Publicado em 11 de abril de 2022 às 17:35
Lina Pereira entrou no "Big Brother Brasil" de peito aberto, disposta a desnudar a si mesma e toda a sua história diante do Brasil. E foi o que fez. Olhando em retrospectiva, hoje ela avalia que, durante mais de 80 dias no confinamento, mostrou um jogo pautado no diálogo, em que as relações eram sua fortaleza e, ao mesmo tempo, sua fragilidade. >
Os adversários apareceram em sua trajetória de maneiras diferentes: jogavam contra seu grupo, mas, em um dos momentos decisivos do confinamento, abriram mão de uma prova de resistência e consagraram a liderança da artista. Deixaram em suas mãos a difícil decisão de seguir votando naquele grupo ou fazer diferente diante de um gesto importante. >
Essas e outras escolhas no jogo trouxeram consequências a longo prazo: no último paredão, em que enfrentou Eliezer e Gustavo, Lina foi eliminada com 77,6% dos votos. No lugar de R$ 1,5 milhão, ela diz que levou para casa outro prêmio: "Entrei no 'BBB' como Linn da Quebrada. Uma Linda que brada, que berra, que borda, que burla, que erra, que acerta, que escuta. E dentro da casa tive a possibilidade de ser a Lina Pereira. Tive a possibilidade de me humanizar. Sinto que esse foi um aspecto muito importante. Reaprendi a me ouvi e a entender que precisava ser generosa comigo também", pontua. >
Na entrevista a seguir, logo após sair do reality show, Lina também fala sobre as amizades que fez no "BBB", expõe sua maneira de acreditar que nem tudo está perdido em uma competição e destaca momentos importantes que viveu na casa.>
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Participar do "BBB" foi uma das experiências mais malucas e intensas da minha vida, desde quando recebi o convite. Sou uma grande fã do "BBB", acompanho desde as primeiras edições. E há muito tempo pensava no quanto fazia falta ter a presença de uma pessoa trans no programa. Desde a participação da Ariadna, há dez anos, não havia alguém assim. Essa era a possibilidade de contar a minha história ali dentro. E mais do que qualquer outra coisa, de poder rever outras versões para além das questões relacionadas à sexualidade e gênero dentro da casa. No "BBB", a gente vive muitas emoções ao mesmo tempo. Entrei na casa com a sensação de que o jogo era uma coisa, muito por ter em mente as outras edições. Mas lá percebi o quanto cada edição é completamente diferente da outra.
Entrei achando que fosse me dar muito bem no jogo, que seria boa nas provas, iria ganhar liderança, anjo, e que com isso iria ter o poder de decisão no game. Mas vi que o jogo que fiz estava conectado às relações, era o jogo das relações. E nesse jogo das relações me vi fragilizada em alguns lugares, como no erro de um pronome em um contexto em que me via exposta, sem saber necessariamente como lidar porque, de certa forma, me sentia sozinha diante dessas questões. Isso me vulnerabilizava, já que não entendia como era a melhor maneira de agir. Sabia que os erros fazem parte da nossa trajetória e é importante encará-los para que a gente possa ir além deles. Lidava de uma forma leve e isso levava leveza para as outras pessoas diante de mim e dos erros que elas estavam cometendo, mas fazia com que carregasse um peso maior diante daquelas questões. A minha forma de atravessar o programa foi um pouco pedagógica em relação a tudo que carrego no meu corpo, à história que eu conto e ao que me levava ao programa naquele momento.
Senti um medo da rejeição, de ir ao paredão logo no início, e acho que isso vem um pouco de uma história anterior do "BBB" em que a Ariadna saiu na primeira semana. Queria ter a possibilidade de desfrutar do programa para contar a minha história com mais tempo. Sinto que nesse lugar eu venci porque consegui viver relações profundas. Nisso me surpreendi. Imaginava que iria criar laços fortes, mas não imaginava, por exemplo, que construiria uma relação como a que construí com a Jessilane.
