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É associada do Instituto Líderes do Amanhã e sócia da Private Construtora

A farsa do Natal de Maduro e a conta da liberdade

Ao antecipar a data comemorativa, presidente venezuelano reedita a política do espetáculo para disfarçar a crise e esconder a ausência de liberdade e reformas que poderiam devolver prosperidade ao país

  • Gabriela Moraes É associada do Instituto Líderes do Amanhã e sócia da Private Construtora
Publicado em 30/10/2025 às 11h30

Nicolás Maduro anunciou a antecipação do Natal na Venezuela para 1º de outubro de 2025. A medida, vendida como forma de “garantir o direito à felicidade”, revela o padrão de um regime que manipula símbolos para mascarar a crise. A economia venezuelana, segundo o FMI, encolheu mais de 75% desde 2013, configurando uma das piores depressões fora de tempos de guerra. A inflação, que já ultrapassou 10.000 % em 2019, ainda figura entre as mais altas do mundo, corroendo salários de poucos dólares por mês. Antecipar festas não muda a realidade de famílias que atravessam fronteiras em busca de alimentos e remédios.

O governo argumenta que a medida estimula o comércio e fortalece a cultura. Mas felicidade e prosperidade não surgem de decretos, e sim de liberdade. Dados do World Happiness Report 2023 mostram que países com maior liberdade econômica, como Finlândia, Dinamarca e Suíça, também lideram os índices de bem-estar. Já em termos de comércio, o Banco Mundial aponta que nações abertas ao mercado crescem, em média, 2,5 pontos percentuais a mais ao ano do que economias fechadas. Isso comprova que direitos simbólicos e estímulos artificiais não substituem reformas reais capazes de criar prosperidade cultural e econômica.

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, discursa no Supremo Tribunal de Justiça, em Caracas, Venezuela, em 31 de julho de 2024.
Medida foi anunciada pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, como forma de “garantir o direito à felicidade”. Crédito: Reuters/Leonardo Fernandez Viloria

A antecipação natalina é, na verdade, manobra de distração em meio a tensões externas e pressões internas. O regime já repetiu essa fórmula em 2020, durante a pandemia, e em 2024, em meio a protestos eleitorais. Sempre que encurralado, Maduro apela ao teatro da felicidade.

Ademais, o caminho real para prosperidade é outro. A Venezuela precisa restaurar o Estado de Direito, abrir espaço ao empreendedorismo e garantir segurança jurídica. O Banco Mundial aponta que países com maior liberdade econômica têm PIB per capita até cinco vezes superior à média dos de economia centralizada. Singapura, sem petróleo, prosperou; a Venezuela, com as maiores reservas do mundo, mergulhou em miséria por sufocar o mercado.

Mas ainda há um caminho possível. A reconstrução venezuelana passa por três pilares: institucional, econômico e humano. No plano institucional, é necessário restabelecer a independência dos poderes, garantir eleições livres e criar mecanismos de combate à corrupção. No campo econômico, o país deve reabrir-se ao investimento estrangeiro, reestruturar a PDVSA com gestão técnica e permitir a participação privada em setores estratégicos. Por fim, é urgente investir em educação, empreendedorismo local e fortalecimento das pequenas empresas, para que a riqueza volte a circular entre os cidadãos.

Essas reformas exigem tempo, mas também coragem política. A Venezuela ainda possui vantagens naturais como o petróleo, gás, lítio e um povo altamente instruído e que podem ser a base de um novo ciclo de prosperidade, se acompanhadas de liberdade econômica e previsibilidade jurídica. Em vez de decretar um Natal precoce, o país precisa decretar o fim do atraso, substituindo a ilusão por um projeto de reconstrução nacional baseado em responsabilidade e mérito.

Por fim, os estudos do Instituto Fraser demonstram que, a cada ponto de avanço no índice de liberdade econômica, o crescimento do PIB per capita pode aumentar até dois pontos percentuais. Portanto, a prosperidade não virá de decretos festivos, mas de uma sociedade livre para produzir, investir e colher os frutos do próprio trabalho.

Este texto não traduz, necessariamente, a opinião de A Gazeta.

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