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É advogado (Bolzan & Bussinguer Advocacia), professor do PPGD FDV, pesquisador PQ/CNPQ - Direito e Tecnologia. Cyberleviathan – Observatório do Mundo em Rede

Fofoca nas redes sociais: o que fazer com o lixo informacional?

Apesar das dificuldades, a começar pela descontinuidade entre poder público estatal e poder privado da economia digital, é passada a hora de promover-se a regulação das redes

  • José Luis Bolzan de Morais É advogado (Bolzan & Bussinguer Advocacia), professor do PPGD FDV, pesquisador PQ/CNPQ - Direito e Tecnologia. Cyberleviathan – Observatório do Mundo em Rede
Publicado em 27/12/2023 às 12h18

Tomo emprestado, aqui, o grande Gabriel García Márquez para dizer que o acontecimento que tem estado nos noticiários diários, até mesmo no debate virtual, faz parte de uma tragédia anunciada. Digo anunciada pois a dita “cultura das redes”, assim como a “economia da internet”, se nutrem, substancialmente, das relações (anti)sociais que promovem.

A morte de uma jovem, após sofrer todo tipo de “lacração” nas redes, nada mais é do que a soma de uma ausência de cultura para ser e estar nas redes ladeada pela maximização e instantaneidade do discurso emocional – fofoqueiro, no caso –, que contribui para a monetização dos tais influencers ou canais e o “reforço do caixa” das big techs proprietárias das plataformas de redes (anti)sociais. Fofoca mais lucro é uma fórmula explosiva que anunciava a morte desta e de tantas pessoas, jovens ou não, assim como já noticiara a da democracia.

Agregue-se a essa equação a ausência de qualquer regulação do ser-estar nas redes, bem como destas, como instâncias de difusão de tudo e todos.

Se antes, para discutirmos alimentação de baixa qualidade, cunhamos o termo junk food, agora poderíamos falar em junk information.

O problema é que uns e outros se alimentam desse “lixo informacional”. Os usuários, em especial os ditos seguidores, têm sua sede saciada pela fofoca; os propagadores — como o caso daqueles envolvidos no caso da morte desta jovem — têm seus canais monetizados; já as plataformas têm seus lucros ampliados. Um cálculo perfeito para o “modelo de negócios do Vale do Silício – MNVS”. Fofoca produz conexão e seguidores; estes geram ganhos aos divulgadores, que são retribuídos exatamente por isso; finalmente, as plataformas vendem mais e, assim, lucram mais.

A vítima, ou as vítimas – pois podemos ser todos nós, afinal as fake news não apenas matam pessoas, exterminam sociedades e democracias –, não fazem parte deste jogo de ganha-ganha que embala as conexões entre desinformação e capitalismo digital.

Fake news encontram terreno fértil na internet
Fake news encontram terreno fértil na internet. Crédito: memyselfaneye/ Pixabay

E, agora, o que resta para fazer. Apesar das dificuldades, a começar pela descontinuidade entre poder público estatal e poder privado da economia digital, é passada a hora de promover-se a regulação das redes.

O que temos até agora, em termos regulatórios, é insuficiente. O PL 2630 – das Fake News – avança, a ponto de sofrer o boicote das big techs, apesar dos próprios limites. Como tem sido dito, todos os setores da vida privada e da economia têm algum tipo de regulação a que se submetem, por que apenas a “internet” não teria? O que a imunizaria?

Não podemos ficar inertes frente às mortes – da democracia ou das pessoas – anunciadas.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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