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É especialista em finanças públicas e secretário-geral da Transparência Capixaba

Combater discurso autoritário é, sobretudo, equilibrar o jogo político

Argumentar que é contra a polarização para se abster de um posicionamento necessário é um equívoco. Como já disse Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto, a neutralidade favorece o opressor

  • Rodrigo M. Rossoni É especialista em finanças públicas e secretário-geral da Transparência Capixaba
Publicado em 09/06/2021 às 02h00
Eleição de 2018 foi marcada por polarização ideológica
Eleição de 2018 foi marcada por polarização ideológica. Crédito: Amarildo

Os posicionamentos públicos de celebridades, influenciadores digitais, profissionais da imprensa e de líderes políticos causam enorme impacto na sociedade, sobretudo com o alcance das redes sociais.

É inevitável, com o potencial da internet, que quase todos queiram expor um posicionamento no qual acreditam e que também criem a expectativa de um alinhamento a essa crença por parte de pessoas com grande alcance e apelo sedutor sobre seus seguidores. Exatamente por isso há cobranças e vigilância sobre esses pronunciamentos.

Posicionamentos políticos causam polêmicas e divisões. É natural que muitos evitem caminhar por esse terreno minado, que em geral representa perda de seguidores, desgastes e os tais “cancelamentos”, que são o resultado indesejado de quem vive da imagem e faz de tudo para preservá-la.

Porém vivemos um momento onde não é possível mais permanecer neutro. Estamos diante de um projeto político autoritário de extrema direita de raro precedente e que, diga-se de passagem, muitos dos que hoje reclamam o direito de permanecerem neutros ajudaram a eleger quando se manifestaram publicamente em apoio.

Argumentar que é contra a polarização do discurso político para se abster de um posicionamento necessário é um equívoco, pois quando um governo autoritário emerge, a polarização em um extremo já está em curso. Como já disse o judeu Elie Wiesel, sobrevivente do Holocausto,  a neutralidade favorece o opressor, nunca o oprimido, e o assédio encoraja o assediador, nunca o assediado.

Não se trata, como alguns tentam fazer acreditar, de apenas uma crise de representatividade, em que é difícil escolher entre dois projetos políticos populistas e autoritários que se opõem em espectros ideológicos antagônicos — o que nem sequer é uma comparação honesta, uma vez que não se encontra em nenhum posicionamento que se oponha ao atual governo um discurso antidemocrático tão radical e evidente. É a defesa da democracia, de questões humanitárias, ambientais, institucionais e sociais em detrimento da violência, do autoritarismo, do fundamentalismo sectário e do retrocesso.

As opiniões do presidente da República sobre diversas pautas, que vão desde os costumes dos indivíduos, passando por questões sensíveis aos direitos humanos como a tortura, a violência de gênero, raça e sexualidade, até chegar nas políticas públicas de enfrentamento à pandemia, com o uso de tratamentos ineficazes contra a doença que já dizimou milhões de pessoas ao redor do globo, arrastam uma multidão de pessoas dispostas a reproduzir conceitos superficiais sobre praticamente tudo. Combater esse discurso e se posicionar contra os ataques à democracia é, sobretudo, equilibrar o jogo político, onde será possível voltar a divergir exclusivamente no campo das ideias.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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