Nós somos muito diferentes. Mas eu sempre acreditei que, em algum lugar, a diferença poderia nos unir, justamente por ouvir a Jessi, ouvir a Nat e entender o que nelas poderia me acrescentar naquela trajetória; entender onde, apesar de muito diferentes, a gente poderia encontrar pontos em comum. A nossa relação era o que nos fortalecia, mas a maneira como a gente lidava com nossos conflitos, que acabava indo para toda a casa, nos fragilizava.
Somos muito diferentes e nossos conflitos pessoais acabavam aparecendo na frente do jogo. Mesmo assim, a gente vencia muitas questões justamente porque tinha maneiras diferentes de lidar com o jogo e com as estratégias que a gente gostaria de propor. E uma coisa que achei muito bonita foi que a gente não precisou se anular pela outra pessoa. A forma como a Jessi encarava as decisões dela em relação ao posicionamento de grupo, a minha forma de pensar as estratégias para que a gente conseguisse sobreviver e avançar no programa e a maneira como a Natália lidava com essas estratégias no grupo eram muito diferentes.
Sinto que aprendi muito. Aprendi a jogar jogando. Tinha uma ideia que se mostrou completamente diferente, vivi intensamente todas as coisas dentro da casa: a Xepa, o Vip, as provas e as frustrações diante delas, por não ganhar e, consequentemente, não fazer parte de um grupo que tinha o poder de decisão. Ainda estou digerindo e entendendo o que significam todas essas informações. Entrei como Linn da Quebrada. Uma Linda que brada, que berra, que borda, que burla, que erra, que acerta, que escuta. E dentro da casa eu tive a possibilidade de ser a Lina Pereira. Tive a possibilidade de me humanizar. Eu sinto que esse foi um aspecto muito importante. Eu reaprendi a me ouvir e a entender que precisava ser generosa comigo também. Vinha sendo muito generosa com todas as pessoas ao meu redor, era preciso ser generosa comigo. Tinha momentos em que não sabia o que fazer! Vamos falar a verdade: fui fazer a prova de resistência e saí dez minutos antes do fim. Que palhaçada! (risos)
Acho que foi decisivo o que as pessoas esperavam que tivesse feito quando ganhei a liderança dessa forma. Acabou sendo um ponto que modificou o olhar sobre a minha trajetória, apesar de conversar com o Paulo André, Douglas Silva e Pedro Scooby sobre isso. Agradeci o gesto lindíssimo que eles tiveram, mas ao mesmo tempo me vi numa "saia injusta" de entender o que era necessário fazer, se devia assumir os conflitos que já tinha com PA e com DG naquele momento ou não. E não é que esqueci que tinha o Gustavo disponível para voto, não pensei nessa outra possibilidade porque aquele não era um conflito para mim naquele momento, então, ele não era uma opção. Mas hoje vejo que a indicação do PA modificou minha trajetória, de uma certa forma. Os meninos vêm se tornando cada vez mais fortes, e sinto que isso, somado a outras coisas que estou vendo aqui fora sobre como o jogo tem se desenhado, fez com que o público me tirasse do "BBB".
Foi um baque, não vou mentir. Quando a gente entendeu que foi um paredão falso e estive nesse paredão falso, isso fez com que questionasse a minha força dentro da casa. E não só isso, mas fomos formulando suposições e algumas certezas em relação aos meninos. O paredão falso acabou evidenciando os dois grupos que existiam naquele momento: eu, Jessi, Nat e Eli, que nos tornamos um grupo pela nossa situação; e o grupo dos meninos. Quando o Arthur saiu, trouxe a sensação de que nós também poderíamos continuar avançando no jogo, sermos fortes, como a Jessi mesmo citou quando indicou o Arthur. E vamos falar a verdade? Hoje penso que ela não deveria ter indicado o Arthur (risos). Foi uma jogada arriscada a que fizemos para entender nossa força no jogo. Comemoramos, nos jogamos na piscina e depois remoemos isso, pensando que o Brasil estava rindo da nossa cara pela comemoração. Não quero ver piscina mais! (risos) Mas, por tudo isso, quando o Arthur voltou foi um baque. Começamos a entender que ele estava muito forte fora da casa. E, ao mesmo tempo, entendemos que o que tivesse de acontecer iria acontecer, não adiantava a gente ficar se segurando ou arriscando menos por medo de jogar e de enfrentar esses embates. Senão, a gente deixaria de indicar as pessoas, enfrentar as questões, e seria melhor jogar o prêmio na mão do outro...
Hoje digo que sim. Não teria votado no PA! (risos) Mas, naquele momento, isso nem se passou pela minha cabeça. Parecia que aquela era a melhor opção para o jogo, enfrentar os embates, por mais que aquilo fosse difícil porque não era algo que queria fazer. Talvez, ouvindo um pouco aqui fora sobre o que as pessoas esperavam, pudesse ter sido um pouco mais "embativa" em relação aos erros que me atravessavam. Mas sinto que fiz isso da melhor maneira que podia para que eu também não ficasse excessivamente exposta e me violentasse mais uma vez, exigindo de mim, ali sozinha, uma força para questões que nenhuma outra pessoa entendia ou vivia na pele. Sinto que o modo como apresentei as minhas dores e os meus incômodos foi em um lugar de "deixa te explicar por que estou me sentindo assim". Fiz de uma maneira mais acolhedora do que "embativa".
Adivinha? (risos) Para a Jessilane, muito, muito e muito! Me apaixonei pela Jessi. Ela teve uma trajetória em que se transformou muito na casa, no decorrer do jogo. Ela é extremamente encantadora. Conhecer mais da história dela, ouvi-la falando sobre educação, sobre Biologia, sobre a ciência e ver o modo como ela trata a vida e como ela é empolgada com o jogo, como aquilo é um sonho, me encantou muito. É por isso que minha torcida com certeza vai para ela.
Não sei. Quero acreditar que sim, mais uma vez. Quero acreditar que temos força, sim. Aqui fora, com tudo que puder contribuir para que ela se fortaleça lá dentro, contribuirei. Nunca vou ter o jogo como dado porque acredito que esse jogo se encerra dentro da casa, mas a disputa de ideias, de como a gente constrói a narrativa, não. O "BBB" é um processo. A minha história não começa no "Big Brother Brasil" e ela não se encerra nele. O "BBB" é um trampolim onde conto essa história, e ela vai continuar. Por isso, a minha torcida continua sendo para a Jessi e para a Natália. Acredito que, mesmo aqui de fora, posso continuar torcendo por elas e acreditando que o jogo sempre pode mudar.
Quero fazer de tudo um pouco. Quero entender quais portas vão se abrir para mim, que oportunidades posso agarrar, qual será a melhor maneira de desfrutar disso tudo a longo prazo. A Anitta falou comigo, gente, então quem sabe não vem o feat? Já pensou? Estou aí praticamente no "sertransnejo" agora, então quem sabe um feat com a Naiara Azevedo também? (risos) Quero entender o que posso cantar, que histórias posso contar. Acho que todo mundo percebeu que sou muito apaixonada por conhecer o outro e a outra. A comunicação é não só uma ferramenta como uma arma, que é muito importante ser empunhada. Então tem a possibilidade de ter um programa, de entrevistar pessoas... Um outro sonho que tenho há um tempo é o de escrever um livro. Quero muito ter a possibilidade de contar histórias, inventar histórias, ficcionar a realidade. Contar e cantar histórias novas, que ainda não foram imaginadas. Quero um pouco de tudo isso! Tudo que me aparecer, vou olhar com bons olhos.
(Com informações da assessoria de imprensa da Rede Globo)>
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