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Caso condenado, diplomata acusado de matar esposa no ES pode continuar solto

Caso condenado, diplomata acusado de matar esposa no ES pode continuar solto

Julgamento de Jesús Figón Leo vai acontecer no Dia Internacional da Mulher; por ser espanhol, o processo tem que se "espelhar" à legislação do país europeu

Publicado em 6 de março de 2023 às 18:59

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Walter Gomes Ferreira Júnior, advogado de Jesús Figón, diplomata espanhol acusado de assassinar sua esposa Rosemary Lopes no apartamento do casal em Jardim Camburi - Editoria: Polícia - Foto: Carlos Alberto Silva - Jornal Notícia Agora
O espanhol Jesús Figón Leo acusado de matar a esposa em Jardim Camburi, em Vitória. (Carlos Alberto Silva)
Júlia Afonso
Repórter / [email protected]

Marcado para acontecer no próximo dia 8 de março, o júri que vai definir se o diplomata espanhol Jesús Figón Leo é culpado ou não pela morte da esposa no bairro Jardim CamburiVitória, em maio de 2015, pode não ter um resultado como os outros. Isso porque, mesmo se condenado, o acusado pode continuar solto na Espanha, onde está morando desde 2017.

Quem explicou a situação foi o promotor de Justiça Leonardo Augusto Cezar, do júri de Vitória, em entrevista coletiva no Ministério Público do Espírito Santo (MPES) nesta segunda-feira (6).

Ele detalhou que existe na legislação internacional o princípio da reciprocidade, ou seja, se condenado, para que o acusado cumpra a pena na Espanha, a legislação brasileira tem que "espelhar" a espanhola. É necessário que todo o trâmite processual aqui no Brasil seja similar ao que aconteceria se fosse processado na Espanha.

"Uma coisa que causa preocupação ao MPES é porque há um documento nos autos que foi solicitada a intimação do espanhol a comparecer ao júri por videoconferência no sistema de justiça de lá, e há um parágrafo dizendo que no direito espanhol existe o direito fundamental de estar presente ao ato. E isso pode ser uma sinalização de que não esteja havendo a reciprocidade. Apesar de ser colocado um link à disposição, de ter sido feito todo um esforço pela Justiça e estado brasileiro para que ele fosse intimado e quisesse vir ao Brasil, não houve sinalização sobre isso, então não sei como isso pode ser interpretado pela legislação espanhola", declarou o promotor.

Caso condenado, diplomata acusado de matar esposa no ES pode continuar solto

E porque ele está na Espanha?

Logo depois que a morte aconteceu, o passaporte de Jesús foi confiscado. No entanto, segundo a legislação espanhola, todo cidadão tem direito a cumprir a pena no próprio país. Sendo assim, a sexta turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ) cassou a determinação que obrigava o diplomata a ficar no Brasil até o fim do processo e, desde então, ele vive fora do país.

"O STJ entendeu que, por não haver a renúncia do direito de cumprir a pena na Espanha, a restrição do passaporte seria uma antecipação dessa execução de pena, e por conta disso foi liberado o passaporte dele, ele voltou para a Espanha e não sinalizou que viria presencial ao júri", explicou o promotor Leonardo Augusto Cezar.

Como vai ser o júri

Sete jurados vão ouvir defesa e acusação para determinar se Jesús é culpado ou não. O júri vai acontecer de forma remota, por meio da plataforma Zoom, na 1ª Vara Criminal de Vitória.

A tese da defesa é que Rosemary Justino Lopes, de 56 anos, tenha cometido suicídio. O MPES questiona o argumento.

"O laudo mostra cinco facadas, e é praticamente impossível uma pessoa se suicidar (dessa forma), ainda mais no local das facadas", ressaltou o promotor. Rosemary foi atingida na região do peito, com uma facada na clavícula, uma no meio do esterno e três no tórax.

A reportagem de A Gazeta procurou a defesa de Jesús, mas não teve retorno. No último posicionamento deles, em 28 de fevereiro, os advogados informaram que não iriam se manifestar, pois estavam com as atenções voltadas para o julgamento. Destacaram ainda que o acusado cumprirá a pena na Espanha, em caso de condenação.

Relembre o crime

Ex-Conselheiro de Interior da Embaixada da Espanha no Brasil, Jesús Figón Leo é acusado de matar a esposa Rosemary Justino Lopes, de 56 anos, no apartamento do casal, em Jardim Camburi, Vitória.

Ele se apresentou espontaneamente à polícia e contou que matou a mulher após uma discussão durante a madrugada. Eles eram casados há quase trinta anos. Ele trabalhava na Embaixada da Espanha, em Brasília, mas passava alguns dias na residência que tinha com a capixaba em Vitória.

O delegado Adroaldo Lopes, responsável pelo caso na época, explicou que estava em casa quando recebeu a ligação de um delegado aposentado, amigo de Jesús, relatando o homicídio. Esse delegado aposentado recebeu um telefonema de Jesus em que ele contava que tinha matado a mulher.

De imediato, o delegado aposentado fez contato com um advogado e ambos foram até a casa de Jesús verificar o caso. “Chegando ao local, ele adentrou ao imóvel, verificou a presença de um corpo, e me telefonou, dizendo que estava indo para a delegacia”, disse Adroaldo.

À polícia, Jesús alegou que a esposa sofria de depressão e era alcoólatra. “No dia de ontem (ocasião da data do crime) ela teria feito excessiva ingestão de bebida alcoólica e durante a madrugada eles tiveram uma briga. Ela pegou uma faca para atacá-lo, ele tomou a faca e efetuou os golpes”, disse Adroaldo na época.

O casal teria discutido e Rosemary teria pegado uma faca para atingir o marido, momento em que ele tomou a faca e a acertou. O diplomata foi indiciado pelo crime de homicídio. A defesa tentava um último recurso e manifestava que Figón não havia matado a esposa, alegando que Rosemary Justino Lopes teria tirado a própria vida.

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