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Memórias e emoções: os sentidos que só o café consegue despertar

Memórias e emoções: os sentidos que só o café consegue despertar

O aroma e os sabores da bebida conquistam e passam emoções únicas a quem o consome. Conheça histórias completamente diferentes, mas sempre de amor ao café

Publicado em 3 de setembro de 2023 às 01:10

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Aroma Capixaba
Um cafezinho coado no pano é capaz de despertar memórias afetivas na pessoas. (Divulgação)
Autor - Michelli Angeli
Michelli Angeli
Analista de Distribuição / [email protected]

Tanto para quem produz, quanto para quem consome, o café tem muitos significados: trabalho, renda, mudança de vida, reconhecimento, cultura e, claro, sabor. Além disso, a bebida também é memória, tempo e concentração, afinal quem nunca tomou aquele cafezinho para se manter acordado? Só que ele vai além e também carrega outro fator muito importante: história. Da família que se manteve do cultivo da planta, até aquele café com os amigos, o produto se mantém como item indispensável na mesa dos capixabas.

O aroma e os sabores da bebida conquistam, passam emoções únicas a quem o consome, e tem o poder de criar laços. Essa é parte da história do designer Rogério Cavalcante, de 30 anos, que afirma que o café trouxe união para a vida dele. O fato é que ele aprendeu a gostar de café por acaso e, se no início não deu muita atenção, se viu tão apaixonado que aprendeu a função de barista, profissional especializado em cafés de alta qualidade.

“Em 2013 eu era professor de Inglês e comecei a tomar algumas doses para ficar acordado. Depois de um tempo eu fui para a Austrália estudar música e lá a cultura do café é muito grande. Comecei a frequentar uma cafeteria e me apaixonei mesmo pela bebida depois de um erro do barista, que me entregou um café sem açúcar”, conta aos risos.

E foi enquanto ainda vivia na Austrália que Rogério afirma ter começado a aprender a função. Ao voltar para o Brasil, ele fez amizades devido à bebida e tinha até um grupo no WhatsApp para enviar métodos de preparo diferentes e combinar o que chamaram de “dia do café”.

“O café trouxe união para a minha vida. Eu e alguns amigos marcamos o dia do café para beber até não conseguir dormir (risos). Já na casa do meu pai, é sagrado o café da manhã e da tarde. E eu sempre tento convencer ele a tomar um café especial e sem açúcar. Então passo esse tempo com ele, preparo o café, ele prova, e é muito divertido”, diz.

Raiz no cafezal

Se na vida de Rogério o café chegou depois, para a empreendedora Sara Cometti Del Caro, de 39 anos, está presente desde sempre. Hoje vivendo em Vitória, ela tem raízes em Aracruz, Norte do Espírito Santo, onde a família cultivava café e, por isso, cresceu vendo desde a muda até o pó e brincando em meio à plantação.

“Minha história com o café é desde sempre e eu fui uma criança que gostava de café. Hoje é como se eu fechasse os olhos e revivesse os momentos com a minha família na hora do café da manhã, quando minha avó fazia bolo de fubá ou de milho. O café para mim é a primeira coisa do dia, sem ele não funciono, é meu pré-treino, meu energético”, conta.

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Consumido de diversas formas, o café ajuda quem o consome a manter o foco e ainda é capaz de trazer memórias a cada xícara . (Personare)

O pai de Sara já não mantém o cultivo do grão, mas a ligação com a bebida continua e sempre que visita os pais, tem o momento de descontração, afinal a mãe precisa preparar uma garrafa da bebida sem açúcar, do jeito que ela gosta.

“Eu gosto de experimentar cafés diferentes, cafés orgânicos e não tomo com açúcar, então minha mãe até faz uma garrafa separada quando eu vou visitar. Para mim, não gostar de café é como não gostar de chocolate. O café dá vida e acho que ele também cria memórias”, destaca.

Da planta à xícara

Quem melhor para falar das memórias que o café traz do que quem cultiva? A produtora rural Josane Bissoli, de 43 anos, trabalha com café na comunidade de Vila Pontões, em Afonso Cláudio, e se emociona ao falar com tanto carinho sobre o produto. Ela trabalha com café desde que se casou, há 25 anos. A produção é familiar, contando com a colaboração de quatro famílias de colonos.

“Eu até me arrepio de falar sobre isso. A minha sogra, que tem 82 anos, é muito sábia e diz que o café não era assunto e que hoje é. Tudo envolve o café e isso tem muito significado para nós. Além de procurar sempre ter um produto de qualidade, o cultivo mudou a vida de muitas famílias na nossa região e hoje somos muito felizes aqui”, ressalta.

Josane conta que sempre gostou do trabalho na lavoura e que cuida de 12 mil plantas sozinha há cerca de três anos, tendo criado o espaço para testar novas formas de cultivo e manejo. E não para por aí, já que a família tem um pequeno estabelecimento comercial onde são vendidos, além do pó de café, itens feitos artesanalmente por outros moradores da região, como rosquinhas, bolos e pães. “Se tem assunto, tem café fazendo essa conexão. É gente vindo conhecer nossa produção e que acaba também fazendo parte da nossa vida”, enfatiza.

Novas experiências

Outro ponto de vista sobre os momentos que o café pode proporcionar vem do barista e padeiro, Charles Bringer, de 49 anos. Barista é o profissional que prepara e serve café, trabalhando geralmente com produtos de alta qualidade. Pode ter a função de criar bebidas baseadas no café com algum complemento, e também entende das melhores combinações que vão fazer com que o prazer do momento seja único.

Aroma Capixaba
Charles Bringer, de 49 anos, é barista e cria receitas com cafés para amantes da bebida. (Arquivo pessoal)

Charles aprendeu a função para poder abrir a própria cafeteria com o sócio, Pablo Pietro. O local foi pensado para ser um ambiente aconchegante e com cheirinho de quitutes. E é nesse aspecto que entram os sentidos do café.

“Tudo começa no ambiente, que é bem bucólico, buscando parecer uma 'casa de vó', e os aromas de quando você passa o café e parece que está lá. A minha felicidade é quando eu faço o café e vejo as pessoas entendendo os sabores, que sempre penso para combinar com os acompanhamentos. São essas notas sensoriais que valorizam o café e o momento”, explica.

Se, enfim, Josana mantém o cultivo, Sara cresceu saboreando, Rogério aprendeu a gostar pela necessidade e Charles passou a prepará-lo para fazer as pessoas se sentirem bem, então pode-se tirar a conclusão de que o café é um elo. Uma teia que une o cafeicultor da agricultura familiar ao barista, que busca o melhor método de preparo para tornar o momento da degustação único e marcante, tal qual um café deve ser.

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