O influenciador Felipe “Felca” Bressanim acendeu um alerta que o país não pode ignorar. Seu vídeo mostrou, passo a passo, como basta interagir minimamente com conteúdos envolvendo crianças para que as redes sociais inundem o feed com vídeos de adultização precoce. Ele chamou esse fenômeno de “Algoritmo P” (“P” de pedofilia ), não como um software específico, mas como a face mais perversa de um sistema que privilegia engajamento acima da segurança.
Os algoritmos das redes funcionam como máquinas de captura de atenção. Registram cada toque, curtida, comentário, tempo de visualização e perfil seguido. A inteligência artificial classifica conteúdos e traça padrões. Ao identificar interesse em vídeos com crianças, mesmo que aparentemente inofensivos, cria um funil que leva a materiais similares, conectando usuários a um ecossistema de conteúdos que muitas vezes escapam da moderação por serem produzidos de forma disfarçada.
Essa engrenagem não é acidental. É o modelo de negócios. Quanto mais tempo o usuário permanece na plataforma, mais anúncios vê, mais dados fornece, mais lucro gera. Não há algoritmo “ingênuo”: a lógica comercial está no DNA dessas empresas, e se a atenção vem de conteúdo nocivo, ele será entregue sem hesitação. O perigo é óbvio: normaliza a sexualização infantil, facilita a ação de predadores e empurra o usuário, passo a passo, para conteúdos mais explícitos.
A repercussão foi imediata no Congresso. Em poucos dias, surgiram propostas para proibir a monetização de vídeos com participação de crianças, responsabilizar plataformas pela circulação de material de adultização, alterar o Estatuto da Criança e do Adolescente e o Marco Civil da Internet, criminalizar a exploração digital implícita e endurecer penas para crimes de pedofilia.
Mas lei sozinha não basta. É preciso agir também no campo social e educativo. Famílias precisam entender como funcionam os algoritmos, acompanhar o que os filhos assistem, fechar perfis, revisar seguidores e denunciar imediatamente conteúdos suspeitos. Jovens devem ser orientados a reconhecer manipulações digitais e a evitar interações que alimentam esse ciclo. É fundamental que campanhas de conscientização alcancem escolas, comunidades e redes de comunicação, ensinando que cada clique tem consequência.
O “Algoritmo P” não é apenas sobre tecnologia: é um espelho de nossas prioridades. Podemos continuar aceitando que a lógica de mercado determine o que aparece nas telas ou decidir que a proteção da infância é inegociável. Essa escolha não é abstrata nem distante, ela se traduz em segurança ou vulnerabilidade para milhões de crianças.
Adiar essa decisão significa permitir que a exploração continue. É preciso compreender que o ambiente digital, com sua velocidade e alcance, potencializa riscos que antes se limitavam ao espaço físico. Agora, o perigo pode estar na palma da mão, a qualquer hora do dia, e é por isso que a resposta precisa ser proporcional à ameaça.
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