Setembro é o mês da conscientização sobre a doação de órgãos e tecidos. No dia 27, celebramos o Dia Nacional da Doação de Órgãos, uma data que nos convida a transformar solidariedade em vida e esperança.
Quando falamos em transplante renal infantil, vale lembrar que não se trata de somente um procedimento médico. Para uma criança em diálise, o transplante significa retomar a infância: brincar, crescer, voltar à escola, fazer planos. É devolver a liberdade que a doença tenta limitar.
O Brasil possui um dos principais programas públicos de transplantes do mundo, sustentado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO) mostram que, em 2024, foram realizados mais de 30 mil transplantes, sendo 6.320 de rins. Ainda assim, mais de 42 mil pessoas aguardavam por um órgão. Entre elas, cerca de 725 eram crianças e adolescentes, e infelizmente 93 faleceram esperando, o que representa uma mortalidade de 13% na fila.
No caso das crianças, o cenário é ainda mais delicado. A morte encefálica em idade pediátrica é rara, o que reduz a disponibilidade de órgãos. Além disso, os rins de doadores falecidos com menos de 18 anos são priorizados para receptores pediátricos, mas é preciso considerar o tamanho do órgão em relação ao corpo da criança, o peso do doador e a compatibilidade imunológica.
Em 2023, foram realizados 291 transplantes renais pediátricos com doador falecido em todo o Brasil, um número que, embora relevante, ainda está longe de atender à demanda. E aqui está um dos maiores gargalos: a recusa familiar. Em 2024, 46% das possíveis doações não se concretizaram porque as famílias disseram “não”. No caso dos adultos, a vontade expressa em vida pode ajudar a guiar a decisão da família. Já nas crianças, isso não é possível, pois elas dependem exclusivamente da autorização dos responsáveis. É por isso que falar sobre esse tema é fundamental.
Cada “sim” transforma histórias. Um órgão doado significa não apenas salvar uma vida, mas devolver uma possibilidade de futuro. Como nefrologista pediátrica, vejo diariamente o impacto do transplante na vida de uma criança: não se trata unicamente de números clínicos, mas de esperança, de autonomia e da chance de sonhar.
Setembro nos lembra que doar é um ato de amor profundo, que atravessa a dor para gerar vida. Converse com sua família, manifeste sua vontade, reflita sobre o poder desse gesto. Para uma criança em espera, pode ser a diferença entre uma infância interrompida e uma história reescrita.
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