Publicado em 26 de abril de 2025 às 08:46
Fernando Collor de Mello foi preso nesta sexta-feira (25) por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. A detenção do ex-presidente, por determinação do ministro do STF Alexandre de Moraes, consolida a derrocada de Collor, que foi um dos expoentes da política brasileira no período de redemocratização, e que contou com o apoio especial de Claudia Raia para popularizar sua imagem em todo o país, até ser alçado à presidência da República.
Collor veio de uma família influente e poderosa, mas teve a ajuda de Raia para vencer o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva na campanha presidencial de 1989. A atriz e o político se conheceram nos bastidores da peça "Gatão de Estimação", estrelada por Raia, quando estava em exibição em Maceió (AL).
Na época, Collor era candidato a deputado federal por Alagoas, e Raia uma atriz em ascensão, que fez questão de apoiar o novo amigo. Após a vitória nas urnas, Collor passou a considerar Claudia o seu "pé de coelho", ou seja, seu amuleto da sorte, segundo a própria artista revelou em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, em 1991.
Raia disse que achava Collor "um político interessante". "Eles [Collor e a então esposa, Rosane Malta] foram até o camarim me cumprimentar, e eu disse para ele: 'você vai ganhar como deputado federal'. Assim foi o início da nossa amizade. Ele ganhou, achou que eu era o pé de coelho dele, que eu tinha que estar do lado dele, e ficamos muito amigos".
Claudia se envolveu com afinco na campanha vitoriosa de Collor para presidente em 1989. A atriz foi um rosto e uma voz ativa na propaganda para derrotar Lula. Ela estrelou comerciais na TV em que pedia aos brasileiros para que fossem às urnas votar como ela, votar em Collor.
"Eu vou votar pela primeira vez para presidente como a maioria dos brasileiros. E você não vai perder essa oportunidade, né? Saia de casa como eu vou fazer de verde e amarelo, cheia de fé. Na cabine eleitoral pegue sua cédula igual a essa e vote certo, vote para ganhar, marcando para ganhar, 20, Collor. Vote como eu, vote Collor!", disse Claudia Raia em propaganda eleitoral pró-Collor em 1989.
Entusiasmo de Raia com presidência de Collor ruiu à medida em que a popularidade do político se esfacelou. O então presidente foi destituído do cargo ao ser envolvido em escândalos de corrupção e após confiscar a poupança dos brasileiros. Foi no governo Collor que os caras-pintadas saíram às ruas em prol de seu impeachment.
Raia admitiu que tinha fé que o então presidente "iria mudar o Brasil", mas não escondeu seu arrependimento e desapontamento em tê-lo apoiado. "Eu acreditei que Fernando Collor era o cara que iria mudar o Brasil. Eu e todo mundo, mas não foi assim", declarou a atriz à Rádio Cultura FM em 2021.
Atriz se afastou da política após o episódio de Collor. Ela passou a defender que "arte e política não caminham juntas", e afirmou que não apoiaria nem mesmo sua mãe -Odette Maria Raia, mãe da artista, faleceu em 2019.
"O que passei por aquela situação do Fernando Collor não quero passar nunca mais. Nem se minha mãe reencarnasse e se candidatasse [eu] faria campanha para ela", disse Claudia Raia à revista JP em 2022.
Relação de proximidade entre Claudia Raia e Fernando Collor suscitou rumores de um suposto romance entre os dois. Na época, a atriz tinha se separado de Alexandre Frota e circulava na imprensa a notícia de que ela e o político tinham um caso.
Atriz comentou o suposto romance, mas negou. "Diziam que eu transava com o Collor na despensa da Casa da Dinda", falou, referindo-se à residência da família do ex-presidente em Brasília.
Raia tinha acesso ao Palácio do Planalto na época em que Collor foi presidente. "[O motorista Eriberto França] ia à casa de uma amiga de Claudia Raia, pegava a atriz e seguia para o Palácio do Planalto. Uma vez, levou Claudia Raia do hotel Kubitschek até as imediações do Palácio do Buriti, sede do governo do Distrito Federal, onde encontrou com Dario César Corrêa, segurança pessoal de Collor. O PM alagoano ficou com o Opala que Eriberto França dirigia, deu-lhe o Verona em que estava e levou a atriz embora", escreveu o jornalista Mario Sergio Conti no livro "Notícias do Planalto".
Amizade entre Raia e Collor começou a ruir após ela, já arrependida, se recusar a ajudá-lo durante o processo de impeachment. No livro de memórias "Sempre Raia Um Novo Dia", a atriz contou que estava na Globo quando Collor ligou para pedir sua ajuda, mas ela negou.
Claudia Raia afirmou que pagou um preço alto por se aliar a Collor. "Tive meu teatro vazio. Paguei o preço por uma escolha errada, com uma pessoa errada".
O ex-presidente foi condenado pelo STF em 2023 por corrupção e lavagem de dinheiro. A defesa tentou questionar pontos da condenação, mas Alexandre de Moraes entendeu que era apenas uma estratégia para adiar o início da pena. Determinou, então, sua prisão imediata na noite desta quinta (24).
Propina de R$ 20 milhões. Collor foi condenado por ter recebido R$ 20 milhões em propina para garantir contratos da UTC Engenharia com a BR Distribuidora, subsidiária da Petrobras que ficou sob a influência dele de 2010 a 2014.
Moraes submeteu a decisão de prender Collor ao plenário virtual do STF. Sessão extraordinária começou as 11h desta sexta-feira (25) e já há quatro votos para manter a prisão. Cristiano Zanin se declarou impedido, como já havia feito em outras ocasiões.
Gilmar fez julgamento ser interrompido e levado ao plenário físico. Ele fez um pedido de destaque, o que leva o caso ao plenário físico, em sessão ainda a ser marcada. Enquanto isso não acontece, Collor segue preso.
Ministros podem antecipar seus posicionamentos se quiserem. O sistema eletrônico fica aberto mesmo com o pedido de destaque de Gilmar.
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