De Jânio a Jair: governos imprevisíveis e sem perspectivas prósperas

Jânio disse que usaria uma vassoura para varrer a corrupção; Jair diz que vai usá-la para varrer o comunismo

Publicado em 06/09/2019 às 19h40
Atualizado em 29/09/2019 às 14h47

Presidente da República, Jair Bolsonaro

Antonio Marcus Machado*

Não pode haver dúvida que os brasileiros torcem por um país mais próspero. Prosperidade que tem sido prometida há séculos, nunca alcançada. O brasileiro, de forma majoritária, acredita em Deus. Mas, também, acredita repetidamente nos homens que prometem governar seu país em direção a essa prosperidade. De certa forma, o mais recente promitente, lembra-me de Jânio Quadros.

Desde Dutra, os militares tentavam assumir o poder, algo que o populismo de Getúlio adiou, com sua volta triunfal e democrática como o “Pai dos Pobres”, em 1950. Essa paternidade outorgada não se concretizou, pois a Era Vargas findou com um tiro no coração. Não fosse a astúcia política de Juscelino ao trazer Jango para a sua candidatura, no cenário concorrencial o militarismo ascenderia.

Como a Constituição de 1946 não previa reeleição, restou a Juscelino deixar resplandecer a estrela de Jânio, para depois voltar pela vontade do povo. Para isso, ajudou a colocá-lo no projeto sucessório. E veio Jânio com um jeito de governar atabalhoado, tendo Jango como vice. O rito administrativo passou a conviver com os bilhetinhos, um ancestral dos WhatsApp de Jair hoje. Mudou a política externa de forma acentuada, concedendo a Che Guevara a maior comenda nacional e fumando charuto com Fidel.

Jair assim também faz, prestigiando, à seu modo, ângulos opostos de um no campo das relações internacionais. Com base em um choque de ordem moral e de costumes, Jânio proibiu o biquíni, considerado uma atentado ao pudor. Teatralmente, pois uma de suas habilidades era a oratória e o senso autoritário, proibiu as rinhas de galo. Corridas de cavalo só aos domingos e feriados.

Desfile com maiôs nos concursos de beleza, os famosos Catalina, foram abolidos também. O lança perfume foi alvo de suas proibições. Após sete meses no poder, renunciou. Acreditava piamente que voltaria carregado pelos braços do povo. Blefou, e perdeu. Pouco depois, após a experiência do parlamentarismo, veio o militarismo.

Jânio era sinônimo de imprevisibilidade; assim tem sido Jair. Seu discurso era de combate a corrupção e aos “maus” costumes; assim também o de Jair. Jânio tomava cafezinho na padaria da esquina; um populismo comum a Jair que faz “live” da barbearia. Jânio disse que usaria uma vassoura para varrer a corrupção; Jair diz que vai usá-la para varrer o comunismo.

Analogias à parte, o que se espera é que Jair seja, antes, um presidente da República. Um estadista. Com todo respeito ao Jair, o que espero é que traga a prosperidade tão desejada. Aquela mesma prosperidade que Jânio abdicou de por ela governar.

*O autor é economista e professor

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