
Thiago Viola e Gabriel Marx*
Nos últimos dias, a Floresta Amazônica tem suscitado debates nos principais jornais do mundo, em razão das chamas devastadoras que vêm consumindo o maior bioma do país. É nesse cenário que o embate entre os presidentes brasileiro e francês tem ganhado peculiar protagonismo, com argumentos nacionalistas e humanistas. É imperioso, entretanto, que se faça uma análise das intenções por detrás de ambos os discursos.
Isso porque os países desenvolvidos, sobretudo os europeus (poluidores contumazes), ao longo dos séculos foram os principais responsáveis por subjugarem as nações da África e da América Latina, contribuindo para o quadro de depressão econômica e social dos países periféricos, e ainda hoje direcionam seus olhares à mineração, ao agronegócio, ao potencial hidrelétrico e aos recursos naturais da Floresta Amazônica.
Assim, é de extrema importância que os brasileiros tenham um olhar crítico para identificar interesses subjacentes aos discursos aparentemente bem-intencionados.
De outro lado, não se deve tomar posse de tais circunstâncias, a fim de encobrir os desmandos feitos na seara ambiental. A cruzada contra os cientistas e suas pesquisas, o enfraquecimento da fiscalização do Ibama, a condescendência com práticas insustentáveis do agronegócio e a criminalização de ONGs e de ambientalistas foram algumas atitudes que, metaforicamente, incendiaram a Amazônia.
O Inpe havia alertado sobre focos de incêndio na Terra Indígena Areões e o MPF avisou ao governo três dias antes do “dia do fogo”, mas nada foi feito.
Desde janeiro, o orçamento do Ibama para preservação e controle de incêndios florestais diminuiu 23%. Dados do Inpe denunciam um aumento de 82% dos incêndios ocorridos entre janeiro e agosto, em comparação ao mesmo período do ano anterior.
As boas intenções dos países do G7 ou a estratégia diplomática a ser adotada são discussões, no momento, secundárias. O Brasil precisa cuidar do seu patrimônio, compreendendo que a ciência não é inimiga, que políticas ambientais são essenciais e que é possível conjugar crescimento com sustentabilidade. Caso contrário, entre as narrativas políticas, arderemos todos nas chamas da demagogia e da desinformação.
Este vídeo pode te interessar
*Os autores são, respectivamente, presidente da Associação dos Procuradores Municipais de Vila Velha (Aprovve), advogado e mestrando em Direito; e advogado e mestrando em Direito
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.