Conciliar proteção e uso sustentável das florestas é possível

Apesar de a legislação ambiental do país ser uma das mais completas, a destruição histórica continua existindo

Publicado em 02/09/2019 às 19h48
Atualizado em 29/09/2019 às 15h46

Imagem registrada em 17 de agosto mostra um incêndio de grandes proporções no Tocantins

Luiz Fernando Schettino*

Nenhum impacto ambiental chama mais a atenção da sociedade que desmatamentos e queimadas de florestas nativas, independentemente das razões. Pois as florestas naturais abrigam enorme biodiversidade e contribuem para a proteção das águas e dos solos, para regulação do clima e para a retirada de carbono do ar, o que ajuda a amenizar os efeitos do aquecimento global, além de manter outros recursos naturais. E, ainda, seus serviços e produtos são utilizados para vários fins, tais como: indústrias farmacêuticas, de alimentação, de recreação, de produtos madeireiros, de turismo, entre outros.

Apesar de a legislação ambiental brasileira ser uma das mais completas do mundo e mostrar com clareza as formas de proteger e usar as florestas, a destruição histórica continua existindo. E derrubar florestas com uma alta biodiversidade é extremamente preocupante, pois além dos impactos diretos que os desmatamentos e queimadas causam, muitas espécies atingidas são desconhecidas da ciência, o que pode significar perdas irreparáveis para a humanidade.

Nessa perspectiva é que se vive um momento inimaginável: uma disputa para saber quem fala a verdade sobre o tamanho da destruição. Sabendo-se que há destruição e que não deveria haver.

E, ainda, governantes que demonstram descaso para com a proteção ambiental, trazendo desvantagens competitivas para o país e pressões internacionais, apesar de algumas serem oportunistas. Esta visão ocorre por se ignorar ou desconhecer a importância ambiental das florestas e por não se entender o grande potencial nos aspectos socioeconômicos que representam.

Se há grupos e setores que querem literalmente “botar fogo” para impactar o governo, isso precisa ser investigado, mas o que importa é que as florestas estão sendo destruídas, que é o que deve preocupar a todos e levar os governantes a agirem.

Pois, além das perdas da biodiversidade e de mudanças no regime de chuvas com inúmeras consequências, também o agronegócio, já com alerta ligado pelo excessivo uso de agrotóxicos, pode perder mercados por essa destruição das florestas. Deve ficar claro, porém, que de forma alguma, o Brasil abre mão da soberania da Amazônia.

Enfim, o bom senso precisa prevalecer, visto que, com o conhecimento hoje disponível, as florestas podem ser usadas racionalmente, via manejo florestal sustentável - técnica que permite o uso sustentável das florestas com a manutenção dos ecossistemas.

Essa maneira de utilizá-las sustentavelmente, sem destruí-las, permite atender o mercado madeireiro, gerando muitos empregos, renda e tributos; o que a sociedade brasileira muito precisa, neste momento de crise econômica. Ou seja, destruir as florestas, além de não ser um bom negócio, é demonstrar não entender que é um patrimônio valioso que o país possui e que a humanidade precisa que continue a existir.

*O autor é engenheiro florestal, doutor em Ciência Florestal e professor de Ecologia e Recursos Naturais da Ufes

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