Publicado em 4 de janeiro de 2024 às 15:46
O cantor João Carreiro, 41, morreu na noite de quarta-feira ao passar por um procedimento para trocar uma válvula do coração. Em suas redes sociais, ele havia comunicado aos fãs e amigos que passaria pela cirurgia para "fechar um prolapso, um 'sopro' no coração.">
De acordo com especialistas ouvidos pela Folha, na idade do sertanejo, a troca de válvula costuma ser uma prática relativamente segura. O cantor fez parte da dupla "João Carreiro e Capataz", que embalou sucessos como "Bruto, Rústico e Sistemático". Depois de 2014, o artista seguiu carreira solo e bombou hits como "O Bagulho é Louco, Mano", canção com 18 milhões de visualizações no YouTube.>
João Carreiro apresentava o que os médicos chamam de "prolapso da valva mitral.">
"É uma condição que varia desde algo simples, no qual não é preciso fazer nada, até [um quadro] mais grave, que impõe a necessidade de uma troca valvar", diz o médico Heron Rached, doutor em cardiologia pela USP (Universidade de São Paulo).>
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O procedimento, quando indicado, substitui a válvula com problema por uma prótese. Os modelos utilizados nesses casos podem ser biológicos, feitos de pericárdio bovino, ou metálicos. Até o momento, não foi divulgado qual tipo de prótese o cantor teria colocado.>
Rached afirma que nesta cirurgia é feita uma abertura no tórax do paciente e, depois, outra no coração para retirada da válvula danificada e inserção da prótese.>
"Em geral, as cirurgias de troca valvar mitral são cirurgias tranquilas, mas infelizmente, esse desfecho não foi favorável a levou a morte do cantor", afirma Rached.>
A cardiologista Paola Smanio, líder médica da cardiologia do Fleury Medicina e Saúde e responsável pelo setor de medicina nuclear do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, diz que a literatura aponta um risco de até 3,5% em cirurgias de troca de prótese. O grupo de maior risco, entretanto, é o de pessoas com mais de 60 anos, com comorbidades associadas, que já tiveram AVC (acidente vascular cerebral) prévio ou são fumantes.>
"Indivíduos que já tenham arritmia cardíaca, fibrilação atrial, insuficiência cardíaca, ou seja, o coração não não funciona de forma adequada", afirma a médica.>
A probabilidade de danos aumenta se a cirurgia não é feita isoladamente, ou seja, associada a outro procedimento simultâneo (a troca de válvula e, por exemplo, uma desobstrução das artérias coronária), o que torna as intervenções emergenciais mais arriscadas que as planejadas.>
"Complicações dependem do procedimento escolhido. Na plastia, uma das que pode ocorrer é comprimir uma das coronárias, provocando o infarto. A prótese biológica [por sua vez] tem uma durabilidade menor, então o indivíduo tem que trocar ao longo da vida novamente. A mecânica geralmente dura mais, mas o indivíduo tem que tomar anticoagulante para o resto da vida, porque têm maior risco de embolia, de trombose", avalia Smanio.>
Os problemas mais comuns envolvem sangramento, tempo prolongado de circulação extracorpórea (que consiste no uso de uma bomba para fazer o sangue circular artificialmente pelo paciente durante a operação), presença de êmbolos no coração ou arritmias no pós-operatório. Há ainda o risco de uma infecção, inerente a toda intervenção cirúrgica.>
"Os riscos dependem muito das condições em que o coração estava", pontua Rached.>
A indicação de cirurgia depende do estado de saúde do paciente e precisa ser avaliada caso a caso. Em caso de procedimentos eletivos, feitos com agendamento prévio, exames e preparo, os responsáveis aplicam um índice chamado EuroScore, pelo qual é possível determinar o grau de risco da cirurgia.>
"Em caráter emergencial esse índice é calculado rapidamente e o risco cirúrgico é bem maior", diz Smanio.>
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