
Antônio Marcus Machado*
Algumas condições contemporâneas nos permitem tracejar um contorno da História do futuro brasileiro. Como fosse possível lançar um facho de luz norteador e nos levar a uma sociedade mais próspera. O idioma italiano tem uma palavra, “pentimento”, que é muito usada pelos estudiosos de pinturas clássicas para entender a produção dessas obras inestimáveis, financeiramente precificadas por uma lei de oferta e demanda.
Quando, cuidadosamente, analisam uma pintura Davinciana, eventualmente são surpreendidos com a evolução dos traços iniciais que foram desfeitos e substituídos por outros até a imagem final. Admirável como um pôr do sol. Certamente, alguns pentimentos ocorrerão na configuração de nosso futuro. Mas há um ambiente favorável para que possamos iniciar sua pintura.
A inflação está obediente à meta projetada, com mínima possibilidade de extrapolá-la. Mesmo o câmbio, altamente conectado com a conjuntura global, tende a se manter abaixo de R$ 4. A ausência de inflação indesejada traz conforto à taxa básica de juros (Selic), em viés de queda. Havendo recuperação da economia, a capacidade ociosa da indústria fará pouca pressão sobre novos investimentos em máquinas e equipamentos.
Também haverá pouca pressão por aumento de salários face ao elevado desemprego existente. Com a potencial aprovação da reforma da Previdência, as contas futuras do governo federal estarão em melhor situação fiscal, associada ao vetor decisório em direção às privatizações e concessões, que permitirão investimentos públicos mais essenciais.
Complementando esse ambiente, no campo da economia há duas condições fundamentais e latentes. Uma é a ampla vontade popular no sentido de que esse futuro se realize, com forte apoio às principais decisões governamentais. Decisões essas, registre-se, nem sempre populistas.
Outra condição é a vontade empresarial, que tem se manifestado e também apoiado essas mesmas decisões estratégicas. Com certeza, algumas são insustentáveis ou passíveis de melhoria, e algum pentimento as mudará, mas há uma significativa parte altamente pertinente e inadiável.
A combinação dessas duas vontades, a popular e a empresarial, promove uma inaudita renovação política, tanto no modelo da democracia representativa, quanto no perfil de quem dela queira fazer parte. Haja vista as últimas eleições. Nas relações internacionais, seu redirecionamento mais pragmático e menos ideológico poderá ser uma força adicional de suma importância. Mas, para que sejamos admirados, o respeito ao senso de pentimento é imprescindível.
Este vídeo pode te interessar
*O autor é economista e professor
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta.