Combate a organizações criminosas requer enfrentamento diferenciado

O que funcionou no combate a uma organização criminosa pode não ser tão eficiente diante de outra

Publicado em 02/08/2019 às 20h00
Atualizado em 29/09/2019 às 23h44

Organização criminosa

Henrique Geaquinto Herkenhoff*

A formação das facções e outras organizações criminosas não é um fenômeno recente ou isolado. Desde os primórdios as pessoas percebiam que juntas eram mais fortes, que o esforço comum coordenado é mais produtivo e alcança metas impossíveis individualmente etc. O problema é que algumas alianças agem na contramão do interesse coletivo, desobedecem às regras gerais de convivência pacífica etc.

Por outro lado, muitos não gostam de trabalhar em equipe, porque implica conflitos de interesse e abrir mão de parcelas crescente de individualidade e liberdade, porque seus sentimentos podem ser feridos e a falta de coordenação pode trazer ineficiência, ao menos no início. De fato, os grupos em fases iniciais de formação não funcionam tão bem quanto os mais maduros.

Não faremos incursões mais profundas no desenvolvimento e nas dinâmicas de grupo, que são um campo para a Psicologia Social. Basta o leitor procurar na internet e ouvirá falar mais das teorias de Campo (Kurt Lewin), de Interação (Bales, Homens e Whyte), do Sistema (Newcomb, Miller e Stogdill), Sociométrica (Moreno), Psicanalítica (Freud), da influência social (Hebert Kelman) e Cognitiva (Piaget,Festinger, Heidar, Krech e Crutchfield).

Só o que nos atrevemos a dizer aqui é que a atuação criminosa individual e a coletiva têm pontos em comum, mas também suas peculiaridades, e que estas têm uma importância que não se pode exagerar no campo da criminologia e, portanto, na elaboração de políticas, estratégias, táticas e instrumentos de combate ao crime organizado. Por outro lado, ressaltamos que cada organização criminosa também tem suas particularidades, e o que funcionou no combate a uma delas pode não ser tão eficiente diante de outra.

O problema é o pouco esforço que fazemos nesse sentido quando enfrentamos esses fenômenos de violência organizada que surgiram no Brasil: as facções criminosas, as milícias e o novo cangaço; insistimos, infelizmente, em utilizar as mesmas armas empregadas contra o criminoso individual e as quadrilhas comuns.

Efetuar prisões sempre será importante, mas atingir não os seus integrantes individualmente não é eficaz devido à resiliência natural das organizações criminosas: a única maneira é enfrentá-las como um todo, por medidas que tornem o ambiente menos propício para as suas atividades e que realmente afetem a sua coesão e os seus sistemas internos de liderança, coordenação e composição de conflitos de interesse ou opinião. Apenas prender é como enxugar uma geleira.

*O autor é professor do mestrado em Segurança Pública da UVV

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