Publicado em 27 de agosto de 2020 às 17:11
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta quinta (27) que preparou tropas a pedido do ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, mas que as forças russas só serão empregadas "se necessário". >
Desde o dia 9 de agosto, quando bielorrussos saíram às ruas contra resultados eleitorais considerados fraudados, o país tem registrado diariamente manifestações em várias cidades, pedindo novas eleições.>
Considerados ilegais pelo governo, os protestos foram reprimidos com brutalidade nos primeiros três dias, e prisões voltaram a ocorrer desde segunda (24).>
"A Rússia parte do pressuposto de que todos os problemas na Belarus serão resolvidos pacificamente. Ainda não há necessidade do uso de forças russas na Belarus, espero que não haja, e Moscou e Minsk concordam com isso", disse ele em entrevista a jornalistas russos.>
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Segundo o presidente russo, a intervenção não acontecerá "até que a situação saia do controle, quando elementos extremistas começarem a cruzar fronteiras, incendiar carros, casas, bancos, tentarem tomar prédios administrativos e assim por diante''.>
Putin afirmou ainda que, em relação à crise política no país vizinho, a Rússia tem agido de forma "mais comedida e neutra do que muitos outros países, europeus e americanos".>
A União Europeia declarou não reconhecer a reeleição de Lukachenko e deve anunciar nesta semana sanções contra autoridades bielorrussas. Putin, por sua vez, cumprimentou o ditador da Belarus pela vitória na mesma noite da eleição.>
Embora se diga comedido, ele afirmou estar acompanhando de perto os acontecimentos. "Este é um país muito próximo, talvez o mais próximo de nós, etnicamente, lingusticamente e culturalmente. Temos milhões de laços familiares diretos. A cooperação mais próxima na indústria. Grande parte das importações agrícolas.">
Para analistas poloneses e alemães especializados em política e cultura russa e nas relações russas com países da ex-União Soviética, não está clara a estratégia de Putin em relação ao país vizinho.>
"A reação pública contida de Moscou aos apelos de ajuda de Lukachenko podem sugerir que o Kremlin está considerando os vários cenários na república vizinha, incluindo uma renúncia", escreveram os analistas do Centro de Estudos Orientais de Varsóvia Jadwiga Rogoza, Piotr Zochowski e Katarzyna Chawrylo.>
Para eles, a forma e a abrangência de qualquer apoio russo vão depender de quatro aspectos: 1) a evolução dos eventos na Belarus, 2) a avaliação dos ganhos e perdas no controle russo sobre o país vizinho, 3) a situação interna na própria Rússia e 4) a atitude do Ocidente.>
"A curto prazo, Moscou provavelmente tentará, tanto abertamente quanto secretamente, evitar o colapso descontrolado do regime bielorrusso, ao mesmo tempo em que sondará possíveis substitutos para Lukachenko", afirmam os especialistas em Rússia.>
A prioridade de Putin será obter garantias de que a integração dos dois países será estreitada e os interesses de longo prazo da Rússia, respeitados. Ao mesmo tempo, o Kremlin quer deixar claro que não aceitará interferência ocidental nos assuntos bielorrussos, afirmam os analistas poloneses.>
A Belarus é estrategicamente importante para Putin em muitos níveis, começando por sua localização, entre a Rússia e a Europa Central. O Exército bielorrusso está intimamente integrado ao russo e depende da potência vizinha para garantir sua independência.>
Em termos econômicos, Belarus é subsidiada pela Rússia em energia e depende do país vizinho para obter receitas de exportação.>
Para os analistas do centro de estudos polonês, Putin não vê com bons olhos revoltas sociais de base: "Mesmo que o humor dos bielorrussos que protestam contra Lukachenko não seja antirrusso, o que invalida comparações com a Ucrânia, a Rússia prefere o status quo a uma vitória da revolução".>
Uma "vitória democrática" traria não só o risco de inflamar a oposição russa como seria interpretada como um fenômeno pró-Ocidente.>
Analistas do Conselho Alemão de Relações Exteriores (DGAP) veem quatro saídas possíveis para a Belarus.>
Na primeira, Lukachenko retoma o controle do país, mas de maneira instável, e novos distúrbios podem surgir com a crise econômica.>
Em um segundo cenário, o ditador anuncia uma transição política, com reforma constitucional e eleições em 2021, na qual o atual governo e a Rússia devem atuar com mão pesada, mas não se exclui também uma atuação ativa da União Europeia.>
Um terceiro cenário é o de uma escalada de violência, que propiciaria uma intervenção russa. Para os analistas poloneses, porém, embora não seja descartável, a intervenção é uma opção que Moscou prefere evitar, pois traria nova onda de sanções contra seu país.>
Além isso, Putin correria o risco de criar um sentimento anti-Rússia hoje inexistente na Belarus e de descontentar seu público interno, que vê com simpatia as manifestações bielorrussas.>
No último cenário previsto por András Rácz, Cristina Gherasimov e Milan Nic, do DGAP, Lukachenko encontraria uma desculpa para deixar o poder e novas eleições seriam realizadas, com a vitória do candidato mais leal à Rússia.>
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