
Nylton Rodrigues*
Foi aprovado na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional o valor de R$ 3,7 bilhões oriundos do dinheiro público para financiamento de campanhas em 2020. Nas últimas eleições, o montante definido pelo Congresso Nacional para o fundo eleitoral foi de R$ 1,3 bilhão.
A grande questão que salta aos olhos é o completo distanciamento do interesse público. Qual interesse do eleitor estaria sendo respeitado? Está claro que nenhum salário será corrigido em 185%, nada sofrerá um aumento desta proporção. Dinheiro público não deveria ser utilizado para financiar partidos e campanhas políticas.
Se não há recursos para áreas prioritárias como educação e saúde, como justificar gastos com tanto dinheiro público em partidos e campanhas políticas? Quem ganha com isso? Quem perde com isso? E, principalmente, quem paga por isso? Flagrantemente é uma afronta aos anseios e necessidades do povo.
No Brasil, há mais de 30 partidos e poucas são as siglas que realmente discutem e divulgam uma ideologia integrada a um programa político claro e Congresso estruturado. Está nítida a necessidade de uma avaliação profunda da nossa legislação eleitoral, a começar pela redução do número de partidos. Entretanto, estão destinando exagerada verba pública para as campanhas políticas. Estão alimentando um monstro!
Temos que zelar pelo dinheiro público. Esse aumento é descabido, uma vez que a elevação do valor do fundo eleitoral irá reduzir os recursos que sustentam políticas públicas de primeira necessidade da população, que já estão precárias, como educação, saúde e segurança pública.
O Atlas da Violência 2019 mostrou taxa recorde de homicídios de jovens no Brasil nos últimos dez anos. Perdemos nossos jovens para o tráfico de drogas porque nossos representantes não buscam fazer o que é certo. Temos que priorizar a destinação do dinheiro público para a educação, fazer com que as escolas públicas ofereçam um ensino de qualidade nas comunidades mais vulneráveis. O dinheiro público deve beneficiar justamente essas pessoas, para isso serve o Estado.
Uma escola pública de baixa qualidade funciona como multiplicadora das desigualdades, enquanto a de boa qualidade funciona como propagadora de oportunidades. Devemos priorizar a busca dessas oportunidades para nossos jovens. Nossos políticos devem liderar pela força do exemplo. O bom exemplo arrasta e inspira.
Com a destinação de tanto dinheiro público para partidos políticos, as pessoas podem estar pensando: isso é a velha política! Na verdade, temos que parar com essa história de velha e nova política. O que existe é a boa e a má. Agora, só é possível fazer a boa quando houver o desapego do benefício próprio, quando os políticos enxergarem a política como uma missão e não como um negócio.
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*O autor é ex-secretário de Segurança Pública do ES e ex-comandante-geral da PM do ES
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