Com A Gazeta, leitores experimentarão sensações da transição midiática

A digitalidade se impôs e dela parece ser impossível abrir mão. Mas é possível, sim, escolher modos de viver o virtual

Publicado em 27/09/2019 às 19h34

Redação A Gazeta/CBN

José Antonio Martinuzzo*

Humanos são seres que repetem. Repetimos tanto que não enxergamos as redundâncias que demarcam e limitam o cotidiano. No entanto, a vida está sempre a quebrar rotinas, exigindo contínuos esforços adaptativos. Nossos hábitos midiáticos, por exemplo, vivem um terremoto desde a popularização da digitalidade.

Com a transformação digital, que leva esta quase centenária A Gazeta a encerrar com a presente edição a circulação impressa diária, leitores de jornal em papel experimentam as desafiantes sensações da transição midiática. Novas práticas estão sendo exigidas na emissão e na fruição informacionais.

O jornal impresso, a partir do século XIX, firmou-se como uma metáfora da vida neurótico-disciplinada que vigorava. Era possível ordenar o mundo a partir da primeira página e das editorias que fatiavam a vivência e organizavam a percepção existencial, numa experiência de coletividades massivas e “estáveis”.

Com os muros e as fronteiras da disciplina derretendo sob os sinais psicótico-perversos, intrusivo-pervasivos das emissões digitais, o mundo se liquefaz, o individualismo reina e a vida não se orienta mais por canais demarcados pelo hábito, mas pela conexão customizada, tão aleatória quanto inimaginável e diversificada em sua potência de infinito de bytes dinamizados em tempo real.

Para usar uma metáfora que remete a Gilles Deleuze, deslocávamo-nos em labirintos de pedra, seguros nos moldes, e fomos jogados no deserto, que não fixa rastros nem oferece rumos, exigindo modulações contínuas, na vastidão de um horizonte sem fim nem margem e cheio de miragem. Nada foi tão bom, nada será tão ruim, mas tudo tornou-se questão de tempestades ininterruptas de atualização.

A digitalidade se impôs e dela parece ser impossível abrir mão. Mas é possível, sim, escolher modos de viver o virtual. É dessa arte de criar uma nova vivência, outras rotinas, que trata a transformação digital. Nessa vertigem de sensações diversas, alentemo-nos com Guimarães Rosa: “O mais importante e bonito, do mundo, é isto: que as pessoas não estão sempre iguais, ainda não foram terminadas – mas que elas vão sempre mudando”.

Mover-se na vida não é nada simples, ainda mais em tempos digitalmente líquidos. Mas viver sempre foi e sempre será inventar a vida. Na contingência humana, só o passado existe – obrigado, A Gazeta! O futuro é pura invenção. Que seja, pois, autêntica inspiração. E na companhia essencial do Jornalismo, experimentado nas mais dóceis mídias de cada tempo – vida longa, A Gazeta!

*O autor é doutor em Comunicação, pós-doutor em Mídia e Cotidiano, professor e pesquisador na Ufes, jornalista e membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória

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