
José Antonio Martinuzzo*
“O que informação consome é bastante óbvio: consome a atenção de seus destinatários. Assim, uma riqueza de informação cria uma pobreza de atenção.” Há quase 50 anos, o Nobel de Economia Herbert Simon fez esse diagnóstico profético da atualidade, tempo em que mergulhamos de vez na “economia da atenção”.
Nem é preciso estatísticas para constatar a vertigem informacional que convulsiona os dias e empobrece o intelecto. Navegamos alucinados num labirinto de mensagens. Tentamos multiplicar nossa capacidade de processar imagens e textos e posts... Exaurimo-nos sob a ditadura de dados. E, a despeito dessa intoxicação de conteúdos, terminamos cada jornada com a sensação de um abissal vazio mental.
Esse vácuo fantasmagórico que assombra mentalidades escravas do consumo midiático deriva mesmo do fato de que acessamos muito, exageradamente, mas não conseguimos prestar atenção em muita coisa. E como a atenção é precondição para a consciência e a memória, estamos fadados a uma amnésia insana e, aparentemente, paradoxal.
Nesse contexto, além de enfrentar todo o redesenho dos modos de produção e dos modelos de negócios, o jornalismo tem, a meu ver, um desafio bem claro: inserir-se de maneira relevante na cultura do século XXI, com um objetivo tão evidente quanto complexo, qual seja, a conquista da atenção das atuais e futuras gerações.
Em “Os Públicos Justificam os Meios” (Ed. Summus), discuto esse tema, apontando que o mapa da mina na garimpagem da atenção passa pela produção de “conteúdo de interesse” – mensagens densamente articuladas ao cotidiano dos possíveis interlocutores-alvo –, entregue no “endereço certo”, ou seja, nas plataformas que compõem a dieta de mídia dos públicos desejados.
Nessa batalha, o jornalismo de verdade tem a seu favor o insubstituível papel de narrador crítico da vida, comprometido com a verdade factual, constituindo-se como um “intermediário” ímpar na hora de, no interesse público e do público, separar o joio do trigo, iluminar escuridões, devassar segredos, apontar contradições, desvelar conexões, autopsiar discursos, enfim, vigiar toda forma de poder.
Mas, apesar de sua importância, o campo jornalístico não está imune aos desafios da maxicomunicação. Assim, nesta era de desvario midiático, agravada pelas fake news, o jornalismo tem um dever de casa crucial: circular onde seu público está e conversar com ele sobre seus interesses de forma envolvente. E isso não é pouca coisa em tempos de digitalidade ascendente, hiperinflação informacional e déficits crescentes de atenção.
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*O autor é doutor em Comunicação, pós-doutor em Mídia e Cotidiano, professor e pesquisador na Ufes, jornalista e membro da Escola Lacaniana de Psicanálise de Vitória
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