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Psicóloga explica como lidar com o luto após perder uma pessoa querida

Psicóloga explica como lidar com o luto após perder uma pessoa querida

A psicóloga Adriana Müller conta que os primeiros três meses são os mais doloridos, porque estão muito próximos da data. Para ela, a empatia é importante e ajuda a superar

Publicado em 17 de agosto de 2021 às 17:43

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Tarcísio Filho durante entrevista ao Fantástico (Globo) sobre a morte do pai, Tarcísio Meira
Tarcísio Filho durante entrevista ao Fantástico (Globo) sobre a morte do pai, Tarcísio Meira. (Reprodução/TV Globo)

A morte do ator Tarcísio Meira, aos 85 anos, vítima do coronavírus, causou comoção no país. Tarcísio e sua esposa, a atriz Glória Menezes, de 86 anos, deram entrada no hospital na sexta-feira (6). O artista chegou a ser intubado na UTI e a fazer hemodiálise contínua.

No "Fantástico" do último domingo, Tarcísio Filho prestou uma homenagem ao pai. Ele revelou ter sido o encarregado de levar a notícia da morte do pai para a mãe, Glória Menezes —que viria ter alta do hospital na manhã de segunda (16), após ficar 10 dias internada.

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Eu não sei dizer como tive força. Sabia que seria uma das missões mais dolorosas da minha vida, eu me preocupava com a reação dela. Mas ela não se nega a viver e chora quando precisa chorar. Ela não tem barreiras com os sentimentos

Tarcísio Filho
Ator
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Esposa, filho, familiares, amigos e fãs estão vivendo o luto da perda. E a morte do veterano trouxe o assunto de volta: como lidar com a perda de uma pessoa querida? Como lidar com o luto? A GAZETA conversou com a psicóloga Adriana Müller. Ela explica que lidar com o luto gera dor, angústia, medo, que são sentimentos paralisantes, mas, se promove essa reflexão sobre a vida.

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    A nossa cultura não nos ensina a lidar com a morte apesar dela ser uma certeza na vida da gente. Por isso, quando ela acontece, ficamos nesse estado sem saber como lidar. A gente fica muito triste, perdido, sem saber direito o que fazer, por que não fomos ensinados. Além disso, na nossa cultura, a morte é um tabu. A gente não conversa sobra a morte, sobre o morrer e sobre esse acontecimento que faz parte da vida.

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    Tem alguns caminhos que são importantes e válidos. Existe o caminho da gente realmente poder fazer os rituais de despedidas que são importantes. O velório e a missa, onde se presta homenagens à pessoa, talvez sejam os mais comuns na nossa cultura.

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    Existe outra forma para lidar com a morte de pessoas queridas que é o dizer "olá" novamente. A gente lembra da pessoa que morreu e faz com que as atitudes, os valores, o modo de viver e o legado dela, possam ser algo que a gente traz para a nossa vida em homagem. Na prática, por exemplo, acontece um almoço em homenagem aquela pessoa e tem uma comida que ela gostava, tornando-a presente na nossa vida. É o posicionamento diferente, porque não estamos nos despedindo, mas trazendo de volta aquela pessoa honrando o legado e o exemplo que ela deixou na vida da gente. Qualquer uma das duas formas de lidarmos com a morte são positivas desde que façam sentido para a pessoa que está vivendo o luto. Tradicionalmente, existe a ideia de que a gente não conversa sobre e pessoa que morreu e isso, às vezes, machuca muito os familiares e os amigos porque fica parecendo que o relacionamento morresse com a pessoa. É importante lembrarmos que vivemos um tempo longo com a pessoa. A morte não é o fim, só uma nova forma de lidar com história e o legado de vida daquela pessoa.

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    O ensinamento que a morte nos traz é sobre viver a nossa vida. Ela nos ensina a viver. É o momento que a gente toma consciência da nossa finitude. Por mais que a gente saiba que a finitude existe, a gente vive como se isso não fosse chegar, como se realmente tivesse muito tempo pela frente. Esse é o motivo pelo que as pessoas brigam, porque elas acham que o outro terá tempo para tomar consciência e ter uma reconciliação. Quando acontece, ela evidencia essa finitude e a gente automaticamente começa a pensar em como está vivendo a minha vida. A morte ensina muito sobre a vida, são reflexões importantes e significativas. As pessoas começam a questionar como estão cuidando dela e se pode, nesse momento, fazer alguns ajustes para viver da forma que acham que tem que ser vivida. Por exemplo, não deixando assuntos pendentes. Talvez a maior dor que a pessoa possa sentir na hora da morte de alguém querido é aquele abraço não dado ou o obrigado deixado para depois.

