Publicado em 12 de março de 2024 às 08:00
A cafeína é um composto presente em alimentos como o café, o chá, o chocolate e as bebidas energéticas. E ela não é conhecida apenas pela sua capacidade de nos animar e nos manter em estado de alerta.>
A cafeína também é considerada aliada no âmbito do rendimento físico. Seu papel é fundamental no metabolismo energético e na oxidação de gorduras durante os exercícios.>
Para compreender o efeito da cafeína, precisamos primeiro entender como e de onde o corpo obtém energia.>
Resumidamente, as células das fibras musculares extraem a energia dos carboidratos, das gorduras e das proteínas. Elas transformam tudo em uma das "moedas de troca" que as células entendem: o ATP ou trifosfato de adenosina.>
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A densidade energética dos diferentes "combustíveis naturais" é diferente e as gorduras são as que fornecem mais energia por grama de peso.>
A tendência do corpo é procurar atingir a eficiência máxima. E, como somos capazes de armazenar maior quantidade de gorduras que de carboidratos, nosso corpo irá recorrer à gordura para obter energia, sempre que for possível.>
Mas existe um contratempo. Como as gorduras são moléculas grandes e complexas, sua decomposição para obter ATP é mais lenta do que com outros substratos.>
Por isso, quando precisamos de muita energia em um curto espaço de tempo, nosso organismo prioriza o uso dos carboidratos, que podem ser decompostos com mais rapidez para satisfazer as necessidades energéticas imediatas.>
Recorrer aos carboidratos apresenta uma limitação importante. Suas reservas no corpo são limitadas, especialmente na forma de glicogênio nos músculos e no fígado.>
Nós armazenamos energia suficiente para cerca de 60 minutos de trabalho de intensidade, se não tomarmos suplementos durante o exercício.>
Durante exercícios prolongados ou de alta intensidade, como em uma maratona ou no ciclismo, o rápido esgotamento das reservas pode levar à fadiga, redução do rendimento físico e mental e, às vezes, dores e esgotamento muscular.>
Além disso, como o cérebro precisa de glicose de forma constante, sua baixa disponibilidade pode afetar a concentração e a capacidade de tomar decisões fundamentais durante a atividade física.>
Além do seu conhecido efeito estimulante sobre o sistema nervoso central, a cafeína desperta interesse específico, devido à sua capacidade de influenciar positivamente a oxidação de gorduras durante o exercício.>
Isso significa que, sob o efeito da cafeína, nosso corpo tende a consumir mais ácidos graxos como fonte de energia, durante exercícios físicos de intensidade baixa e moderada. Isso reduz a taxa de oxidação dos carboidratos ou do glicogênio muscular e hepático.>
Este mecanismo é particularmente vantajoso em modalidades esportivas como o ciclismo, maratonas ou triatlos. Nelas, preservar glicogênio faz com que os atletas possam manter alto nível de rendimento por mais tempo.>
Também se descobriu que a cafeína contribui para preservar as reservas de glicogênio nos músculos, retardando o esgotamento e possibilitando melhora do rendimento.>
Depois de tomar uma xícara de café, a bebida de coloração escura inicia seu percurso através do estômago, para depois viajar pela corrente sanguínea até o cérebro. Lá, ela apresenta os efeitos que ajudam a nos manter em estado de alerta.>
Mas, além de nos manter despertos, o café tem efeitos fisiológicos relacionados ao uso de substratos energéticos durante o exercício físico.>
O primeiro efeito está relacionado à adrenalina, o hormônio que nos prepara para correr com mais rapidez ou saltar mais alto, em situações de "luta ou fuga".>
Sob o efeito da cafeína, a adrenalina ativa as enzimas chamadas lipases, que se encarregam de decompor as gorduras armazenadas (os triglicérides). Essas gorduras são transformadas em energia pronta para uso pelos músculos.>
Aumentando a concentração de ácidos graxos no sangue, cresce também o uso de gorduras como fonte de energia.>
Paralelamente, a cafeína age como bloqueador dos receptores celulares de adenosina, o que nos permite retardar a sensação de fadiga. Desta forma, conseguimos manter altos níveis de energia e nos exercitar por mais tempo antes de sentir cansaço.>
Como resultado, aproveitamos melhor as gorduras como fonte de combustível.>
Será que esse aumento da oxidação de gorduras causa perda de peso? Não necessariamente.>
Para produzir perda de peso, deve existir um déficit energético negativo – ou seja, a ingestão de calorias deve ser inferior ao consumo calórico. Além disso, estamos falando de um processo complexo que é afetado por muitas variáveis, como hormônios, fatores psicológicos e aspectos de estilo de vida.>
Diversos estudos confirmam que a cafeína aumenta a oxidação de gorduras em diferentes populações, tanto entre os homens quanto entre as mulheres.>
A dose eficaz normalmente começa em 3 mg/kg de peso do corpo, mas a reação pode variar conforme a sensibilidade individual de cada pessoa. Este fato destaca a importância de personalizar a dose para maximizar os benefícios metabólicos, sem comprometer o bem-estar em geral.>
Curiosamente, estudos recentes indicam que a ingestão de cafeína aumenta a oxidação de gorduras de manhã e à tarde, com apenas 3 mg/kg de peso corporal.>
Mas aqui vem a surpresa: estudos indicam que acreditar que ingerimos cafeína pode promover a oxidação de gorduras quase tanto quanto tomá-la de verdade.>
Este efeito placebo nos ensina algo fascinante, não só sobre o poder da cafeína, mas também sobre como nossas expectativas podem potencializar o rendimento físico.>
Tudo indica que a cafeína é uma ferramenta valiosa para quem procura otimizar a oxidação de gorduras e melhorar seu rendimento esportivo. Ela age não só como poderoso estimulante, mas também como promotor eficaz do uso de gorduras como fonte de energia.>
Mas, apesar dos seus benefícios no rendimento esportivo, é fundamental controlar com cuidado o consumo de cafeína. Em excesso, a substância pode desencadear efeitos colaterais, como nervosismo, insônia e aumento da pressão arterial.>
A chave do sucesso reside no equilíbrio e na personalização do consumo, sempre considerando as reações e necessidades individuais. Isso permite ajustar a dose para encontrar o equilíbrio perfeito e aumentar o rendimento físico, sem comprometer a saúde.>
E também é preciso lembrar que o consumo de cafeína é apenas uma ajuda extra. O fundamental deve ser o bom treinamento, além de comer alimentos saudáveis que colaborem com o nosso objetivo, descansar corretamente e manter a saúde mental.>
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