
Henrique Geaquinto Herkenhoff e Luciana Souza Borges Herkenhoff*
Quanto mais soubermos sobre a dinâmica de grupos dentro das facções criminosas, mais instrumentos teremos para lidar com esse fenômeno. De fato, há nelas mecanismos internos de funcionamento, bem como processos de evolução em direção à maturidade, que podemos identificar através da inteligência e estudar com os instrumentos desenvolvidos pela Psicologia Social, disso resultando ferramentas que não necessariamente passariam pela repressão criminal.
Qualquer grupo evolui a partir de seu surgimento, especialmente os institucionais, entre eles as organizações criminosas. Elas não nascem prontas. As organizações do tipo mafioso na Itália, por exemplo, têm séculos de história e não foram sempre iguais.
Há vários modelos conceituais tentando estabelecer um certo padrão para essa evolução, mas é importante lembrar que são apenas descrições esquemáticas para facilitar a compreensão do fenômeno, não uma camisa de força.
Wheelan, por exemplo, propõe que os grupos passam por quatro fases: dependência/inclusão, contra-dependência/luta, confiança/estrutura e, na maturidade, trabalho/produtividade. O modelo de Tuckman é muito parecido, mas acrescenta uma fase final, já que nada é eterno: formação (forming), confrontação (storming), normatização (norming), atuação (performing) e dissolução/suspensão (adjourning).
É claro que desde o início existem conflitos, normas e resultados práticos; da mesma forma, há confrontos e alteração das normas na maturidade, mas podemos perceber o que marca cada fase, o que se destaca em cada momento no caminho.
Se olharmos com atenção, veremos que as facções criminosas brasileiras estão essencialmente na segunda fase desses modelos: os confrontos internos ainda são intensos e há pouco respeito espontâneo às suas normas internas, cuja imposição somente se consegue pela violência extrema; por outro lado, embora já exerçam com sucesso o tráfico e os crimes violentos, ou seja, ainda que tenham alguma “produtividade”, seus lucros ainda são absolutamente desproporcionais aos riscos de morte, prisão etc.
Isso pode ser uma boa ou uma má notícia, dependendo de você achar que o copo pela metade está meio cheio ou meio vazio. De fato, é muito mais fácil combater uma organização criminosa ainda imatura, matar a cobra no ninho. Em compensação, se as facções criminosas já provocam todo esse estrago enquanto estão engatinhando, imaginemos como o Brasil estará daqui a algumas décadas se não fizermos nada...
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*Os autores são professores do mestrado em Segurança Pública da UVV
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