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    Com certeza. Talvez seja o sentimento que mais conforte a gente no momento dessa dor tão grande. Porque, claro que temos vínculos com as pessoas, e a morte traz a certeza do nunca mais. O que eu preciso é me agarrar e construir a partir do legado que fica. Quando olho para trás e vejo a história que foi construída junta, que ficou tudo tranquilo, não teve assunto pendente, e recebi tudo que ela podia me dar, isso na hora da dor é o melhor antídoto. São tês antídotos que amenizam essa dor que é grande:  a fé, ter a noção de que não existem assuntos pendentes, e a certeza que essa história deixou um legado para dar continuidade. 

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    O que a gente costuma dizer para as pessoas é que o processo de luto vai durar um ano, porque será o primeiro ano sem aquela pessoa. O primeiro aniversário, Dia dos Pais, Natal sem a pessoa. Durante esse primeiro ano, essas datas significativas vão evidenciar, só que quanto mais próximo da data da morte, maior a dor. A gente vai aprendendo a lidar com essa dor entendendo que a pessoa não está mais presente fisicamente e a fé ajuda a amenizar um pouco essa dor. Em outras pessoas, como as ateias, elas conseguem entender que existe um legado e uma história para dar continuidade. E é isso que vai transformando a dor em saudade. 

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A psicóloga Adriana Müller no Encontro do Saber
A psicóloga Adriana Müller fala sobre o moemnto do luto. (Monica Zorzanelli)
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A medida que o tempo passa, ele ensina que lugar a pessoa vai ocupar na vida e como transformar esse relacionamento para que ele continue sendo significativo. Fica uma saudade

Adriana Müller
Psicóloga
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    Os primeiros três meses são os mais doloridos, porque estão muito próximos da data. A medida que a gente vai entrando no primeiro mês e meio é muito comum acontecer a dor e as pessoas precisam ficar tranquilas. Um mês depois, a nossa vida já voltou ao normal. Isso, por um lado, ajuda porque a gente começa a ter que focar nossa atenção com outras coisas que não somente a perda. Por outro lado, de vez em quando, a saudade virá forte e com dor. Está tranquilo lembrar da pessoa de uma hora para outra. Nessa fase inicial não tem problema.

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    A gente começa a se preocupar quando já passou seis meses e a pessoa ainda está naquela dor enorme do início. É uma dor que vai amenizando e que, de vez em quando, pode aparecer. Mas cada vez com menos frequência. Se isso acontecer (da dor enorme se perpetuar) já começa a procurar ajuda para conseguir administrar. Gosto de dar três meses para que as pessoas entendam como a vida vai funcionar. Se não conseguir retomar a vida, encontrar sentido nas coisas que faz, a sorrir, voltar a conectar com a vida, o ideal é buscar ajuda.

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    É muito importante a gente tentar reverter um pouco essa cultura do silêncio. Claro que a forma como a gente vai conversar será adequada a idade de cada criança. A gente vai falar que aquela pessoa morreu, a gente usa esse verbo. E dependendo da forma que a gente significa aquela morte, ela vai passar. As pessoas que são mais práticas talvez prefiram levar para uma visita no cemitério ou fazer um ritual em casa, mas as ações são para que a criança entenda que aquela dor vai passar e perceba esse processo acontecendo, que não seja mágico. Com os adolescentes, faça a mesma linha. Talvez eles façam perguntas e a gente vai respondendo com o nível de compreensão. Precisamos quebrar esse silêncio sobre a morte.

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    A rede de apoio é fundamental nesse momento porque, inicialmente, as pessoas ficam anestesiadas. E são muitas coisas que precisam ser feitas. Então, ela é fundamental. As conversas vão ser dosadas, mas precisamos ter cuidado. Como não somos treinados a falar sobre a morte, acaba que, às vezes, a gente fala coisas que mais machucam que aliviam. A frase "Foi melhor assim" devia ser anulada, porque não tem uma pessoa que está vivendo o luto  que considere que foi melhor assim. A gente tem que tomar muito cuidado com o que a gente diz e a forma que a gente oferece a nossa ajuda para que não sejamos invasivos.

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