A manutenção diária de hábitos de higiene bucal é uma medida essencial para a prevenção de doenças graves, inclusive o câncer. Para além de problemas como acúmulo de placa bacteriana e cáries, o que os estudos recentes têm demonstrado são riscos decorrentes da negligência com a saúde da boca, e é fundamental que estejamos atentos a esses alertas.
Recentemente, uma pesquisa publicada na renomada revista JAMA Oncology chamou atenção ao revelar que a falta de higiene bucal, especialmente no período da manhã, pode elevar em 50% as chances de desenvolver câncer de boca. Os dados, oriundos da análise de quase 160 mil indivíduos, identificaram 13 tipos de bactérias associadas ao câncer em pessoas que não realizam a escovação e o uso do fio dental de forma regular.
Além disso, um aumento na pontuação de risco microbiano, baseada em 22 bactérias, mostrou uma associação preocupante com o aumento da probabilidade de surgimento de neoplasias.
Esses dados ligam o alerta: a higiene bucal não se resume à estética, mas é um componente fundamental da saúde integral do indivíduo. Quando não realizamos uma adequada escovação e o uso correto do fio dental, abrimos espaço para que resíduos alimentares se acumulem na cavidade bucal. Esse acúmulo favorece a proliferação de bactérias, que podem provocar inflamações e estimular a liberação de substâncias nocivas, como as nitrosaminas, reconhecidas por aumentar o risco de câncer.
Além da prevenção do câncer bucal, a negligência com a saúde oral está diretamente relacionada a outras condições que afetam a qualidade de vida e a saúde sistêmica. A doença periodontal, por exemplo, que se manifesta pelo acúmulo de placa bacteriana e inflamação das gengivas, é uma preocupação constante.
Dados do IBGE revelam que, no Brasil, 34 milhões de adultos perderam 13 ou mais dentes ao longo da vida, e 14 milhões convivem com a ausência total de dentição, consequências frequentemente atribuídas à doença periodontal. A periodontite pode causar impactos devastadores não apenas na saúde bucal, mas também em órgãos distantes, como o coração, onde o risco de desenvolver endocardite se torna uma realidade preocupante.
É importante destacar que a migração de bactérias da cavidade bucal para a corrente sanguínea pode desencadear infecções em tecidos ou válvulas cardíacas, configurando um cenário de endocardite que, embora menos comum, reforça a necessidade de um cuidado rigoroso com a higiene oral.
Os pacientes com diabetes precisam redobrar os cuidados, pois seu organismo tem mais dificuldade em controlar o acúmulo de biofilme – o conjunto de bactérias que se adere aos dentes – tornando-os mais vulneráveis a complicações periodontais.

Para mudar esse quadro, a prevenção do câncer de boca deve ser encarada de forma multidisciplinar. Além de manter uma rotina adequada de higiene – com escovação, uso do fio dental e visitas periódicas ao dentista, é imprescindível adotar outros hábitos saudáveis, como evitar o tabagismo, moderar o consumo de bebidas alcoólicas e proteger os lábios da exposição excessiva aos raios ultravioleta, utilizando protetor labial. Essas medidas, combinadas, formam uma estratégia robusta na redução dos riscos de desenvolver doenças na cavidade bucal.
Ao promover a conscientização sobre esses hábitos, contribuímos não apenas para a prevenção do câncer de boca, mas também para a melhoria da qualidade de vida e a redução de complicações sistêmicas associadas à saúde oral.
Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.