Publicado em 12 de fevereiro de 2022 às 11:14
Aos poucos, o cinema parece que vai voltando ao normal. Um novo normal, entendamos, com muita Netflix dando as cartas e competindo com os produtores tradicionais. Mas Hollywood não corre o risco, este ano, de premiar como melhor filme uma produção modesta como "Nomadland" no ano passado.>
As 12 indicações de "Ataque dos Cães" são um sinal claro da importância que a produção para streaming já adquiriu. Só não entrou em melhor animação ou documentário porque não era mesmo viável. No mais, usou e abusou, se dando ao luxo até mesmo de ver indicados dois atores para melhor coadjuvante.>
Não quer dizer que ganhará, mas já demonstrou ter estima muito maior na Academia do que "Não Olhe para Cima", também apresentado ao mundo pela Netflix e que concorre a quatro prêmios. Uma vantagem óbvia de "Ataque" é ter direção de Jane Campion, uma mulher. Mas pode até isso pesar contra, mesmo com o prestígio da diretora --no ano passado Chloé Zhao levou a estatueta de melhor direção.>
Como de hábito, os negros seguem sub-representados. Denzel Washington concorre como melhor ator, mas é pouco. Não houve filmes de diretores negros e sobre negros que se sobressaíssem demais no ano passado. O faroeste "Vingança & Castigo", de Jeymes Samuel, é bem original, mas não comoveu a Academia.>
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Outra tendência que parece se consolidar é a de inserir filmes "internacionais" --isto é, falados em outra língua que não o inglês-- na categoria de melhor filme. O mesmo aconteceu na edição de 2020, quando o sul-coreano "Parasita" ganhou como melhor filme e Bong Joon-ho como melhor diretor.>
Este ano, o japonês "Drive My Car" entrou na lista, assim como seu diretor, Ryusuke Hamaguchi. "Drive My Car" foi severamente injustiçado em Cannes no ano passado, quando ficou apenas com o prêmio de melhor roteiro --a que concorre no Oscar também, diga-se de passagem. Seria uma bela ocasião para o Oscar passar uma rasteira no festival francês, que elegeu "Titane" para a Palma de Ouro.>
Nesse caso, Cannes ficaria com um filme de gênero --terror, no caso--, enquanto o Oscar daria um prêmio maior para uma produção dramática --e não do gênero "filme para o Oscar". De todo modo, não se pode esquecer que o setor "filme espetáculo" --de ficção científica aqui-- está fortemente representado por "Duna".>
Já a internacionalização, a se confirmar, seria uma real novidade no Oscar, a mostrar que Hollywood deixa de priorizar os produtos locais --em língua inglesa-- e se abre ao mundo. A contrapartida seria a repetição do que se deu em 2020, quando "Parasita" acumulou os prêmios de melhor filme e melhor filme internacional.>
A categoria está interessante, trazendo, entre outros, "A Felicidade das Pequenas Coisas", um filme do Butão (que é grudado na China, mas ainda não tem tradição cinematográfica internacional), mas a Europa tem melhores chances, caso "Drive My Car" não vença na categoria. Três chances --com o dinamarquês "Flee", o norueguês "A Pior Pessoa do Mundo" e o italiano "A Mão de Deus". Este último, dirigido por Paolo Sorrentino, também é, por sinal, distribuído pela Netflix.>
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