
Sérgio Denicoli*
Verdade e mentira são conceitos que sempre disputaram espaço no campo da interpretação. Mas entre eles há algo irrefutável, que são os fatos. O bom jornalismo sempre buscou nos fatos o seu equilíbrio. Só que as mudanças tecnológicas acabaram por reverter a visão da sociedade sobre a comunicação e impor versões em detrimento da realidade. Assim, floresceram no pântano da internet publicações com cara de notícia, mas que não passam de invenções com o intuito de interferir na opinião pública.
Esse movimento começou no final dos anos 1990, quando as pessoas passaram a poder publicar on-line suas impressões. Vivíamos naquela época a excitação do chamado jornalismo cidadão, que via possibilidade de se criar uma ampla cobertura jornalística online, feita por gente comum. Uma doce ilusão que durou pouco tempo. Rapidamente ela foi substituída pela escuridão das fake news.
Os jornais demoraram muito para perceber que caminhavam para uma armadilha. Muitos veículos, vendo que perdiam espaço para a desinformação viral, passaram a reverberar o pântano digital, confundindo memes com valor-notícia e curtidas com interesse público, quase sempre optando por veicular nas redes pílulas informativas pouco aprofundadas, privilegiando o jornal impresso para as grandes reportagens.
Ao transformar o jornalismo digital em algo ligeiro, os veículos se nivelaram por baixo. E foi justamente nesse ponto que as redes se tornaram um campo fértil para as fake news e um campo minado para as notícias, sempre muito atacadas por perfis militantes, das mais diversas áreas, nas redes sociais.
Busca-se agora uma vacina e, curiosamente, ela também chega pelas mãos da tecnologia. Trata-se da informação baseada em dados e também da inteligência digital.
No caso dos dados, eles se tornaram uma forma irrefutável de se fazer jornalismo e mostram, sistematicamente, a evolução de temas, a percepção das pessoas sobre diversos assuntos e ainda indicam tendências. Já a inteligência artificial abre um novo caminho para a identificação de padrões comportamentais. Revela ainda, quando algo sai do padrão, quais motivos levaram a essa mudança.
O jornal agora precisa, inevitavelmente, estar ancorado no universo dos bytes e entender que ganhou a nobre função de organizar o mundo de informação digital e traduzir a sociedade, que se transportou da realidade analógica para uma nova realidade binária, interativa, incrivelmente rápida e dinâmica. A sociedade precisa e jamais deixara de precisar do jornalismo sério e atuante.
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*O autor é pós-doutor em Comunicação
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