Publicado em 3 de maio de 2023 às 14:24
O consumo de alimentos ultra processados e a relação com o maior risco de aparecimento de câncer em 25 diferentes partes do corpo foi comprovado cientificamente pelo Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Universidade de São Paulo (USP). O estudo publicado em março na revista científica The Lancet Planetary Health também mostra que a substituição de 10% do consumo diário de ultra processados ou processados pela mesma quantidade de alimentos não processados (como frutas, verduras e legumes) pode reduzir o risco dessa doença. >
A oncologista Virgínia Altoé Sessa, da Unimed Vitória, explica que os alimentos industrializados contêm substâncias que aumentam os erros no DNA celular. “Essas substâncias fazem as células, durante o processo de replicação, desenvolverem lesões malignas e errarem no processo de multiplicação e divisão celular, algo muito parecido com o que o cigarro faz. Com isso, os embutidos, enlatados e ultra processados de maneira geral aumentam as chances de câncer. Assim, acaba surgindo o tumor”. Ela ainda acrescenta que outros vilões são os agrotóxicos usados no plantio de verduras e vegetais. >
Os estudos da pesquisa publicada pela USP acompanharam 521.324 indivíduos, de março de 1991 a julho de 2001, distribuídos em 23 centros de 10 países europeus: Alemanha, Dinamarca, França, Grécia, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido, Espanha e Suécia. Os cientistas dividiram os participantes em quatro grupos distintos sobre a média diária de consumo em cada categoria de alimento: no primeiro grupo, a dieta era composta por 77% de alimentos in natura e menos de 5% de alimentos ultra processados. No segundo e terceiro grupos, as proporções de alimentos in natura caíam e as de alimentos ultra processados aumentavam de tal forma que, no quarto grupo, a proporção de alimentos in natura era de 63% e mais de um quarto (25,3%) do consumo diário era de alimentos ultra processados. Do total de participantes, 450.111 foram incluídos na análise final e 47.573 tiveram algum diagnóstico de câncer e foram acompanhados até 2013. >
O novo estudo mostra que o consumo de alimentos ultraprocessados aumenta o risco de 25 tipos de câncer. São eles: cabeça e pescoço, esôfago (adenocarcinoma e esquamoso), estômago (dois tipos), cólon, reto, fígado, vesícula, pâncreas, pulmão, rins, bexiga, glioma (medula e cérebro), tireóide, mieloma múltiplo, leucemia, linfoma não-Hodgkin, melanoma, cervical, endometrial, ovário, próstata e mama.>
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Virgínia Altoé Sessa alerta que um dos principais tipos de câncer relacionados à alimentação é o de mama. “A maioria dos pacientes não sabe, mas o câncer de mama, próstata, intestino e de estômago tem grande relação com os alimentos consumidos. Além deles, vários tumores de intestino (cólon ascendente, colón transverso, cólon descendente e reto) são os principais diagnósticos associados à alimentação. Por isso é tão importante as pessoas se alimentarem adequadamente no intuito de prevenir essas doenças e muitas outras em um futuro próximo”.>
É recomendado que cada pessoa tenha um plano alimentar personalizado feito por um especialista, independentemente de ser um paciente saudável ou doente, porque o nutricionista faz uma avaliação calculando necessidades individuais baseadas na realidade da pessoa, ou seja, se é alguém com sobrepeso ou desnutrição, por exemplo. O plano alimentar deve respeitar as necessidades de cada um, que acompanha as escolhas pessoais, como o horário de trabalhar e se alimentar. >
A nutricionista Dalyla Formagine comenta que o ideal é manter a alimentação diária na maior parte do tempo. “Deve-se ter como base na alimentação, além de vegetais, verduras e frutas, o arroz, feijão, carne, raízes, ovos e azeite, que são fundamentais para o bom funcionamento do corpo". >
Outra dica é deixar alguns alimentos pré-prontos ou congelados para facilitar a rotina, garantindo que o ultra processado não seja a primeira escolha no momento de correria. >
Os alimentos ultraprocessados são ricos em gorduras ruins, aditivos químicos, corantes, aromatizantes e emulsificantes, isto é, esses produtos inflamam e intoxicam as células. Dessa forma, o metabolismo perde a eficiência e facilita o surgimento de novas doenças. >
“É importante evitar os embutidos, como lasanhas congeladas, batatas semiprontas congeladas, macarrão instantâneo, biscoitos recheados, refrigerante, sucos de caixinha e pacotinho. Evitando essas opções é possível tornar a alimentação menos inflamatória. Para as sobremesas e nos momentos em que despertar aquela vontade de consumir algo doce, é possível fazer sorvetes caseiros, mousse de frutas e bolos de banana ou maçã, que utilizam menos açúcares no preparo. Consumir uma sobremesa, às vezes, não é um problema. O problema é essa sobremesa fazer parte da rotina alimentar e estar presente em sua mesa todos os dias”, alerta a nutricionista. >
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