Autor(a) Convidado(a)
É fundadora e presidente do Instituto Ponte

Ascensão social em uma geração é possível no Brasil

Segundo Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), demoram  nove gerações para um brasileiro, entre os 10% mais pobres, atingir a renda média nacional. Mas é possível acelerar esse elevador social

  • Bartira Almeida É fundadora e presidente do Instituto Ponte
Publicado em 18/08/2022 às 02h00

O Brasil é notoriamente um país de craques no futebol, berço de jogadores famosos que conquistaram o mundo como Kaká, Ronaldinho, Romário, Neymar, Rivaldo e tantos outros. Mas muitos ainda se perguntam por que, ao mesmo tempo, não temos nem sequer um vencedor de Prêmio Nobel entre nossos compatriotas. Será que, entre 215 milhões de habitantes, nascem apenas talentos para o futebol? Inteligências diferenciadas, associadas a saberes literários, científicos e outros, não têm vez entre as nossas crianças e adolescentes?

Nada disso! A resposta para essa equação, um tanto discrepante, é mais simples do que parece. No futebol temos olheiros nos campos de várzea, caça-talentos dedicados a fazer “peneiras” entre os novos jogadores, mesmo nas cidades mais distantes.

A educação também demanda “olheiros”. Afinal, como identificar prodígios entre os mais de 30 milhões de estudantes da rede pública? E eles existem e temos feito pouco, ou nada, por eles.

Há oito anos criamos uma ONG no Espírito Santo justamente com essa missão. Buscar talentos e dar-lhes oportunidades: de frequentar uma boa escola, de aprender outro idioma, de conhecer profissões, de conversar sobre projetos de vida e, principalmente, de transformar seus sonhos em realidade.

Hoje o Instituto Ponte (IP) tem mais de 200 alunos de quatro Estados brasileiros. Dentre os que já cursam universidades Brasil afora, 12% estudam Medicina e 38% estão nos campos de engenharia ou tecnologia, só para citar algumas áreas escolhidas por eles.

Recentemente, o trabalho da entidade ganhou novo propósito e nova dimensão. Mais que identificar e oportunizar talentos, o objetivo agora é promover a ascensão social dos jovens em uma geração. Uma meta arrojada e se contrapõe a uma estatística preocupante apontada pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE): são nove gerações para um descendente brasileiro, entre os 10% mais pobres, atingir a renda média nacional.

Nove gerações?? O elevador social certamente está quebrado no Brasil e o IP tem provado isso. Hoje temos filho de pescadores fazendo Engenharia Mecatrônica no conceituado Insper, em São Paulo; filha de auxiliar de TV cursando Medicina na Unicamp; filho de motorista de van escolar fazendo Engenharia na Intelli. Todos estão tendo a oportunidade de reverter e reescrever suas histórias e de suas famílias em apenas uma geração.

Apesar dos bons resultados, entretanto, ainda há muitos desafios. E um deles trago aqui para reflexão de cada leitor, pois para essa questão ainda não encontramos resposta. Por que muitos alunos chegam bem perto de sua conquista, mas não conseguem avançar? Tivemos aluna aprovada em Medicina pelo Prouni (PUC/MG) que desistiu e voltou para casa no primeiro dia; aluno que passou com bolsa integral na Intelli, com moradia e alimentação, e retornou dez dias depois.

Por que parece a tantos jovens talentosos que certas oportunidades não são para eles? Onde estamos errando, enquanto sociedade? E como reverter isso?

Muitos “Neymares, Kakás, Ronaldos” têm seus talentos desperdiçados todos os dias. Precisamos reconhecer esses prodígios e gerar impactos reais na sociedade. Uma tarefa que, definitivamente, não pode demorar nove gerações para ser resolvida.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

A Gazeta integra o

Saiba mais

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.

A Gazeta deseja enviar alertas sobre as principais notícias do Espirito Santo.