Publicado em 3 de agosto de 2020 às 08:17
Os 27 partidos de oposição da Venezuela anunciaram, neste domingo (2), um boicote às eleições legislativas programadas para 6 de dezembro no país. >
Contrários ao regime do ditador Nicolás Maduro, as legendas publicaram um comunicado no site da Assembleia Nacional dizendo que o o pleito será manipulado pelo partido socialista no poder e que participar do processo eleitoral seria "colaborar com a estratégia da ditadura".>
"Não somos abstencionistas: não há abstenção quando o que se convoca não é uma eleição. Somos democratas e acreditamos na unidade nacional", diz o texto dos partidos.>
"Havendo esgotado todos os nossos esforços, nacional e internacionalmente, para que tenhamos um processo eleitoral competitivo que garanta respeito à vontade soberana do povo, as organizações políticas democráticas da Venezuela expressam ao povo venezuelano e à comunidade internacional que, por unanimidade, decidimos não participar da fraude eleitoral convocada pelo regime de Maduro.">
>
Os partidos também listaram uma série de condições para que as eleições sejam consideradas livres e democráticas.>
O conjunto de dez medidas inclui o restabelecimento do direito ao voto a venezuelanos que tenham saído do país, campanha eleitoral com acesso equitativo aos meios de comunicação públicos e privados e a formação de um Conselho Nacional Eleitoral (CNE) independente.>
O CNE é o órgão responsável por supervisionar as eleições na Venezuela. Em junho, o Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) nomeou cinco titulares e dez suplentes alinhados a Maduro para a liderança do Conselho.>
Para a oposição, a manobra "aborta a possibilidade de que os venezuelanos tenham um árbitro eleitoral independente e confiável".>
O boicote dos opositores - semelhante ao que aconteceu nas eleições presidenciais de 2018, quando Maduro foi reeleito - era esperado e já havia sido previamente anunciado após a série de intervenções do regime chavista no CNE.>
A decisão pode, porém, abrir caminho para uma perda do controle da oposição na Assembleia Nacional. Atualmente, políticos contrários ao regime ocupam 109 dos 167 assentos na sede do Legislativo.>
Apesar disso, o TSJ também interferiu na liderança dos quatro principais partidos de oposição no país, conhecidos coletivamente como G4. O grupo é formado pelas legendas Ação Democrática, Primeiro Justiça, Um Novo Tempo e Vontade Popular; este último, o partido de Juan Guaidó.>
Na ocasião, o gabinete de Guaidó classificou o TSJ como um "braço judicial da ditadura de Maduro" e acusou o regime de tentar "simular uma falsa oposição para sua próxima armadilha eleitoral".>
Neste domingo (2), o opositor também usou as redes sociais para conclamar os aliados a "derrotar o regime", usando a hashtag #UnidadContraElFraude.>
"Em unidade, rejeitamos a farsa. Agora devemos mobilizar a maioria que quer viver com dignidade", escreveu Guaidó. "Vamos lutar juntos para escolher o destino do nosso país. Ninguém aceita imposições de um regime moribundo.">
Mais de 50 países, incluindo Brasil e Estados Unidos, consideram Guaidó o líder legítimo da Venezuela desde janeiro de 2019, quando ele se proclamou presidente acusando Maduro de ter fraudado as eleições de 2018.>
Na ocasião, a oposição argumentou que o ditador e o restante da cúpula do Executivo não tinham legitimidade para comandar o país por causa das fraudes no pleito. Assim, pela linha sucessória, Guaidó (até então presidente da Assembleia) deveria assumir a cadeira de presidente da Venezuela de maneira interina, até que novas eleições livres fossem realizadas.>
Assim, a decisão de boicotar a eleição legislativa pode enfraquecer Guaidó, já que ele deve perder sua cadeira no Legislativo.>
Há pouco mais de dois meses, Guaidó já viveu uma disputa pelo posto de presidente da Assembleia Nacional, depois que o TSJ decidiu anular o título e declarar o deputado Luis Parra, dissidente da oposição e próximo ao chavismo, como responsável pelo Parlamento.>
Parra foi declarado eleito em janeiro, durante processo contestado, para ocupar o cargo.>
Na ocasião, Guaidó e seus apoiadores foram impedidos de entrar na Casa e acabaram indo ao auditório do jornal El Nacional, crítico ao regime, para realizar a sessão que definiria o chefe da Assembleia Nacional.>
Assim, na prática a Casa hoje tem dois presidentes: Parra (reconhecido pela Justiça e pelo regime) e Guaidó (reconhecido pela oposição e pela maioria dos deputados).>
Apesar do boicote às eleições anunciado neste domingo (2), o opositor tem enfrentado dificuldades em manter a oposição unida e, a despeito da crise humanitária do país, o regime de Maduro tem se fortalecido.>
Em maio, uma tentativa frustrada de invasão da Venezuela por mercenários ajudou a recrudescer o discurso do ditador contra a interferência externa no país.>
No contrato com o grupo mercenário, exibido pelo chefe da investida, o ex-militar das Forças Armadas dos EUA Jordan Goudreau, há uma suposta assinatura de Guaidó - ele nega que seja verdadeira.>
Maduro acusa o opositor e Goudreau de terem se encontrado na Casa Branca, residência oficial do presidente dos EUA, em fevereiro, para arquitetar o ataque marítimo com o objetivo de tirá-lo do poder na Venezuela.>
O presidente Donald Trump disse que o governo americano não estava por trás da operação e que, se estivesse, não confiaria em um grupo tão pequeno para tal missão.>
Mais recentemente, o líder americano minimizou a importância de seu apoio a Guaidó e disse que tê-lo reconhecido como presidente interino não era "muito significativo".>
O republicano disse ainda que consideraria possibilidades de diálogo com Maduro, mas depois recuou, e afirmou que só se encontraria com o venezuelano para discutir uma "saída pacífica do poder".>
5.Jan.19?>
Guaidó assume a Presidência da Assembleia Nacional>
10.jan.19?>
Nicolás Maduro toma posse para um novo mandato, mas resultado da eleição é contestado pela oposição e governos estrangeiros, que acusam o regime de fraude>
23.jan.19?>
Durante ato em Caracas, Guaidó faz juramento à Constituição e se declara presidente interino>
23.fev.19?>
Tentativa liderada pelo opositor de levar ajuda humanitária doada pelos EUA ao país fracassa>
5.jan.20?>
Em duas sessões contestadas, o governista Luis Parra e Guaidó são eleitos para a Presidência da Assembleia>
5.fev.20>
Donald Trump recebe o opositor com honras na Casa Branca>
26.mai.20>
Supremo da Venezuela anula votação que reelegeu Guaidó>
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rápido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem.
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta