Não se pode chamar de "guerra" o genocídio dos palestinos pelo Estado de Israel, principalmente quando se observa criticamente a cobertura totalmente parcial da mídia corporativa internacional.

Os números dizem tudo. Até a última quinta-feira (13), eram sete mortos em Israel, incluindo um pai árabe-israelense e seu filho, contra 109 palestinos mortos, entre os quais 28 crianças e mais de 700 feridos. Israel ignora a Convenção de Genebra, por considerar que os combatentes palestinos são "terroristas" e não hesita em bombardear alvos civis, causando grande número de mortes entre mulheres, crianças e idosos.

A infraestrutura da Faixa de Gaza, há mais de uma década transformada numa versão palestina do Gueto de Varsóvia, foi destruída pelas seguidas e periódicas ondas de bombardeios por parte das tropas sionistas, que aliadas ao bloqueio total do território, agrava ainda mais o estado de penúria da população. Essa é uma realidade que se repete desde quando foi criado o Estado de Israel, em 1948, e o início da diáspora palestina, provocada pela expulsão em massa do seu povo de suas casas e terras, para serem jogados em acampamentos de refugiados

Não se pode chamar de "guerra" a luta entre o elefante e a formiga, ou mesmo um punhado delas; A desproporção entre as forças é absurda. Sustentado pelos bilhões de dólares e armas enviadas pelos Estados Unidos (EUA) , Israel possui uma das mais formidáveis máquinas de guerra do planeta. De outro lado, os palestinos usam foguetes e armamentos obsoletos, para revidar os ataques e o regime de opressão e segregação a que são submetidos pelo Estado sionista.

Mesmo os árabes-israelenses, que correspondem a mais de um quinto da população do país, são tratados como cidadãos de segunda classe. O bloco de direita liderado por Netanyahu manipula eleitoralmente o fanatismo religioso e a intolerância dos setores ultraortodoxos, que são os que mais crescem entre a população judaica, assim como é cada vez maior a influência dos partidos religiosos na vida política do país.

Da mesma forma como muitas seitas evangélicas neopentecostais no Brasil, ou setores do fundamentalismo religioso no mundo árabe e entre os mulçumanos, grande parte dos grupos e partidos que representam os setores religiosos e ultraortodoxos judeus em Israel têm sangue nos olhos e querem simplesmente "remover" o "problema" palestino daquela região historicamente conturbada.

São sempre os palestinos - entre os quais existem cristãos e muçulmanos- e os árabes israelenses que pagam o preço dos muitos impasses da política sionista, onde isoladamente nenhuma força política é majoritária, o que tem impedido a formação de um governo estável em Israel. Nas imagens que vimos na TV, o que chamou a atenção é que as matérias deram humanidade aos sete mortos do lado de Israel: eram pais, soldados, aposentados e famílias atingidos pelos foguetes do Hamas. No entanto, as 83 vítimas palestinas, a grande maioria civis, foram simplesmente invisibilizadas. No máximo, podia-se ver mães histéricas chorando pelos filhos mortos, mas parecia até que todos eram culpados pela sua própria morte.

Nas imagens, cidadãos judeus-israelenses eram vistos em pânico, correndo ordenadamente para os abrigos aéreos, construídos com os generosos recursos que os USA e demais países imperialistas sempre injetaram no país; Já os palestinos são mostrados como fanáticos, carregando como troféus os corpos de algumas de suas vítimas de forma desordenada e em meio a urros e gritaria histérica.

A história daquela região ao longo dos últimos  mil anos, desde que as cruzadas dos cristãs insuflados pela Igreja, invadiram aquelas terras e promoveram um massacre dos "infiéis" mulçumanos e os judeus "assassinos" de Cristo, chegando a estabelecer ali o Reino de Jerusalém, mostra que os massacres e genocídios nunca conseguiram dar solução às disputas.

O reino de Jerusalém durou cerca de 100 anos e foi derrotado pelas tropas de Saladino que, ao contrário dos cruzados, não se vingou do massacre contra mulçumanos e judeus, poupando a população cristã que habitava a Terra Santa. Não será diferente agora. Desde 1948, Israel obteve vitórias militares esmagadoras contra palestinos e árabes, mas não conseguiu e nem vai conseguir impor por essa via uma solução.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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