O que é a Síndrome de Munchaüsen, condição da personagem de Jade Picon?

A síndrome leva o paciente a simular ou forçar sintomas de problemas de saúde em si mesmo. Essas pessoas costumam buscar atendimento médico e hospitalar com frequência

Jade Picon como Chiara em

Chiara, interpretada por Jade Picon, vai descobrir ter um transtorno raro, a síndrome de Munchaüsen. Crédito: Estevam Avellar/Globo

A novela Travessia, da TV Globo, vai falar sobre a síndrome de Munchaüsen, também conhecida como transtorno factício. Chiara, interpretada por Jade Picon, vai descobrir ter um transtorno raro, a síndrome de Munchaüsen, uma condição psicológica em que a pessoa simula sintomas ou força o aparecimento de doenças.

O médico psiquiatra Alexandre Valverde explica que a síndrome do transtorno factício é um problema psicológico/psiquiátrico de pessoas que simulam ou fingem um quadro mimetizando uma doença somática ou mesmo psiquiátrica para obter os benefício da atenção. "Elas produzem um quadro que pode falsear um exame de coleta de urina, que é um exemplo bastante típico. Ela coleta a urina, fura o dedo para pingar sangue dentro e fazer parecer que o exame está com sangue para criar um quadro de infecção urinária, tumor ou alguma lesão. A pessoa vai produzindo essa mentira e ela precisa sustentar a situação para convencer os profissionais de que está adoecida, a fim de conseguir a atenção".

 A Síndrome de Munchaüsen e muito diferente dos transtornos de hipocondria. "Na hipocondria, a pessoa tem a dúvida, a preocupação excessiva a qualquer alteração que ocorra no organismo dela e ela fica atribuindo aquilo a uma coisa mais grave. Já na síndrome de Munchaüsen ela não está sentindo nada e interpretando erroneamente a situação, ela produz aqueles sintomas. Existem casos de pessoas que simulam crises de falta de ar, que chegam a ser entubadas e que fazem traqueostomia, porque quem está ao redor achava que a pessoa ia morrer", explica Alexandre Valverde. 

Embora não sejam tão evidentes, são várias as possibilidade que estão por trás da síndrome. "Mas provavelmente há uma motivação de conseguir afeto e atenção. Muitas vezes, nos serviços de saúde, o indivíduo recebe a atenção e o cuidado que pode não ter recebido em casa ou quando criança. Há relatos também da motivação por uma necessidade de se sentir importante, de um senso de pertencimento", conta o psiquiatra Renato Silva. 

TRATAMENTO

Os portadores desse transtorno chegam a ingerir remédios ou sujeitam seus corpos a mutilações a fim de provocar sintomas físicos reais. "Os transtornos factícios podem provocar morbidade significativa ou até mesmo a mortalidade. Portanto, mesmo que as queixas apresentadas sejam falsificadas, as necessidades clínicas e psiquiátricas desses indivíduos devem ser levadas a sério", diz o médico Rafael Riva, da Aube Cuidados da Mente. 

Muitas vezes elas costumam buscar atendimento médico e hospitalar com frequência e, por isso, a condição também é chamada de 'vício hospitalar', 'vício policirúrgico' e 'síndrome do paciente profissional'. "O fator mais importante é um reconhecimento precoce do transtorno por parte do médico. Dessa forma, os profissionais podem prevenir inúmeros procedimentos dolorosos e potencialmente perigosos para esses pacientes", conta Riva. 

"Os parentes e as pessoas próximas não devem confrontar as alegações por parte do autor. E devem buscar e acompanhar o mais próximo possível o atendimento no médico especializado"

"Os parentes e as pessoas próximas não devem confrontar as alegações por parte do autor. E devem buscar e acompanhar o mais próximo possível o atendimento no médico especializado"

Rafael Riva

Os profissionais ressaltam que é muito difícil diagnosticar a pessoa com a síndrome. Geralmente quem acaba fazendo o diagnóstico são os médicos do pronto-socorro que estão muito atentos porque o paciente volta ao local várias vezes. "O diagnóstico precisa ser feito pelo médico que está sempre lá, porque se forem plantonistas diferentes as informações nunca serão passadas, ou por anotação no prontuário, assim o profissional consegue ver que a pessoa está sempre no pronto-socorro, com queixas muito diferentes, e exames que não coincidem com as queixas", diz o psiquiatra Alexandre Valverde. 

O psiquiatra Renato Silva explica que o tratamento para a condição é feito, principalmente, com psicoterapia. "Mas também é necessária a investigação da presença ou não de outros transtornos mentais no caso. Muitas vezes, o indivíduo recusa a psicoterapia ou mesmo o diagnóstico. Na terapia, busca-se trabalhar, por exemplo, as motivações que levam à simulação, juntamente com o contexto atual do indivíduo. Busca-se, também, minimizar os prejuízos causados à saúde por procedimentos, uso de medicações ou cirurgia em decorrência da síndrome de Munchaüsen".

Vale ressaltar que também existe a síndrome de Munchaüsen por procuração. O transtorno ocorre quando um indivíduo simula e produz sintomas em outra pessoa. As vítimas geralmente são crianças e idosos que estão sob os cuidados do paciente afetado pelo transtorno. "Nela, tem uma terceira pessoa envolvida. Isso pode acontecer comumente em uma relação de mãe e filho, ou pai e filho, onde o adulto gera um quadro que supõe um adoecimento na criança. É uma situação muitíssimo grave e que é mais rara de encontrar, mas que acontece", diz Alexandre Valverde. 

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