Nas últimas décadas, a relação das pessoas com o meio ambiente passou por mudanças drásticas. As alterações climáticas, antes percebidas como uma ameaça distante, agora se manifestam de maneira concreta e frequente. Eventos como ondas de calor recordes, secas prolongadas, enchentes devastadoras e incêndios florestais têm impactado não apenas o ambiente físico, mas também a saúde mental das populações.
Esse cenário deu origem ao termo “ecoansiedade”, que descreve o medo intenso e persistente frente às consequências das mudanças climáticas.
De acordo com a American Psychological Association (APA), a ecoansiedade pode ser definida como uma preocupação crônica com o destino do planeta. Esse sentimento é especialmente comum entre pessoas diretamente afetadas por desastres naturais, como comunidades que enfrentam deslizamentos de terra após chuvas intensas ou famílias que sofrem perdas em regiões atingidas por enchentes.
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçam que o impacto ambiental na saúde mental é uma preocupação crescente, principalmente entre jovens. Um estudo da revista The Lancet Planetary Health aponta que 59% dos jovens de 16 a 25 anos em 10 países relatam se sentir muito ou extremamente preocupados com as mudanças climáticas. Além disso, 84% afirmam sentir-se traídos pelos governos por não tomarem medidas efetivas contra o aquecimento global.
Embora a preocupação e a ansiedade em relação à crise ambiental sejam reações naturais, a ecoansiedade se caracteriza por um estado mais intenso, dada a gravidade dos problemas ambientais que estamos enfrentando nos últimos anos. Ela pode ser acompanhada de sentimentos de culpa pela percepção de que as ações pessoais contribuem para a crise climática, o que gera um ciclo de culpa e medo.
No Brasil, as condições urbanísticas precárias de muitas cidades agravam esse quadro. Bairros com infraestrutura deficiente, como áreas favelizadas e regiões sem planejamento adequado, estão mais expostos às consequências das mudanças climáticas. Ondas de calor afetam mais intensamente locais com baixa arborização e excesso de concreto, enquanto problemas de drenagem tornam enchentes frequentes e devastadoras. A ocupação irregular de encostas também aumenta o risco de deslizamentos, levando famílias inteiras a conviver com a constante sensação de vulnerabilidade.
Embora seja importante reconhecer a gravidade da ecoansiedade, ela não é uma condição imutável. Há maneiras de aumentar a resiliência frente a esse sofrimento. A conexão com amigos e familiares e o engajamento positivo nas comunidades podem oferecer suporte emocional e diminuir a sensação de impotência.

A ecoansiedade, embora não seja um diagnóstico formal, é um reflexo de uma nova forma de sofrimento mental que exige atenção. Esse tema deve ser abordado como uma questão de saúde pública, com investimentos em políticas que promovam tanto o cuidado psicológico das populações vulneráveis quanto a mitigação das mudanças climáticas.
É fundamental reconhecer que a condição não é apenas uma resposta emocional aos eventos climáticos, mas um reflexo do impacto do estresse ambiental nas pessoas. Profissionais de saúde mental devem estar atentos a essa realidade, ajudando indivíduos a lidar com o medo, a incerteza e a sensação de impotência que a crise climática provoca.
Ações coletivas para o cuidado da saúde mental, alinhadas ao enfrentamento das mudanças climáticas, são essenciais para mitigar os efeitos desse sofrimento crescente.
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