Publicado em 7 de agosto de 2024 às 08:22
Quem vê os peões na lida em novelas como "Renascer" tenta imaginar como é o cotidiano de quem trabalha com a terra. Carregar sacas de café no lombo, cuidar da horta, alimentar os animais e ainda fazer o serviço da casa -essa é a rotina do casal Diogo Henrique Galizan, 29, e Thiago de Abreu, 25.>
Juntos há sete anos, eles moram e trabalham há três em uma fazenda de café em Santana do Manhuaçu, em Minas Gerais. Foi mostrando seu dia a dia na roça com espontaneidade e bom humor que o casal conquistou 350 mil seguidores no Tiktok, 135 mil no Instagram e 315 mil no Kwai.>
"A gente trabalha junto na roça, cuida da nossa horta, da casa e dos animais", conta Thiago em entrevista à reportagem. Assim como nos vídeos, ele termina todas as frases com "Né, amor?".>
Desde o ano passado, o casal adquiriu mais uma função diária: a de gravar e postar vídeos para as redes sociais. "Sempre fazemos o vídeo da 'jantinha dos meninos'. Se não fizer, o pessoal cobra", contam. O cardápio do dia foi arroz, feijão, angu, miolo de porco e salada da horta que cultivam no quintal.>
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No cafezal, ganham cerca de R$ 80 por dia, a depender da função, além de moradia, água e luz. A fazenda é de porte médio e tem apenas três empregados: o casal e um irmão de Thiago, que foi quem os indicou no serviço.>
O apelido adotado por eles nas redes, Os Meninos, veio, aliás, do patrão. "Ele fala que nós é os menino dele [sic]. Nosso patrão é maravilhoso, ele nos aceita e nos apoia muito", conta Thiago, que até se emociona ao falar dos empregadores.>
Antes de conseguir emprego e moradia na fazenda, Diogo e Thiago chegaram a ser expulsos e agredidos por antigos senhorios, vítimas de homofobia. Não paravam em nenhuma casa. Até que, há três anos, o irmão de Thiago conseguiu a vaga para eles na fazenda.>
O sucesso dos Meninos começou há pouco mais de um ano, e da maneira mais improvável: com um hater. "Uma pessoa criticou e aí mil vieram nos apoiar", conta Thiago. "Aí a gente pensou: a gente não pode parar. Vamos continuar lutando pela nossa bandeira, porque do mesmo jeito que respeitamos os outros, queremos respeito. A gente só quer amar e ser feliz", simplifica.>
E bota feliz nisso. A maioria dos comentários nas redes é sobre como o alto astral dos Meninos é contagiante. Seja comendo marmita à sombra do cafezal, pegando pesado na enxada ou colhendo as couves da horta: gastar uns minutos no Tiktok dos Meninos é garantia de sair mais leve.>
"A gente se sente muito bem cuidando da natureza, das flores, dos animais", dizem os dois, que se divertem com os nomes que eles mesmos colocaram nos bichos: "Tem a Lupita, a Akira, a Shakira", enumeram, rindo.>
Em um dos vídeos, eles aparecem trabalhando em um terreno. "A plataforma em que a gente ganha dinheiro é essa aqui, não tem jogo, não tem tigrinho. É acordar cedo e pegar na enxada", ensinam.>
Mas viralizar na internet ajuda: além de serem monetizados no Kwai e no Tiktok, eles ganham mimos de seguidores. A maioria dos presentes são itens de cozinha e alimentos. "Coisas que a gente estava precisando, e assim vamos montando nossa casinha", comemora Thiago.>
O dia da dupla começa às 5h40. Cuidam dos animais e da horta e depois vão para a roça, onde trabalham até as 17h. Aos finais de semana, fazem churrasco com amigos e parentes ou frequentam as festas da região, como a Festa do Café, que ocorreu em julho. As famílias são bem próximas.>
Filho de agricultores, Thiago conta que estudou até o nono ano, mas sempre gostou de trabalhar na roça. "Tive uma família muito boa. Essa rotina aqui é a mesma que meus pais viveram e me criaram. É o legado que nós temos" diz ele, que atribui o sucesso à espontaneidade dele e do marido. "A gente mostra uma coisa que as pessoas têm vergonha de mostrar: a simplicidade", diz.>
Diogo se formou no EJA (educação de jovens e adultos) e chegou a começar uma faculdade de geografia, que precisou abandonar devido aos altos preços do aluguel na cidade. Hoje, o sonho do casal é ter seu próprio pedaço de terra. "Poder ter nossos pezinhos de café para a gente trabalhar, ter nossa horta e outros animais", diz.>
Quanto aos haters, eles que lutem. O casal, que já teve medo e escolheu ficar calado diante de ataques homofóbicos, hoje faz questão de se defender. "Não pode deixar passar em branco. A bandeira que a gente carrega, temos que defender. Eles têm a obrigação de nos respeitar", diz Thiago.>
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